terça-feira, 16 de junho de 2009

DUAS MENINAS



ATRIZ

Que bom seria
se eu fosse atriz,
o meu quarto um camarim,
debaixo do espelho,
cigana ou rainha louca,
eu seria sempre outra
e tomaria chá de açucena
e pintaria as unhas de azul.

Recados do corpo e da alma, ed. FTD, 2003

Em 2002, quando vim morar em Saquarema, fui ao Colégio Gustavo Campos, perto da minha casa e me ofereci para trabalhar com leitura. Pedi alunos de 13,14 anos. Logo uma menina chamou a minha atenção: Manuela. Seus olhos brilhavam, ela gostava de falar, de participar. Um dia eu a encontrei no ponto do ônibus com sua mãe e a mãe me contou que voltava do posto de saúde onde foram buscar insulina, pois Manuela era diabética. Foi o início de uma longa amizade. Manuela andava sempre com sua irmã, Andréia, eram inseparáveis. Comecei a comprar livros para Manuela, a levá-la ao Salão do livro no M.A.M. Numa dessas idas pedi que falasse o poema atriz no meu encontro com os jovens. Manuela se apaixonou pelo poema e foi fazer teatro. Queria um camarim, pintar as unhas de azul. Manuela e Andréia se tornaram grandes leitoras. E fazem teatro.
Dia 27 , semana que vem, Manuela faz 20 anos. Aqueles primeiros encontros de leitura mudaram sua vida. Manuela quis mais. Hoje ela faz faculdade de pedagogia aqui em Saquarema. Andréia fará vestibular para informática. Manuela fala inglês, Andréia fala espanhol. Seus pais são caseiros e nunca puderam estudar. Se alguns livros não tivessem acendido a chama interior das duas meninas, talvez elas seguissem os passos dos pais.

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