segunda-feira, 15 de junho de 2009

POEMAS DE CÉU



CREPÚSCULO

Na hora em que o dia
não é mais dia,
em que a noite
não é noite ainda,
tudo é magia,
e o céu parece
veludo furta-cor
escorrendo das mãos vazias.

Poemas de Céu, ed. Paulinas,2009

Durante muitos anos Visconde de Mauá foi a minha casa. Em 1974 a família comprou um sítio e a minha poesia está impregnada dos seus vales , rios, neblinas, montanhas. Minha casa não tinha luz . Aprendi a enxergar no escuro.
Em 1980 quando publiquei meu primeiro livro, o Fardo de Carinho, eu morava em Mauá. Uma vez por semana eu contava histórias na Escola da Terra e foi uma experiência maravilhosa. A escola ficava no Vale da Santa Clara, numa casa redonda e os alunos tinham aula de circo, de horta, aprendiam a construir, tinham aula de música. Os pais ajudavam, cada um com sua habilidade. Até hoje, os que estudaram na Escola da Terra continuam amigos, uma espécie de família, há entre eles um elo inquebrantável.
Como no sítio não havia luz, eu passava horas , durante a noite, olhando o céu. Assim nasceu uma coletânea de poemas que publiquei em 1985, Lições de Astronomia, pela extinta editora Memórias Futuras. Era um livro todo azul, cheio de estrelinhas. A minha idéia era relacionar as coisas do céu com sentimentos. Uma vez, fui a Recife fazer um lançamento estranho: dentro de um supermercado. Pois bem, no meio de todo aquele movimento, uma mulher parou na frente da minha mesinha, apanhou o livro e abriu numa página qualquer. Muito emocionada ela me disse, você sabe o que a sua poesia faz com as pessoas? Se ela faz as pessoas se emocionarem dentro de um supermercado eu fico feliz! A editora Memórias Futuras fechou, o livro ficou esgotado e eu consegui reeditá-lo em 2004 pela ed. Miguilim , que também fechou. Agora, novamente consigo uma reedição com a ed. Paulinas. Ficou lindo o livro com as ilustrações da Mari Ines Piekas, os poemas ganharam muito, ficaram mais sonoros.
Agora o sítio tem luz mas a casa é iluminada de uma maneira tão natural que o céu continua maravilhosamente intenso. Não moro mais lá, mas sim, meu filho André com seu Babel Restaurante e a Dani Keiko, minha nora. Quando vou, me reencontro pela casa, há uma confusão de tempos verbais, o passado é presente e o futuro é presente também.

2 comentários:

  1. Roseana, conheci sua poesia quando estudava literatura infanto juvenil na faculdade, gosto muito de seus textos. Obrigado por escrever!
    Abraço,
    Onesimo

    ResponderExcluir
  2. Nossa, que lindo. Adorei conhecer mais sobre a autora de tão lindos textos que leio. Abç.

    ResponderExcluir