quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MULHERES PELA PAZ

Rivka, minha amiga iraniana israelense que acompanha todos os movimentos pela paz em Israel, contou para a Evelyn , minha irmã, que me contou:
Um grupo de mulheres israelenses e um grupo de mulheres palestinas, com problemas de excesso de peso, se juntaram para falar de seus problemas e tentativas de emagrecimento, com a ajuda de alguma ong, é claro. No começo elas não queriam se falar, mas depois, pouco a pouco, elas se deram conta de que seus problemas eram iguais e que elas eram iguais: apenas humanas.
Hoje leio na coluna do Merval Pereira : não há choque de civilizações mas sim culturas diferentes.
E penso: a paz pode acontecer no cotidiano . Os políticos não sabem fazer a paz no Oriente Médio. Se delegassem de verdade esta tarefa às mulheres e aos artistas, logo haveria um Estado Palestino, hortas coletivas, pães bilingues, orquestras onde todos tocam junto, crianças cantando junto , tudo em árabe e hebraico.

Estive na Casa da Leitura com 130 crianças de Duque de caxias e foi um encontro emocionante! As crianças eram tão maravilhosas, tão cheias de poesia, fiquei tão orgulhosa.

Estou em Teresópolis. Chove. Amo a montanha.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

DROGAS

Fiquei muito chocada com o assassinato de uma jovem por seu namorado , drogado, sábado, na Zona Sul do Rio. O sobrenome do rapaz é o mesmo da minha família paterna e me senti tão incômoda, difícil explicar. Afinal, sua mãe era argentina e também morreu por causa de drogas e não sei se tem a mesma origem da nossa família, não conhecemos nenhum Kligerman argentino .
As drogas são um flagelo, uma doença terrível em nosso tempo, sintoma do abandono e descaso com que o tema é tratado. Teríamos que ter uma campanha de educação e esclarecimento nas escolas, teríamos que começar a trabalhar agora com esportes e arte, desde os primeiros anos da escola. Um trabalho imenso . O que se faz a respeito? Vemos uma guerra diária, mortes e violência e a sensação que tenho é que esse não é o caminho. O rapaz que assassinou a namorada é também uma vítima. Que pena. Nem um oceano inteiro de lágrimas pode falar de um destino que não se cumpriu, da jovem que foi embora tão brutalmente.

domingo, 25 de outubro de 2009

CHAGALL E DELICADEZA

Dia 27 vou ao Museu de Belas Artes ver uma exposição de Marc Chagall. Amo Chagall, sua arte me emociona de uma maneira única. Chagall vive no céu, com ele tudo voa, objetos, bichos, pessoas, a cidade. Li um livro belíssimo de Bella Chagall, sua primeira mulher: Luzes Acesas, todo ilustrado pelo artista com bico de pena . No livro Bella narra sua infância em Vitebsk, na Rússia e nos conta seu primeiro encontro com Chagall e acompanhamos o amor do casal com o coração na beira do precipício. Bella vinha de uma família judia extremamente religiosa, Marc era um artista, um louco. Conseguiriam vencer as barreiras? Bella foi modelo do Chagall por muitos anos, linda, com sua cabeleira negra e quando morreu, tão precocemente, Chagall ficou sem pintar por muitos anos.

Hoje, na Revista de Domingo do jornal O GLOBO, Paulo Coelho publica em sua coluna um poema do meu livro Manual Da Delicadeza de A a Z. Obrigada, Paulo, pela delicadeza e generosidade.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

RECEITA DE PÃO

Hoje foi o nosso Café da Manhã Literário, cheio do professores e alunos, cheio de convidados. Foi lindo mas eu deixo a crônica para o Prof. Latuf... Em breve estará no site. Fiz bolos e pães recheados e foi unânime: todos me pediram para colocar no blog a receita do pão. Para isso viajo no tempo: aprendi a fazer pão com a Dona Maria, minha grande amiga de quase 90 anos, em Visconde de Mauá, quando morei lá na década de 70. D.Maria fazia muitos quilos de pão e vendia e dava para os amigos. A gente chegava lá na sua cozinha e ela abria o armário grande, antigo, pesado e tirava um pãozinho lá de dentro que era oferecido com uma xícara de café. Assim aprendi, olhando. Eu passava muitas horas na cozinha da D.Maria, pois ela contava coisas lindas e tinha uma sabedoria imensa. Ela fazia pão com muito amor e nenhuma medida, era tudo inventado a cada pão. Eu também faço tudo sem receita, portanto as medidas são todas aproximativas. De qualquer maneira acredito que pão a gente só aprende a fazer olhando, mas enfim, lá vai:

RECEITA DE PÃO

é coisa muito antiga
o ofício do pão
primeiro misture o fermento
com água morna e açúcar
e deixe crescer ao sol

depois numa vasilha
derrame a farinha e o sal
óleo de girassol manjericão

adicionado o fermento
vá dando o ponto com calma
água morna e farinha

mas o pão tem seus mistérios
na sua feitura há que entrar
um pouco da alma do que é etéreo

então estique a massa
enrole numa trança
e deixe que descanse
que o tempo faça a sua dança

asse em forno forte
até que o prefume do pão
se espalhe pela casa e pela vida

in Receitas de olhar, ed. FTD , 1997

Agora as quantidades e o recheio: para fermento molhado , um tabletinho para mais ou menos um quilo de farinha; para fermento seco um pacotinho em pó.
Mais ou menos uma xícara de óleo, um pouquinho de sal, uma xícara de queijo parmesão misturado na massa. O recheio pode ser muzzarella, cebolas refogadas no azeite com azeitonas pretas, presunto, etc...

O pão quente com azeite espanhol é o paraíso. Bendito seja meu amado Juan Arias que me introduziu no Reino dos Azeites.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

JUIZ DE FORA II

Voltei de Juiz de Fora ontem. Fui muito bem recebida, como sempre, por onde vou recebo uma torrente de amor.
Juiz de Fora cresceu demais, belas casas foram derrubadas e em seu lugar há uma cidade toda de concreto. Dez anos depois encontrei a cidade desfigurada. Que pena, aqueles casarões antigos, com tanta história... Refiz meus passos de 41 anos atrás, da Rua Halfeld até a Rua Santo Antonio, o edifício onde morei ainda está vivo. Refiz meus passos buscando a jovem que eu era, pois meu corpo lembrava do caminho...


Elvira Vigna começa a ilustrar meu novo livro Carteira de Identidade que sairá pela ed. Lê no ano que vem. Agora trabalho no livro dos 4 elementos, ainda sem título, já comprometido com a Editora Moderna, embora eu ainda nem tenha chegado na metade. Dá um pouco de medo; e se eu não conseguir?

Amanhã é o Café literário. hoje farei bolos e amanhã bem cedo farei os pães. Fico sempre um pouco ansiosa, mas é uma sensação boa. Depois eu conto.

domingo, 18 de outubro de 2009

JUIZ DE FORA

Amanhã irei para Juiz de Fora visitar alguns colégios com a minha editora Paulus. Juiz de Fora é mais do que um retrato em preto e branco: morei na cidade em 1969 quando casei , na Rua Santo Antonio e aí nasceu meu filho André. A cidade que conheci é muito diferente da atual. Era pequena e em minha lembrança , escura, triste, chuvosa. Na escola onde terminei o clássico, já grávida, tive uma amiga que me acolheu, a Cida, eu ia sempre tomar café em sua casa pois me sentia muito sozinha. Depois na volta atravessava a cidade quase toda caminhando enquanto escurecia e me sentia tão triste: toda a minha família e meus amigos ficaram no Rio. Afrânio, irmão da grande compositora Sueli Costa era nosso amigo e íamos sempre visitá-lo, a família era de músicos e eu me sentia excluida, em sua casa só se falava de música. Numa noite, em sua casa, vimos o homem descer na lua, eu com meu filho nos braços.
Em 1999 voltei a Juiz de Fora depois de tantos anos. Meu marido Juan Arias lançava um livro pela editora Vozes e Leornardo Boff e Paulo Coelho fariam a apresentação do livro com um debate. Eu abriria a apresentação lendo um poema. O teatro antigo e reformado estava lotado e havia uma multidão do lado de fora. Foi emocionante. Encontrei a cidade bela, luminosa, cheia de vida, tão diferente da cidade da minha memória. Será que as cidades refletem nosso estado de espírito?

sábado, 17 de outubro de 2009

DÀDIVA

A dádiva de ter nascido no Rio de Janeiro em 1950, cinco anos depois do fim da segunda guerra mundial, quando transformações imensas moviam o mundo. A dádiva de ter crescido numa cidade tranquila que em nada se assemelha ao Rio de hoje. A dádiva de ter passado dois verões em Paquetá de águas transparentes quando tinha sete anos. A dádiva de ir para a escola de bonde, de ter ouvido o primeiro compacto dos beatles, de acreditar que podia mudar o mundo. A dádiva de ter vivido em Visconde de Mauá na década de 70. A dádiva de ter plantado árvores que hoje estão imensas. Farei 59 anos dia 27 de dezembro e não entendo por que algumas pessoas se sentem constrangidas ao dizer a idade ou mesmo escondem a idade. Tenho tanto orgulho do que já vivi, fui e sou testemunha de um mundo em tão rápida transformação, é uma dádiva já ter vivido tanto.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

FELICIDADE

Juan Arias, meu marido, correspondente do jornal El País de Madrid ,desde que chegou ao Brasil no final de 1998, constata a vocação do brasileiro para a alegria e a felicidade. Talvez fruto da nossa mestiçagem, dessa mistura maravilhosa entre povos, o brasileiro sabe saborear os momentos , sabe sorrir, sabe abraçar o outro com carinho verdadeiro. Juan escreveu um artigo em seu jornal sobre a aptidão do brasileiro para ser feliz, às vezes com tão pouco. O artigo teve 8.000 leitores e esteve aberto para comentários. 50% dos comentários eram críticas ferozes ao artigo, dizendo que o que o brasileiro tem é uma vocação para resignar-se. Os outros 50% davam seu próprio testemunho de que sim, estiveram no Brasil e puderam ver e sentir um forte sentimento de felicidade. A felicidade e a alegria não estão vinculadas ao ganho material, embora os ganhos e os bens possam proporcionar felicidade. Mas se pode ser feliz com muito pouco e se pode ser infeliz tendo muito. O brasileiro sabe aproveitar as pequenas felicidades , já que as "grandes felicidades", como a compra de uma casa, o nascimento de um filho, um prêmio, acontecem poucas vezes na vida. Já as pequenas... basta olhar o mar, uma árvore, as montanhas, ouvir a voz amada, a voz de um amigo.

Ontem a Secretaria de Educação de Saquarema fez uma festa para os professores. Foi impressionante. No salão de um clube, no centro da cidade, o clima era anos 70, e todos estavam caracterizados. A decoração era linda, o D.J maravilhoso, e eram umas 600 pessoas dançando juntas, a Prefeita da cidade, o Procurador do Município, a Secretária de Educação, sem pompa nenhuma, se acabaram de dançar. A alegria era total. Todos felizes em se reencontrar, havia um clima maravilhoso de pertencimento.

Ontem pela manhã fui recebida na E.M Padre Cipriano Douma, em São Gonçalo. São Gonçalo é muito árida e faltam árvores , parques, falta beleza. Será que nenhum governante de São Gonçalo enxerga isso? Seria tão simples criar áreas verdes!
Durante todo o ano leram meus poemas e ontem fizeram uma festa para mim. As crianças recitaram, representaram, cantaram, dançaram. Estavam radiantes. Estavam felizes . Somos felizes quando criamos. São crianças de uma comunidade muito carente e a escola tem a responsabilidade imensa de fazer a diferença na vida das crianças. Toda escola deveria se perguntar: o que posso oferecer para que no futuro a vida dessas pessoas possa mudar?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MAREMOTO

Ontem, no final da tarde, ganhei um presente maravilhoso, pelas mãos da Maria Clara: um exemplar do livro MAREMOTO do Pablo Neruda. Não conhecia o livro e Maremoto é construído sobre os despojos do mar, o que ele deixa na areia quando recua, momentos antes da sua violência.
Maremoto me dá as belíssimas imagens do Neruda, imagens que reviram nossas entranhas:

CARACOLA

La caracola espera el viento
acostada en la luz del mar:
quiere una voz de color negro
que llene todas las distancias
como el piano del poderío,
como la bocina de Dios
para los textos escolares:
quierem que soplen su silencio:
hasta que el mar inmovilice
su amarga insistencia de plomo.

Então a poesia é isso? apenas um sopro no silêncio?

Conheci Neruda em 1974 quando abriguei uma chilena em minha casa. Entre seus poucos pertences quando fugiu do Chile trazia os 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Desde então seus versos ecoam dentro de mim com a força das imagens que nunca existiram antes, com a força dos maremotos .

terça-feira, 13 de outubro de 2009

E.M.HOMEM DE MELLO

Semana passada tive um encontro na Biblioteca do Sesc com alunos da E.M. Homem de Mello, levados pela mão da professora Rosângela, professora da Sala de Leitura e Contadora de Histórias. Também estava presente a Escola Oga Mitá. Foi muito emocionante: as crianças eram lindas e estavam muito motivadas. Mas um fato chamava a atenção: as crianças liam maravilhosamente bem! É tão raro que um aluno leia bem um texto de surpresa que fiquei radiante. A professora Rosângela me explicou que são alunos de realfabetização e ela trabalha muito com eles na Sala de Leitura. Vamos sonhar com o dia em que as crianças não precisem ser realfabetizadas mas sim bem alfabetizadas e que todos os alunos consigam ler bem um texto em voz alta. Professoras apaixonadas como a Rosângela, que irradiava alegria, fazem muita diferença. A paixão pelo que se faz contagia, é uma força avassaladora.
Quero agradecer a Ana Maria, diretora da Biblioteca do Sesc Tijuca pelo ambiente aconchegante que nos ofereceu para o encontro e por ter me recebido com tanto carinho.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

UMA ESCOLA QUE CANTA

Em Saquarema as Escolas Municipais são muito bonitas e bem cuidadas. Mas há uma escola, entre todas, que fica no lugar mais bonito do mundo! A E.M Castelo Branco, na frente da lagoa.
Sua diretora , Sandra Santana Alves, faz toda a diferença . Ela é a prova de que pessoas especiais podem mudar uma comunidade inteira. Há cinco anos dirigindo a escola, já criou uma orquestra de lata, um grupo de flauta doce e agora a escola vai cantar. Hoje é o primeiro ensaio do Coral Castelo Branco que será dirigido por Moisés dos Santos, maestro de Búzios, com grande experiência em dirigir corais. O sonho da Sandra: seu coral cantando nas escadarias da bela Igreja N.Senhora de Nazareth . São os sonhos que movem o mundo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

PEQUENAS NOTÍCIAS

1 - Amanhã estarei no SESC TIJUCA às 14hs para uma conversa com os leitores. Levo uma bolsa de livros e a conversa vai saindo de dentro da bolsa. Houve um tempo, na década de 90, em que viajei por todo o Brasil com o SESC, para as suas Feiras de Livros. Foi uma experiência fantástica.

2 - Dia 23 , sexta-feira, estarei realizando mais uma Roda de leitura aqui na minha casa junto com a Secretaria de Educação de Saquarema. Hoje, as escolas de Saquarema já estão totalmente envolvidas com a leitura e talvez a minha participação tenha ajudado.

3 - Dia 27, terça-feira, estarei na Casa da Leitura, em Laranjeiras, às 15hs, para uma conversa com os leitores.

4 - Descobrimos, eu e Juan Arias, meu marido, que o quiosque 18 , na Praia da Vila, aqui em Saquarema, agora pertence a dois espanhóis, dois irmãos. Um deles é casado com uma nicaraguense e tiveram uma filha linda, agora com cinco meses, uma filha saquaremense. O outro se casou com uma carioca. Os dois estão radiantes , de bem com a vida e hoje iremos provar a sua paella ...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

EM CASA

Chegar ao Brasil é muito impactante. A Europa é fria, é formal. Tenho sempre a impressão que os afetos não circulam. As pessoas são muito preocupadas com a aparência, com o que os outros vão pensar. Já na saída do Galeão a moça que recebia o dinheiro do estacionamento estava cantando e nos deu um sorriso lindo e nos desejou uma boa noite.
Chegar em Saquarema à noite é muito impactante. O silêncio, o perfume do mar, das flores, a umidade do ar que é como uma carícia na pele, um afago. A casa estava vazia , me disse Juan, Nana, minha gata, me olhava maravilhada, logo se aninhou em meus braços e Luna, a gata persa, solenemente me ignorou, ela sempre me despreza quando volto, como se dissesse: como ousa se ausentar?
Aqui estou, depois de vinte dias, na minha mesa de trabalho, olhando para as montanhas, o mar atrás de mim, fazendo outra vez contato com meus leitores.
Guga, meu filho, já me enviou um monte de fotos do Luis, meu neto. A saudade é imensa, tenho o seu corpo gravado no meu. Foi uma experiência única e maravilhosa, voltar a ser mãe de um bebê. Senti meu neto como se fosse meu filho. O tempo anda em círculos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

FABRIQUILLA

Hoje é o aniversário do Guga, meu filho. Comemoramos em alto estilo, o Luis, meu neto, nos presenteou com horas de sono. Descemos até o pueblo (Cenes de la Vega) e almoçamos num restaurante simpático, um banquete: com a minha taça de vinho de Granada ganhei um pratinho grátis de paella, depois comemos uma salada maravilhosa, com atum espanhol, bacalhau fresco, lula na brasa. Entao pegamos a estrada para Guejar Sierra e descemos até a beira do rio, chegamos num restaurante lindo que se chama FABRIQUILLA, uma antiga estaçao de trem e era como se estivessemos em Visconde de Mauá, todo o verde, o rio encachoeirado, o cheiro da mata, a umidade, me senti transportada, em casa.
Ontem fui ao mercado árabe de Granada. Impactante.
E amanha é meu último dia. Durmo em Madrid e dia 4 volto para Saquarema.