quarta-feira, 31 de março de 2010

OUTRAS DIMENSÕES

Com a máquina de fabricar o big-bang posta em funcionamento ontem, existe a possibilidade, dizem os cientistas, de se descobrir outra ou outras dimensões. Alucino. Que dimensões seriam? Mundos paralelos? Viagens no tempo? Pensar nisso me leva aos livros de ficção científica que li, poucos, mas um me acompanha desde que eu tinha uns 25 anos: Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. Num dos episódios astronautas da Terra desembarcam em Marte e simplesmente não estão em Marte mas cada um encontra a sua cidade natal, na infância, com pais e tios e todos os que já morreram. Cada um entra em sua casa da infância com seus seres ausentes e queridos, suas comidas prediletas. Mas era tudo uma fantasia, uma projeção de seus desejos, de suas mentes e cada um é assassinado de madrugada, enquanto dormia, pelos marcianos que adquiriram a forma das pessoas que cada um amava. De alguma maneira os marcianos fabricam uma outra dimensão.

Desembarcar por um dia na casa da nossa infância com nossos pais ainda jovens e toda a imensidão do tempo ainda pela frente... a máquina do big-bang me faz sonhar.

terça-feira, 30 de março de 2010

ANDRÉ

Hoje meu filho André faz anos. Nasceu em 1969 em Juiz de Fora. Eu tinha 18 anos e o mundo estava virando de cabeça para baixo. No Brasil respirávamos chumbo, mas a mulher rompia seu casulo, os estudantes gritavam por liberdade e o homem pisava na Lua.

Hoje André faz anos dando aula de cozinha na sua escola de cozinha em Resende. Ele tem um pé na terra e outro no céu. Por onde passa vai deixando um rastro de alegria. Tem sempre uma palavra maravilhosa para todos. Na cozinha faz mágica e também na vida.



Um dia, em 1973 dei um irmão de presente para o André, o Gustavo. Foi o André quem escolheu seu nome. De alguma maneira o Guga deve sua existência a ele, pois depois de um parto difícil eu não queria ter mais filhos. O Guga quando nasceu embaralhou as estrelas e fez um acorde. Sua respiração são notas musicais.



E agora chegou o Luis, filho do Guga. Já que o Guga só nasceu por um pedido do André, o Luis também veio porque um menino de 4 anos queria um irmão. Ele ri o tempo todo. Desde o nascimento do André até o Luis que longo caminho!



Que meus filhos saibam desejar apenas o que realmente importa.

segunda-feira, 29 de março de 2010

MENSAGENS

Todos os dias recebo mensagens comoventes dos meus leitores. É maravilhoso saber que a minha poesia toca as pessoas em seu afeto. Mas hoje recebi uma mensagem de um leitor querendo que eu interpretasse para ele o meu poema para um trabalho da escola, pois ele disse que não entendeu nada. Depois do leitor que me pede para interferir no gabarito de um concurso público começo a ficar preocupada. O autor além de escrever tem que interpretar os próprios poemas para o leitor?

Já tenho 15 pessoas inscritas para o almoço do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. A idéia é incentivar o professor a comprar um livro, fazer todo o movimento, ir até uma livraria virtual ou real, etc, etc. Estou ansiosa com o primeiro encontro onde discutiremos o livro O LEITOR de Bernhard Schlink. Escolhi o livro por vários motivos:
1- existe o filme e é belo, as pessoas poderão comparar as duas linguagens.
2- a escrita do livro é simples e essencial, seu autor é filósofo.
3- a trama é muito boa.
4- aborda o analfabetismo e suas terríveis consequencias para a vida humana.
5-aborda o mal estar de uma sociedade pós guerra.
6- fala de amor e obsessão.

Abri 25 vagas mas já fico muito feliz com 15 pessoas. A formação do leitor é um processo lento. Tenho esperança de que as quinze pessoas nunca mais deixem de comprar livros, afinal compramos tanta coisa e os livros de bolso são baratos, não há desculpas para não se ler. Para o professor falta tempo, eu sei, mas sempre se pode inventar dez minutos para a leitura.
Eu tenho tempo e leio 4 ou 5 livros de cada vez. Não há nada melhor no mundo do que habitar vários mundos ao mesmo tempo.

domingo, 28 de março de 2010

O SAPATEIRO E A BAGUETE



O SAPATEIRO

Sapatos de todos os tipos,
empilhados, usados, manchados,
na oficina do sapateiro.

Quantas calçadas andaram
esses sapatos,
quantas festas, quantos rumos,
e, sobretudo,
quantas encruzilhadas?

Indiferente a tantas histórias,
o sapateiro martela, cola,
bate sola o dia inteiro.

Então, cansado, fecha a porta
da oficina, atravessa a rua,
e vai pra casa com seu sapato
furado,
que santo de casa não faz milagre.

in Artes e Ofícios, ed. FTD, 1990


Ontem recebi uma mensagem de uma pessoa que fez um concurso público e uma das questões era a interpretação do meu poema O SAPATEIRO. A pergunta era se a oficina do sapateiro era calma ou agitada. Pela postura do sapateiro que parece cansado e indiferente, pela repetição das tarefas, ele respondeu que era calma e errou. Ele me pedia ajuda, pois se mudassem o gabarito o seu futuro também mudaria. Mas vejam bem, em nenhum momento eu digo se a oficina é quieta ou agitada! Falo apenas dos sapatos e de suas histórias. Não sei quanta gente entrava na sua oficina por dia. Pode ser que a pilha de sapatos significasse que ele era meticuloso e trabalhava devagar. Pode ser que realmente houvesse um grande entra e sai de gente , mas como saber? Eu não digo, isso não fica dito no poema. Preferiria que várias leituras fossem possíveis. Que pedissem um conto a partir do poema, um desenho, uma reflexão, a história de algum dos sapatos...

Mas leio uma notícia hoje que me deixou radiante: a baguete de um senegalês foi escolhida como a melhor de Paris. Djibril Bodian, nascido no Senegal, imigrante, faz o melhor pão francês da capital. No momento em que a Europa declara ódio aos imigrantes em vários países, em que o presidente francês quer preservar símbolos nacionais, vem um senegalês e com seu suor e amor africano e francês produz o manjar dos deuses e ganha o concurso competindo com padeiros nascidos em Paris. E viva o fermento da miscigenação.

sábado, 27 de março de 2010

CARTEIRA DE IDENTIDADE


PALAVRA EXATA

Para buscar a palavra
exata,
a palavra-mapa,
a que me nomeia,
velejo numa barca
abstrata, precária.
O vento me envolve
e sopra música
em meus ossos:
talvez eu seja
essa canção
invertebrada,
esse sopro.

O poema acima abre meu novo livro Carteira de Identidade da Ed. Lê com belíssimas ilustrações da Elvira Vigna. O livro chegou ontem e fiquei muito feliz com o resultado final . O livro chegou no dia em que meu neto Luis foi embora e isso me faz lembrar de que a vida é feita de chegadas e partidas. Quando tenho um livro novo nas mãos depois de tanta espera, a sensação é de estranhamento. Demoro a absorver o livro, fui eu mesma quem escreveu isso? É uma relação sensual, livro e autora, um misto de alegria , espanto, às vezes até de rejeição. A aproximação é sempre desconfiada e lenta.
Mas escrevo para que me leiam, poema na gaveta é poema morto, portanto o que conta mesmo é a reação dos leitores. Meu livro novo está na rua. Estou feliz.

quinta-feira, 25 de março de 2010

UMA NOVA LINHAGEM?

Leio hoje no O Globo uma notícia que me deixou completamente alvoroçada. Encontraram um osso de um dedo mindinho de uma criança numa caverna na Sibéria que pode ser de uma outra raça humana. Pode ser que cinco linhagens tenham convivido juntas, os neandertais, o homo erectus, o homem moderno, os pequenos homens da Ilha das Flores e esta nova raça recém descoberta. A grande pergunta é: por que apenas nós sobrevivemos? Por nossa capacidade de adaptação e de resolver problemas ou por nossa violência? Outra grande questão: houve uma mistura entre as raças? Nada foi provado ainda.

quarta-feira, 24 de março de 2010

TERESINA

Recebo um telefonema do poeta Salgado Maranhão com um convite para falar na Bienal de livros de Teresina. Conheço quase todas as capitais do nordeste, mas não Teresina. Tenho restringido muito as minhas viagens, mas o Salgado Maranhão me convenceu. Vou dia 30 de maio. Amo o nordeste e a sua gente. Acho que vou adorar.

Hoje o meu neto Luis começou a ficar sentado sozinho e sua felicidade é imensa. Ele está amando Saquarema, mas minha nora que é alérgica, amamenta e não pode tomar nenhum antialérgico, está comida de mosquitos da cabeça aos pés, um horror total. Luis não foi mordido nenhuma vez!!! Amanhã recebemos um casal de Granada e seus dois filhos para um grande almoço. Vou para a cozinha fazer uma comida bem brasileirinha.

Com netinho em casa não tenho tempo para nada!!! É tudo para o Luis.

Maurício Leite, grande amigo, me telefonou domingo de Lisboa com meu livro Carteira de Identidade nas mãos e eu ainda não recebi o livro! Acontece que a minha editora foi para Lisboa e levou um exemplar para ele... Cada vez que toca a campainha eu fico achando que é o correio com o meu livro novo. Só me resta esperar. Sou capricórnio, mas também, ninguém é de ferro.

segunda-feira, 22 de março de 2010

COM CARA DE DOMINGO

Ontem, domingo, foi a festa de aniversário da minha mãe. Quando ela pegou seu bisneto Luis no colo, ele a reconheceu. Se aninhou, agarrou seu dedo para chupar. Minha mãe disse: é o ápice.
Foi tudo tão emocionante que nem consigo contar. Ela fecha sua vida com chave de ouro. Conheceu seu bisneto.

Segunda-feira com cara de domingo, pois tenho filho e neto na casa e Juan prepara uma paella.
Comemoro a grande notícia do dia: Obama conseguiu passar a reforma da saúde. Isso quer dizer além dos 30 milhões que terão cobertura, um presidente forte outra vez. É importante para o mundo. Quem sabe algo muda no tabuleiro das guerras?
A discussão na Espanha sobre as touradas: como alguém pode ser a favor da crueldade contra os animais? A Espanha está dividida. Há os que necessitam da sua porção diária de sangue e violência.

sábado, 20 de março de 2010

ESPERANDO O LUIS

Estou aqui em Teresópolis esperando meu netinho Luis que já está a caminho. Estão vindo de Mauá e é uma longa viagem.
Hoje acordamos às 4.30hs da manhã , eu, Manuela de quem sou fada madrinha e tomamos o ônibus das 5.25hs para o Rio. Juan não veio, mas Manu, que morou aqui seis meses com a minha irmã, estava numa felicidade danada. Viemos juntas conversando. A estrada estava linda tão cedinho de manhã. Antes de vir para a casa da Evelyn paramos na casa da minha mãe. Ela está muito fraca, impressionante, mas continua lúcida. Me pediu desculpas por não conseguir ficar sentada e me disse que sentia vergonha da sua fraqueza. Saio de lá triste. Mas ela ainda está viva e amanhã comemoraremos seu aniversário antecipadamente já que ela vai conhecer seu bisneto e nenhum dia é mais propício. Meu pai se chamava Luis e ela me disse: vai perpetuar...

sexta-feira, 19 de março de 2010

MATA ATLÂNTICA

O lugar mais agradável do jornal é sempre a página de Ciências, embora às vezes as notícias não sejam boas. Mas hoje no O Globo, além das fotos das flores, a notícia é muito boa e deixo registrada aqui: está saindo do forno o livro PLANTAS DA FLORESTA ATLÂNTICA, é um resumo da pesquisa de quase 200 cientistas do Brasil e do exterior. A Mata Atlântica ocupa hoje apenas 7% da sua área original. O livro tem 516 páginas e lista todas as espécies conhecidas da Mata Atlântica. São dados essenciais para a preservação do que resta. Tratamos muito mal as nossas florestas. O livro é uma tentativa de criar uma consciência da ameaça que todas as espécies correm com a especulação imobiliária, áreas para pasto e plantações, etc.
Em 1985 comprei em Resende uma muda bem pequena de paineira e a plantei na frente da casa. Hoje é uma árvore imensa e quando fui a Mauá em fevereiro pela primeira vez eu a vi completamente florida, suas flores são belíssimas e cor de rosa. Assim como é possível desenvolver uma consciência alimentar e corporal, temos que criar uma consciência florestal. Não existe experiência mais fantástica do que plantar uma árvore e vinte e cinco anos depois saborear a sua majestade.

quinta-feira, 18 de março de 2010

CHUVA

Um haicai para a belíssima chuva que caiu hoje aqui em Saquarema:

música no ar
bela chuva de verão
as árvores dançam

quarta-feira, 17 de março de 2010

CONCURSO

A Academia Brasileira de Letras criou um concurso para contos no twitter com apenas 140 caracteres. Meu marido Juan Arias achou a idéia muito interessante e nos pusemos a discutir. Ele telefonou para várias pessoas pedindo a opinião de cada um sobre o tema e enquanto isso nossa gata Nana assistia a tudo bastante excitada. Ele já estava no meio do artigo para o El País quando Nana pulou sobre o teclado e escreveu o seu conto: XGKR . O artigo foi publicado mas no final, quando ele contava a façanha da Nana para os leitores eles simplesmente cortaram. O último parágrafo foi cortado por alguém que não possui gatos, não entende nada das magias dos gatos e certamente não entendeu o conto da Nana. Para falar a verdade também não entendemos mas continuamos nos esforçando.

terça-feira, 16 de março de 2010

NOTÍCIAS

Recebo a grata notícia de que meu livro Poesia Essencial está esgotado e será reeditado com prefácio de Hebe Coimbra.

Esta semana chegará meu livro novo Carteira de Identidade que sairá pela ed. Lê de B.H com ilustrações de Elvira Vigna. São 60 poemas que tratam do tema da identidade. Estou ansiosa para ter o livro entre as mãos.

Terminei e entreguei ontem meu livro de contos Vento Distante para a nova editora Escrita Fina. Não me considero uma autora de ficção. Sou apenas alguém que escreve poesia e que atendendo a pedidos de vez em quando escreve um ou outro conto. Espero que a editora goste.

Consegui recolocar todos os livros da Ed.Miguilim que foi vendida. Ano que vem sairão com novas ilustrações.

E para mudar de assunto assisti a um documentário impressionante na TV francesa sobre mulheres que morrem de parto na África. Por que a África é tão abandonada?

segunda-feira, 15 de março de 2010

IDEA VILARIÑO

Hoje , apesar de ainda ser verão, acordei um pleno outono, depois do calor terrível de ontem. Amo o outono, estação onde a poesia embarca. E recebí um livro maravilhoso da poeta uruguaia Idea Vilariño, presente da minha amiga Geruza. Eu não a conhecia e há que recuperar o tempo perdido. São suas obras completas e é uma poesia magnífica, pura música, há que aprender com os grandes. Poesia com imagens poderosas, muita substância. E principalmente música.
Maria Clara me trouxe o livro Poemas da Cabana Montanhesa de Saugyõ, poeta monge japonês nascido em 1118. Escreve tankas lindos sobre a transitoriedade da vida, sentimentos eternos, ele , apesar da distância no tempo, parece respirar ao nosso lado.
Neste fim de semana recebemos o fotógrafo espanhol Kiki, de Cádiz. Ele está preparando uma exposição de andaluzes pelo mundo financiada pelo governo da Andaluzia. Veio fotografar o Juan. Ele se apaixonou perdidamente por Saquarema e nos deu de presente um livro seu de fotografias do cotidiano em Cuba. Belo livro. O povo cubano, tão misturado como o nosso, merecia liberdade.
Giro a manivela da segunda-feira. Já tenho oito pessoas inscritas para o primeiro almoço do Clube de Leitura que inventei e estou otimista, tenho 25 vagas. O almoço será no dia 10 de abril e hoje espero que mais professoras se inscrevam. Também espero a resposta da Secretaria de Educação para a Oficina de Poesia e Gastronomia que propus . Enfim, começo a semana cheia de planos, na companhia de Idea Vilariño e com vinte graus de temperatura. Estou no paraíso

sábado, 13 de março de 2010

SUMRI

Hoje bem cedo de manhã passou por aqui Maria Clara e me trouxe um livro maravilhoso do Amoz Oz, escritor que amo, SUMRI. O livro voltado para um leitor jovem é absolutamente sedutor. Um menino, Sumri, sua imaginação, seus desejos, amigos, sua vida, tudo o que lhe acontece num único dia. Todo o talento , o humor, a ironia do Amoz Oz, um grande defensor da paz em Israel, nesta pequena narrativa. Definitivamente ele é um dos maiores escritores da atualidade e tudo o que escreve nos emociona. O livro é da Atica, não percam.

sexta-feira, 12 de março de 2010

PENSAMENTOS

Na minha viagem para Teresópolis paramos num posto de gasolina. Pesquei um pequeno livro: Bem-Vindo Ao Seu Cérebro, de dois neurocientistas, Dra Sandra Aamodt e Dr.Sam Wang da ed. Cultrix. O livro é delicioso, uma aula sobre o cérebro numa linguagem accessível. Hoje leio no O Globo que pela primeira vez cientistas conseguiram "ler"pensamentos. Passaram para alguns voluntários uma sequencia de 3 filmes pequenos e eles tinham que relembrar os filmes na sequencia. Depois relembravam os filmes fora da sequencia e pela atividade cerebral os cientistas identificaram os filmes que estavam sendo lembrados.
Para mim a idéia é horripilante. Nossos pensamentos são o último reduto da nossa privacidade. Já somos invadidos o tempo todo. Já somos manipulados o tempo todo. Já nos dizem o que devemos desejar. Quando inventarem uma máquina de ler pensamentos onde iremos nos esconder?

quinta-feira, 11 de março de 2010

NA ESTRADA OUTRA VEZ

Cheguei de Visconde mauá e mal tive tempo de desfazer a mala, de responder aos leitores, de escrever no blog, de passar os poemas que escrevi para o word e tive que sair correndo, de repente. Juan, meu marido teve uma crise de hipertensão e taquicardia e nosso seguro de saúde não cobre nada em Saquarema. Então, no final da tarde de terça-feira fomos para o Rio e Juan foi para a UTI. Como não podia ficar com ele fui para Teresópolis ver minha mãe que está viva ainda e muito lúcida, tão magrinha como só se vê em fotos de guerra, mas não tem dor e ainda se movimenta e embora com ajuda, faz tudo sozinha. Ela ficou tão feliz com nosso encontro, cheguei de surpresa e seus olhinhos se encheram de lágrimas. Lanchamos juntas, ela tomou uma xícara de chocolate quente e uma torrada. Ela adora chocolate. É um duro aprendizado essa despedida. Mas para alguém que está com câncer terminal, é o fim mais digno que já vi. Ela tem sempre uma palavra amorosa para cada um. Nunca nenhum lamento. Saio sempre destroçada, pois as mães como bem disse o Drummond, não deveriam morrer nunca. Acho que ela chega ao seu aniversario dia 29 de março e faremos uma festa.
Registro minha decepção: as conversas de paz no Oriente Médio terminaram antes de começar.

terça-feira, 9 de março de 2010

PAZ

Ontem, no Dia Internacional da Mulher li num cantinho do jornal que palestinos e israelenses retomam, mesmo que precariamente as conversações de paz. Enquanto isso termino de ler o livro A Mulher Foge de David Grossman, escritor israelense. Uma mulher leva seu filho até o lugar de encontro de onde os soldados partirão para uma grande ofensiva. Uma mulher leva com suas próprias mãos seu filho para a guerra. E então ela foge de casa para não ser encontrada, para que o exército não possa encontrá-la para notificar a morte do seu filho. Emquanto escrevia o livro o autor perdeu seu próprio filho numa frente de batalha. Ele nos conta no prefácio que tinha a fantasia de estar protegendo seu filho enquanto escrevia o livro. Mas a única fantasia possível é a paz. E as mulheres deveriam assumir a tarefa de desfazer as guerras. Que mulher pode sentir-se feliz em entregar seu filho para a morte?
Assistimos estarrecidos a uma escalada nuclear. Chegará o dia em que assistiremos maravilhados a uma escalada da paz?

segunda-feira, 8 de março de 2010

VOLTA PARA CASA

Passei 28 dias isolada na montanha em Visconde de Mauá no sítio dos meus filhos André e Guga. Sem carro, já que não dirijo, sem internet, com um sistema de telefonia totalmente precário, foi como um retiro. André e Dani, minha nora, reformaram um antigo casebre de caseiro para mim. Ficou uma maravilha, uma casinha de sonho, bem dentro da mata, com o barulho do rio ao lado. Para tomar banho há que acender o fogão de lenha com serpentina , em duas horas temos água quente. A casinha é totalmente branca com janelas azuis, as portas são antiquíssimas e muito rústicas, o chão de cimento queimado vermelho. Parece que ganhei uma casinha de conto de fadas. A casa grande é o estrelado Babel Restaurante e no carnaval o Ministro Carlos Minc foi almoçar aí. Perguntamos sobre a Estrada Parque tão prometida e o Ministro confirmou que as obras atrasadas começariam já e efetivamente, ontem, quando desci, as máquinas estavam lá embaixo, esperando . Sou a favor da estrada, já que se alguém fica doente leva quase duas horas para chegar até Resende. Eu mesma, com minha coluna tão danificada levo muito tempo para me recuperar.
No dua 21 de fevereiro meu filho Guga chegou de Granada com Patrícia, minha nora e meu neto Luis que faria 6 meses dia 30 mas como fevereiro não tem 30 dias como é que se faz? Ter o Luis perto foi uma dádiva, ele é lindo, já me reconhece e ri o tempo todo. Eu mesma preparei a sua primeira sopinha de legumes e ele adorou! É um gourmet.
No dia 25 de fevereiro tivemos a vernissage da exposição Haicais de Barro com meus poemas e cerâmica da minha irmã Evelyn Kligerman. Foi emocionante. Apesar da chuva foram umas 80 pessoas com seus cachorros e bebês. A exposição está belíssima e fica lá no Centro Cultural Vusconde de Mauá até o dia 23 de abril.
Cheguei em casa e minhas gatas Luna e Nana estavam a postos para me receber. Juan, meu grande amor, havia preparado muitas surpresas para mim, pois ele não pode ir a Mauá nem uma vez e a sua maneira de me falar da saudade foi encher a casa de flores.
Escrevi alguns poucos poemas para meu livro dos quatro elementos e o esboço de um conto.
E aqui estou, com a música e o cheiro do mar forrando a minha mesa de trabalho. De volta para a casa e para os meus invisíveis e amorosos leitores que são o meu alimento.