quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

JUDEUS E CIGANOS

Leio no Dicionário Houaiss a definição de judeu e cigano.

Judeu: (fem:judia) adj.s.m 1 (natural ou habitante) da Judéia; região da Palestina (Oriente Médio) 2 (indivíduo) nascido de mãe judia ou de pais judeus 3 Rel que(m) segue a religião e/ou a tradição judaica; israelita, hebreu 4 pej (indivíduo) avarento esta acp resulta de certas atividades ligadas a dinheiro, proibidas aos cristãos da Idade Média, mas não aos judeus. Adj 5 judaico. Col judaicidade, judeidade.

Cigano: adj,s.m 1 (indivíduo) dos ciganos, povo itinerante que emigrou da India para todo o mundo, com talento para a música e a magia; zíngaro 2p.ext. fig. que(m) tem a vida incerta e errante; boêmio 3p.ext.fig, que(m) trapaceia; velhaco Col bando, cabilda, ciganada, ginataria - ciganear v.int


Li ontem no O Globo que o Ministério Público queria proibir o Dicionário Houaiss de circular e aplicaria uma multa para quem o editou. Leio hoje que as novas edições suprimiram estas definições pejorativas. A minha edição é de 2004 e o que escrevi acima foi copiado do meu dicionário.
A questão é muito complexa. Se pode proibir um dicionário de circular? Acho que quando o dicionário diz que numa versão pejorativa judeu é avarento e cigano é velhaco, colabora de certa maneira para o enraizamento do preconceito. Seria desnecessário. Mas não gosto de probições de cima para baixo.Ele está apenas informando que existe este preconceito. Todos os preconceitos são horríveis mas não podemos proibir os clássicos e sim discutir as mentalidades que são cambiantes. Hoje os árabes são os judeus da vez e bodes expiatórios existem e existiram sempre, parece que há uma necessidade humana de culpar o outro. Temos que lutar dia por dia contra isso, mas não proibir livros, autores, dicionários. Fica com cheiro de ditadura.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

EM SAQUAREMA OUTRA VEZ

Cheguei ontem no final da tarde. É uma longa viagem de Visconde de Mauá até aqui, não apenas pelas horas transcorridas desde que se sai de um lugar até chegar ao outro, mas porque se trata da travessia de mundos. Travessia de realidades.
Passei 10 dias imersa no bosque. Sem internet, a realidade virtual passa a não existir e a conexão com o mundo externo é muito pequena e precária.O que passa a importar: os jacus, as maritacas e o lagarto imenso que mora no canteiro de hortências na frente da minha casinha e que todos os dias saía para tomar sol. O lagarto é de uma beleza estonteante. Não tomei nenhum conhecimento do carnaval, como se não fosse carnaval. Comprei um netbook para poder continuar o livro de contos que comecei aqui. Escrevi quatro contos e estou feliz com o andamento do livro.
Cheguei ontem no final da tarde e ao contrário do que imaginava, não fazia calor: 25 graus.Soprava um vento do mar bem frio e um cheiro adocicado de algas envolvia a casa. Juan me contou os dias de horror que passou aqui no feriado. Milhares de pessoas , carros de som até quase de manhã, muito calor, faltou luz durante 46 horas. Mas ele consegue sobreviver e eu não. Ele mergulha profundamente em seu trabalho, faz uma redoma e como o meu lagarto em seu buraco profundo, ele escreve aí dentro e respira. Não tenho essa capacidade. Eu me despedaço. Mas ontem todos já tinham ido embora e Saquarema volta ao seu natural, silêncio, o barulho intermitente e maravilhoso do mar. A casa me reconhece, as gatas , Luna e Nana não saem de perto de mim. Voltei.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

SUBSTÂNCIA

Dividirmos isso:
essa substância humana
esse líquido que habita
nossos ossos

como se divide um pão
o sol e a sombra
no mesmo prato

como se divide uma alucinação
no deserto
os sonhos boiando num fio
de água
como se divide a água
a noite e o dia no mesmo leito

como se divide o ar

in Pássaros do Absurdo, ed. TCHÊ, esgotado


Durante anos estou aqui dividindo com meus leitores a minha substância humana. Volto dia 27. Desejo belos dias para todos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

RECEITA DE ANDAR SEM RUMO

o vento como guia
suba montanha acima
siga a música do rio
pedra por pedra
dia por dia
perca o rumo e o fio
deixe que o coração
cante as horas
arrume a noite e o sol
in Receitas de Olhar, ed. FTD

Amanhã vou bem cedo para a montanha, para a casinha dentro da mata. Vou para o silêncio, para a música do rio.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

BERTA E LUIS

Minha mãe, Berta, era assim: festeira, dançarina, risonha, fazia moda e jardins. Gostava de multidão, da casa cheia.Não gostava de comer.
Meu pai, Luis, era assim: expansivo, engraçado, um grande leitor, detestava festas e muita gente, não sabia dançar, amava música clássica. Adorava comer.
Os dois eram alegres e tristes.
Meu pai veio da Polonia com 14 anos . Minha mãe veio da Polonia com 4 anos.
Meu pai se naturalizou brasileiro, amava o Brasil. Meu avô materno rasgou os documentos poloneses da minha mãe , pagou uma multa no cartório e a registrou aqui. Ela era brasileira.
Meu pai não gostava de falar do seu passado, era muito trágico para ser lembrado.
Minha mãe não tinha nenhuma lembrança da vida antes do Brasil. Teve uma infância tranquila numa casa gramnde, cheia de gatos, em Campos.
Eles eram muito diferentes nos seus gostos e interesses. Em comum tinham a paixão pelo cinema. Meu pai era explosivo, minha mãe nunca levantou a voz.
Dentro de mim continuam vivendo, cada um com seus interesses, cada um nos seus afazeres.
Mas às vezes é muito duro ser órfã, é como estar pendurada no vazio.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O AMOR POSSÍVEL

Tenho meus rituais para receber os amigos do Clube de Leitura. Ontem acordei às cinco horas da manhã e fiz dois pães, um com queijo parmeggiano na massa e o outro de milho com pimenta calabresa. Deixei todo o almoço pré preparado para entrar no forno. E já as 10hs chegaram os primeiros convidados, Hélio e Fernando, Francisco. Depois Messias que veio do Rio e o trio de Duque de Caxias, Felipe, Andrea e Cris. Vieram os convidados do Paraná, de Maringá, Maristela , Wagner e a filha Adah. Chegaram Pepito de São Pedro da Aldeia e Angela do Rio. Chegou Maria Clara. Parecia que já estávamos todos e começamos lendo o próprio Saramago explicando o seu jeito de escrever, como isso aconteceu, como ele disse não a tudo o que já estava aí, no belo livro O Amor Possível do Juan Arias que a Manati publicou aqui no Brasil. Então Felipe, que é contador de histórias contou o começo das Mil e Uma Noites e começamos a entrar no O Cerco de Lisboa. Fernando nos disse que a estrutura do livro lembrava As Mil e Uma Noites, histórias dentro da história. Messias falou do desconforto que uma escrita tão anti convencional nos causa, o desconforto do novo, de algo que não existia. Falamos das tradições orais, Maria Clara lembrou que Walter Benjamin disse que a literatura escrita exclui todo um universo e o próprio Saramago diz que ele o que quis foi recuperar esta oralidade. Então chegaram Flora e Héctor trazendo um bolo de frutas.
Flora e seu marido compraram o livro e não conseguiram ler. Andrea disse que teve muitas dificuldades para entrar no livro, mas de repente pensou, "mas é assim que meus alunos escrevem, sem pontuação! então faço de conta que estou lendo meus alunos, já que eu os entendo!" Hélio ficou maravilhado com a reconstrução histórica, os passeios do personagem por uma Lisboa real e outra adivinhada , a que existiu na época dos árabes. Todos nos maravilhamos com o contraste entre a luz e o almuaden cego. Juan contou da nossa estadia em Lanzarote e como era emocionante a relação do Saramago e Pilar, já que todos acharam que a história de amor entre o revisor e Maria Sara era um espelho da relação dos dois. Wagner nos falou do filme da vida deles e amou o livro. Messias lembrou o desejo de totalidade do autor, querendo dar conta de tudo, de todos os pensamentos, falamos de como o tempo fica anulado, existem todos os tempos e Ouroana e Mogueime oitocentos anos antes espelham e interferem no amor de Raimundo e Maria Sara. Maria Clara acaba de voltar de Lisboa e nos falou da história de Portugal , da força que tem Santo Antonio em Portugal,do Messianismo, do sebastianismo. Ela perdeu seu passaporte mas com a ajuda de Santo Antonio ele foi recuperado, numa história tão bela que daria um conto. Juan nos diz que Saramago dizia que só o não constrói e as guerras coneçam sempre com um sim. Começamos uma discussão sobre o sim e o não, infindável. Disse Messias que sem o não seria impossível existir qualquer sociedade já que prevaleceria o impulso do prazer. Todos falaram que o livro começa a fluir melhor a partir da história de amor, quando Maria Sara irrompe na vida do Raimundo. Todos falaram da genialidade do autor , de como é difícil rasgar o que já existe e começar algo realmente novo. Maria Clara lembrou que as vanguardas precisam sempre dizer não ao que estava antes. E mesmo quem não gostou do livro acho que com a discussão acabou gostando. E falamos também da sensação que se tem com o livro de que todos os tempos continuam existindo, sempre.
Pepito leu maravilhosamente um poema dos 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, que era o outro livro do nosso encontro. Como está apaixonado, fez uma leitura inesquecível. Juan , a meu pedido leu um dos poemas para mim, eu mesma me dediquei o poema! E Hector, que é argentino leu um terceiro poema, já que achei melhor que ouvíssemos os poemas em espanhol. Mas Fernando trouxe um dos poemas dos Versos do Capitão e nos contou que foi a sua primeira revelação poética e nos leu o lindo poema.Falamos de como o melhor do Neruda está em seus poemas de amor. Hélio nos contou da sua visita a Isla Negra e nos mostrou fotos de um belo livro.
Angela fabricou caixinhas mágicas para todos e em cada uma colocou uma bonequinha ou bonequinho na tampa e um texto que tivesse alguma relação com a pessoa lá dentro. Um gesto de tamanha delicadeza vi poucas vezes em minha vida.
Éramos dezoito pessoas na mesa . Foi maravilhoso o nosso encontro.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

CLUBE DE LEITURA

Hoje começo a preparar o encontro do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela que acontecerá amanhã. Vou fazer um almoço de inspiração árabe, para acompanhar o livro O Cerco de Lisboa do Saramago que foi detestado por quase todo mundo. Farei um quibe de forno e um arroz empedrado que comi na Espanha e amei. É um arroz com açafrão e grão de bico. Espero que o almoço saia tão bom que não desistam do Clube por causa do livro. Mas acho que será uma discussão muito boa , muito fértil.Além disso, podemos aproveitar a seta que aponta para o mundo árabe para falar um pouco sobre o tema incandescente em nosso tempo. Felipe, professor de Duque de Caxias nos trará uma surpresa maravilhosa. E estamos recebendo Maristela, professora de Maringá, no Paraná, que vem de ônibus com o marido e a filha, atravessando mais de 16 horas para chegar a Saquarema. É inacreditável.Fico muito comovida. Messias, nosso médico e melhor amigo que vem do Rio para o encontro, diz que jamais perderia a oportunidade de discutir um livro tão chato! Mas eu adorei o livro, a sua arquitetura, a questão interessantíssima do narrador. Não é um romance convencional e gosto da idéia de duas histórias correndo paralelas em tempos tão diferentes.
Juan nos dará seu depoimento sobre a semana que passamos juntos nas Islas Canárias com Saramago e Pilar para seu livro de entrevistas "O Amor Possível" , ed. Manati. Nos livros do Saramago o amor é sempre possível,

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CAIXINHA MÁGICA

É curioso como nasce um livro. Um dia, a Ed. Abril me pediu um poema para a Revista Nossa Escola, mas teria que ser um poema inédito. Escreví o poema , e a partir dele fiz o livro Fábrica de Poesia ,que saiu pela ed. Scipione, com ilustrações do Caó, onde inventei o desafio de fabricar em cada página alguma coisa. O livro é lindo, realmente acho que os poemas foram bem sucedidos e os temas também.


CAIXINHA MÁGICA


Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
A minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.

Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.

O que é que você quer
esconder na minha caixa?


in Fábrica de Poesia, ed. Scipione.

Aliás, adoro caixas de todos os tipos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O QUE SERÁ?

O que será o destino? Uma pedra no meio do caminho que nos faz tropeçar ou desviar ou atravessar a rua, a cidade , o país? Em 1971 passei o outono em Toronto no Canadá e me apaixonei perdidamente pelos parques, pelos tapetes de folhas, pelos esquilos que vinham comer na nossa mão. Eu também era um esquilo assustado e sabia muito pouco de mim. Mas aquele país de amplos espaços, nenhuma miséria e gente amável me conquistou. Tentamos emigrar para o Canadá e tudo corria muito bem, já tínhamos a papelada da imigração em curso mas uma contra ordem desmontou nosso castelo de vento e não pudemos ir. E se a contra ordem não tivesse chegado, se aquela pessoa que disse não tivesse dito sim? Basta trocar uma palavra e tudo já é outra coisa, como no O Cerco de Lisboa, do Saramago.
Eu seria quem sou hoje, teria escrito todos os meus livros, onde estaria agora?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PARA VIAJAR

Quando viajamos rompemos com o cotidiano, com o desenho conhecido de nossas vidas e nos diz Claudio Magris em seu livro Danúbio, parece que de certa maneira voltamos para a infância, pois olhamos o mundo maravilhados, como se fôssemos outra vez crianças e então , pela lógica da poesia, temos todo o futuro pela frente, já que somos crianças outra vez. Sempre fui viajante, pois sempre fui leitora.Agora mesmo viajo pelo Danúbio, por suas cidadezinhas maravilhosas de nomes impronunciáveis. Além disso, estou sempre com as malas abertas, estou sempre indo e voltando. Quando viajo o que mais me encanta é sentar num café e ficar olhando o grande teatro que se desenrola diante dos nossos olhos: as pessoas andando, falando, gesticulando, sérias ou sorridentes. Troco a rua por qualquer programa.

PARA VIAJAR

Como é que se vai para a Atlântida?
De cavalo-marinho?
E de unicórnio,
dá para chegar nas montanhas da lua?
Para o centro da Terra
vamos de dragão dourado?
De Maria-fumaça a gente atravessa
o tempo?


in Pera, Uva ou Maçã? Ed. Scipione

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

GALA SOLAR

Os dias estão belíssimos. Da minha janela que dá para as montanhas posso ver até onde o olho já não alcança. Do outro lado o mar é de um azul claro e profundo, um azul inominável.O dia começa fresco mas dentro de algumas horas fará muito calor.
Escolho um poema do livro Sinais do Mar da Ana Maria Machado para ilustrar este dia. Fabriquem vocês as imagens, é um convite:

GALA SOLAR

calor
coral
colar de pura marola
no alvo colo da praia
decote sem gola
nas costas de gala.

rola
roda
em baile de aberta sala
e toda a baía enrola
na luz que estala
solar.

Ana Maria Machado, in Sinais do Mar, Cosacnaify

domingo, 5 de fevereiro de 2012

PEPITO E AULAS DE TANGO

Pepito é meu cunhado poeta, um menino travesso que faz hoje 77 anos e só vem confirmar os novos tempos. Pepito é professor de tango e reiki. E está apaixonadíssimo. Tudo começou via internet com uma troca de poemas. Em dezembro Pepito foi conhecer a sua amada Gabriela em Lima e confirmaram: querem se casar. Agora cada um arruma as suas papeladas para que possam viver juntos em Lima. Com grande entusiasmo Pepito está sempre recomeçando . É um grande aventureiro e uma lição de vida. Totalmente alternativo, suas coisas cabem em uma pequena maleta, a sociedade de consumo não o seduz: Pepito é essencial.Para ele faremos hoje um belo almoço, abriremos uma champagne e cantaremos com Violeta Parra: Gracias a la vida!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

SAFO

Safo, a poeta grega que viveu no século VII A.C e de quem só nos chegam fragmentos de segunda mão, me seduziu quando eu tinha 14 anos com um poema. Uma flechada certeira no coração. Foi na aula de História Antiga, no Instituto Lafayette. Meu professor era adorável e para agradá-lo, para fazer bonito, decidí comprar um livro de poesia grega. O fragmento, que ficou tatuado do lado de dentro da minha pele , era assim:

Meia-noite.
A lua já se pôs
as pleiades também.
Foge o tempo
e estou tão sozinha.

Que uma mulher 2.700 anos antes de mim falasse o que eu sentia era uma revelação quase religiosa. Eu a a sentia viva, respirando ao meu lado. E me apaixonei por ela. Ganhei o livro Eros, Tecelão de Mitos , de Joaquim Brasil Fontes em 1990 em Campinas. E ao lhe contar que o fragmento acima me habitava desde a adolescência, ele me falou o poema em grego num dos momentos mais mágicos da minha vida. E me contou que ao viver tão intensamente com Safo na sua exaustiva pesquisa, os deuses lhe cobraram um preço: havia perdido a audição de um ouvido.

...................
aqui, rumoreja a água fria, entre ramos
de macieiras; recobre este lugar uma sombra
de rosas e, do alto das folhas trêmulas,
flui um sono profundo;

in Eros, Tecelão de Mitos, A poesia de Safo de Lesbos,Joaquim Brasil Fontes, Estação Liberdade.

Poetas não morrem, apenas dormem um sono profundo, enrolados em camadas de tempo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

JULIA

Julia, minha sobrinha, passou em primeiro lugar na Marinha, como psicóloga, fez um ano de treinamento militar (para mim é um mistério as razões que levam a Marinha a treinar um psicólogo para a guerra)muito pesado, mas agora se mudou para Natal com seu marido e me conta:
_" Tia, Natal é linda!!!" Ela está radiante.Da sua janela ela vê um pedaço do mar.

E hoje me escreve uma aluna de literatura infantil justamente de Natal :
Olá, Roseana!
Boa noite!
Gostaria de te agradecer mais uma vez por me conceder algumas obras.
Apresentamos o trabalho hoje, não sei se ficou a sua altura, mas o fizemos com bastante empenho. Estudamos tudo o que estava no seu site e também fiz pesquisas a seu respeito e a respeito de suas obras no GOOGLE. Fizemos uma encenação do Poema (A menina e a boneca), Mundo da Lua. Levamos tapetes, brinquedos de menina e uma boneca de perna fina. Fomos bastante aplaudidas.
...............................................................
Lemos 10 de suas obras. Adorei todas, mas assim como meu filho, nos apaixonamos pelo Mundo da Lua.
Obrigada!!!!!!!!!!!!!!!!
Lucélia


E já me convidam para ir a Fliporto em Olinda em novembro. Ainda não é certo pois eles precisam levantar a verba, mas é uma possibilidade. Estou pré convidada. Então poderei visitar a Julia.

Hoje fui ao mar bem cedinho e era tudo tão absurdamente belo que eu poderia perder a voz.
Digo como Lorca: " Mas o que vou dizer da poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MATÉRIA LINDA

Acabo de ler no Caderno Boa Viagem do O Globo uma matéria linda sobre Visconde de Mauá. E o Babel Restaurante do meu filho André recebeu os mais rasgados elogios. Transcrevo:
"Com a alma lavada e a cabeça fresca, a fome vai começar a bater. Um bom lugar para o almoço é o Restaurante Babel, que fica em lugar de acesso complicado: ou seja, é melhor ir até lá durante o dia.
..............................
Com poço e queijo, ou não, o Restaurante Babel é um daqueles que justificam inteiramente algum sacrifício para se chegar. Dirigindo com cautela , qualquer carro vai até lá. Num local agradável, cercado de verde e com amplos janelões que valorizam a paisagem, o casal Daniela Keiko e André Murray serve uma cozinha refinada, com forte inspiração franco-italiana. Para começar capuccino de cebola com funghi porcini e figos ao mel e balsâmico com queijo de cabra. Para o prato principal uma boa sugestão é o Alcantilado, uma canela de cordeiro cozida à perfeição ao mel e especiarias, servida com polenta trufada e cebola assada. Outra? O inusitado fetuccini caseiro de curry com truta e aspargos frescos. Vale a pena investir no menu degustação."

Depois disso só um babador para a minha condição de mãe.

UM BELO POEMA

Um belo poema todas as manhãs. Assim começo meu dia. A leitura diária de poesia ajuda a respirar. Pego um livro por acaso na estante e também abro ao acaso. Hoje me coube Alejandra Pizarnik, a esplêndida poeta argentina:

FIESTA
He desplegado mi orfandad
sobre la mesa, como um mapa.
Dibujé el itinerário
hacia mi lugar al viento.
Los que llegan no me encuentran.
Los que espero no existen.

Y he bebido licores furiosos
para transmutar los rostros
en un ángel, en vasos vacíos.

Alejandra Pizarnik, in Poesía Completa, Editorial Lumen

E já se aproxima nosso encontro do Clube de Leitura. Várias pessoas me telefonam ou escrevem dizendo que não conseguem ler O CERCO DE LISBOA, do Saramago. Ler Saramago não é uma fácil tarefa, é como entrar numa cidade estrangeira e ter que decifrar uma lingua que não conhecemos. Mas no final, sempre vale a pena, saimos enriquecidos.

Sua poesia , levemente surreal, possui uma musicalidade intensa.

Maristela, que vem de Maringá ao nosso encontro do Clube no dia 11 ,leu o blog e escreve:Sobre a História do cerco de Lisboa estou no fim, faltam 16 páginas; leitura difícil mas deliciosa quando pegamos o ritmo... Eu penso que se parece quando dançamos com alguém pela primeira vez, a gente pisa no pé vai pra lá e ele pra cá, depois passa o estranhamento bailamos e rodopiamos deliciosamente ao sabor da música. Beijos e até daqui a pouco (11.02)..

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

LIVROS NOVOS

Espero meus livros novos com uma paciência que vou tecendo ao redor dos dias.
Espero a reedição do meu livro Retratos que entraria na gráfica em novembro, escrevo mas a editora não me responde. Aliás, é muito rara uma relação generosa entre o autor e a editora.Ainda bem que tenho algumas editoras maravilhosas para compensar.
O livro sairá com fotos antigas da minha família e agora que minha mãe já não está mais aqui, tudo adquire outro significado.Enquanto o livro não chega leio no O Globo que foram descobertas gravações muito antigas e há a voz de um homem do século XVIII.É quase como viajar no tempo.É quase como se pudéssemos estar lá, atravessamos a fina película do tempo, pois aquele instante foi aprisionado junto com a voz.
E como adoro fotos antigas escreví o poema Fotografia para o livro Poemas e Comidinhas da Ed. Paulus. Em todos os poemas falo de comida, o livro é uma delícia:

FOTOGRAFIA

Algodão doce, pirulito,
cocada,quebra-queixo,
pé de moleque, suspiro,
brigadeiro, maria-mole,
um mundo inteiro
de doces coloridos
na festa da praça.

Moça bonita come de graça
um lambe-lambe fotografa.

Isso era antigamente,
está no álbum de retratos.

in Poemas e Comidinhas, ed. Paulus