quinta-feira, 27 de setembro de 2012

AVÓ E NETO

Ontem no fim da tarde fui ao encontro do meu neto em sua escola, Fomos até a sua sala. Eles estavam numa rodinha ouvindo histórias e quando Luis me viu se levantou correndo e veio me abraçar. Nove meses depois. desde a última vez em que estivemos juntos. Foi um longo abraço.
Hoje passamos a manhã inteira juntos. É um amor monumental.
Agora subo para Visconde de Mauá onde ficarei alguns dias sem internet.
Até a volta!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

CONVERSAS SOBRE O INVISÍVEL

A alegria de recuperar um livro que foi emprestado e perdido: "Conversaciones sobre lo invisible"  de Jean Audouze, Michel Cassé e Jean-Claude Carrière.
Leio, ou melhor, releio, vinte anos depois :

Michel Cassé, astrofísico, diz:
" Sim, somos todos filhos das estrelas, esta é hoje nossa mais elevada afirmação. Inclusive é a descoberta  mais essencial dos últimos vinte anos. Nosso olho está formado pela mesma matéria que constitui o sol. Foi formada pelo sol e é por isso que vemos. Entre o olho e o sol o contato é constante, íntimo. O mesmo fala com o mesmo. O átomo da estrela fala com o átomo do nosso olho a linguagem da luz."

E assim, maravilhada, sabendo que também sou estrela, fecho a porta de casa e inicio a minha viagem .

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A MALA DO VIAJANTE

Já tenho a mala aberta em cima da cama. Levo muitos livros, presentes para o Luis, meu neto (livros) e roupa para 15 dias.
Vou amanhã cedo para Resende. Dia 1 começo meu trabalho no com o Projeto Fala Autor do Sesc Barra Mansa. Serão muitos encontros. Estou feliz.
Houve uma época na minha vida em que viajei muito com o Proler. Estava sempre na estrada. Parece que esta época voltou. Todos aqueles que viajam sem parar sabem que em terra firme somos habitantes provisórios. Parece que já fazemos parte da estrada:

"Ay, viajero!
No vas y no regresas:
eres en los caminos."

fragmento de Pablo Neruda, Antologia General, Real Academia Española.

Não poderei escrever todos os dias, mas farei o possível.

Notícias da minha gata Nana: enlouqueceu. Pensa que é pássaro. Vive pendurada nas árvores, na trave de madeira que atravessa a sala, com quatro metros de altura. Fica horas aí, empoleirada como uma galinha.
Ficamos em pânico. Esta noite dormiu aí . Como, por favor, entender os gatos?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

VENTO

O vento percorre toda a minha poesia como se fosse a sua coluna vertebral. Amo o vento, as tempestades.
Amo o mar em sua fúria. Não sei explicar o que sinto, parece que meu corpo se desmancha, parece que me dissolvo , que volto a um tempo primordial.
Hoje, aqui em Saquarema, faz frio, venta muito, o mar está imenso, esplêndido.

Releio Madame Bovary, tenho uma ternura imensa por esta mulher perdida, sempre fui apaixonada por ela. Releio Madame Bovary 38 anos depois e como mudou a minha leitura, como melhorei como leitora. Um dia, no passado, também estive perdida de mim. Mas ao contrário da Bovary, os livros me salvaram, a escrita me salvou. Hoje habito meu centro. Minha mandala está bem costurada.

domingo, 23 de setembro de 2012

POESIA DO ACRE

Na mesa em Rio Branco dividi o espaço com Gloria Kirinus e a poeta Francis Mary, conhecida como Bruxinha. Ela faz uma poesia cheia de referências locais, ao mundo mágico da floresta. Ela foi companheira de luta de Chico Mendes . A sua apresentação foi linda. Ela projetou imagens da floresta enquanto lia seus poemas e trouxe alguns amigos músicos para acompanhá-la. Aliás, a fala da Gloria foi tão envolvente que ninguém queria ir embora nunca mais. O público ficou. A mediadora dizia, então acabou, e nada. Ninguém se levantava.
Eu tentei falar sobre o tempo. Se não se pode dividir o tempo ,então, todos , desde a pré-história, são meus contemporâneos. Talvez tenha me enrolado um pouco. Li um texto magnífico do Galeano onde ele nos fala de quem são seus contemporâneos e vai ao encontro do que penso. A poesia habita todos os tempos e seu lugar é sempre.

DESCONVERSA

O Kaxinauá disse assim:
você já bebeu voo de tucano
com sangue de açaí?

Eu desconversei
e saí caçando meus passos
guardados no saco
de sernambí.

Isso aconteceu
num dia de chuva
quati, quati...

Francis Mary

sábado, 22 de setembro de 2012

CLUBE DE LEITURA DA CASA AMARELA

Nosso encontro de hoje do Clube de Leitura da Casa Amarela foi marcado por ausências. Não vieram, Felipe, Andrea e Cris, de Duque de Caxias. Leila não veio . Messias não veio.
Mas vieram todos os outros: Hélio e Fernando, Maria Clara, Chico, Gil, as duas Ângelas, e Ivo, pela primeira vez.
Lemos A DAMA DO CACHORRINHO de Anton Tchékhov. Cada um falou do seu conto predileto, daquele que mais tocou seu coração. O conto Vanka, do menino que escreve a carta para o avô foi uma paixão geral. Hélio se debruçou sobre o coração do menino. Todos nos emocionamos com a história tão triste do menino que quer voltar para junto do seu avô. Falamos do conto nas suas minúcias. Maria Clara identifica o avô com o Papai Noel, é um conto de natal.
Gil escolheu como seu o conto da Corista e fez uma leitura belíssima . Falou da bondade da corista, da sua sensibilidade e era apenas uma prostituta.
Juan falou do conto A Irrequieta e de como o nosso tesouro está quase sempre ao nosso lado e não o vemos .
Todos concordamos que o autor nos leva a um desfile impressionante de personagens e conhece conmo poucos a alma humana. A Russia dos tzares hoje esteve em nossa sala.
Todos amaram o pequeno livro imenso. Todos ressaltaram a abertura dos contos, nenhum final é fechado.
E esse tempo, único, que não existe mais, existe. Basta abrir o livro em qualquer conto e já estaremos instalados numa troika, numa casa de um nobre, de um camponês, um burguês. E a manivela do tempo, a literatura, com todas as suas engrenagens , trará até nós , estas cenas de um passado tão rico, tão denso.

Celebramos com pão, vinho e uma comida maravilhosa preparada pela Vanda, nossa caseira de nome russo, a alegria de discutirmos um belo livro. E cantamos parabéns com uma torta maravilhosa de nozes e chocolate branco, pois Vanda fez 50 anos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

BIBLIOTECA DA FLORESTA E SAQUAREMA

Cheguei agora em Saquarema. Foi uma longa viagem, uma longa estadia em Rio Branco. Não pude escrever depois do primeiro dia, não tive tempo de ir até a Biblioteca Estadual usar o computador.
Estou exausta mas conto: entendi o Acre a partir da visita que fiz à Biblioteca da Floresta, a única Biblioteca temática do mundo.
É lindíssima e impressionante. Um mergulho profundo na alma e na história do Acre, seu povo, suas lutas, revoluções.
Há dez grupos de estudos interdisciplinares que se se reúnem na Biblioteca. Há cinema, vídeo, instalações maravilhosas, exposições. Há um grupo de filósofos que faz uma imersão na floresta para estudar o tempo e o espaço dos índios e raz este saber de volta para a biblioteca.. Há um espaço indígena no andar de cima, tão forte e emocionante que o visitante fica com falta de ar. Há documentos originais incríveis, por exemplo a carta escrita por Galvez declarando a independência do Acre. Na Biblioteca estão representados todos os povos que habitam o Acre. Há uma carta na entrada que diz isso:
" NOSSA CASA
Nós somos os povos da floresta. Somos pessoas, animais e árvores convivendo na maior biodiversidade do planeta.
Ainda procuramos nos descobrir e descobrir o mundo que nos acolhe e nos cerca.
Esta casa é nossa luz. Nosso espírito mora e trabalha dentro dela."

Há um painel belíssimo com os rostos do Acre: seringueiros, índios, descendentes de sírios , libaneses, nordestinos, etc, etc.

Há uma carta original do Chico Mendes para os habitantes de 2120, onde ele fala dos seus sonhos. E então a Biblioteca fez uma caixa fechada com 5.000 cartas de pessoas que falam dos seus sonhos. Esta caixa será aberta em 2120 . Não estaremos aqui para ouvir a leitura das cartas.

O trabalho em Rio Branco foi bonito, foi emocionante. Estou em casa e amanhã é o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

RIO BRANCO

Estou neste momento na Biblioteca Pública do Acre, belíssima, deslumbrante. Um espaço onde se pode estar durante horas. Aqui foi uma escola. Da antiga escola nada restou , apenas a cópia do piso hidráulico. A biblioteca tem vários andares e todos nos convidam a relaxar e ler. E um cinema que é um luxo total. Todos os dias há várias sessões. Agora está acontecendo o Festival Jorge Amado.
Na sala de leitura para crianças há uma Arca das Letras para a área rural. Ela viaja e faz pouso na casa de alguma família, então é uma arca mágica.
Cheguei no meio da madrugada. Exausta. A viagem é longa. Passei a manhã meio tonta, mas à tarde já estava recuperada e fui ao encontro da Helena Carloni de quem recebi o convite para estar aqui.
André, um menino muito gentil, foi designado como meu guia e lá fomos nós para a Gameleira onde nasceu Rio Branco, na beira do Rio Acre. O rio, ele me conta, já foi muito maior e muito navegável, mas agora ... já sabemos.
Fui até a Casa da Leitura da Gameleira. O bairro homenageia com seu nome a belíssima gameleira, marco do começo da cidade. A cidade recebeu um enorme contingente de sírios e libaneses. A Casa da leitura é antiga e lindíssima, parece saída das páginas de um conto de fadas. Mas estava vazia e acho, fiquei com a impressão, de quem tem que ser mais ágil na captura de leitores.
Depois visitamos o Cine Teatro Recreio, o primeiro teatro de Rio Branco, lindo. Na entrada há um projetor enorme e antigo fabricado pela Empresa Cinematográfica TRIUMPHO, assim, com ph .
Na Rua da beira do Rio, no Calçadão da Gameleira, as casinhas coloridas possuem uma placa om a memória da casa, assim: aqui viveu fulano no ano de... como na Europa.
À noite fui para a praça do Mercado Velho e assisti a uma dupla maravilhosa, bolivianos, poetas, cantores fantásticos, seu conjunto se chama Negro y Blanco. Foi emocionante.
E hoje de manhã já tomei café com a minha amiga querida Gloria Kirinus.
Hoje falo às 5hs da tarde e me deram uma pergunta de presente:
"Há espaço para a poesia no século XXI?"   

domingo, 16 de setembro de 2012

BIENAL DOS POVOS DA FLORESTA

Hoje vou para o Acre. É uma longa viagem em todos os sentidos, já que vou ao encontro do que não conheço e esta perspectiva é sempre maravilhosa.
Conhecerei lugares que meus olhos nunca viram, pessoas que aumentarão a dose de afeto em minhas veias.
Não tenho nenhum preparo acadêmico, vou apenas com o que sou , com a minha poesia , a minha bagagem de vida, os meus leitores ecoando dentro de mim. Não tenho verdades, apenas dúvidas e assombros. Para mim, a vida é aventura. Nunca sabemos o que cada dia deixará em nossas portas.
Meu passaporte para a vida é a poesia e o amor.

sábado, 15 de setembro de 2012

PEDRA SÓ

Como tem acontecido nos últimos dias, me levantei às 4hs da manhã. A casa oscilava em seu silêncio entre as ondas do mar. Fiz meu café, abri o livro de poemas PEDRA SÓ, ed. Escrituras, de José Inácio Vieira de Melo , que o correio me trouxe ontem. E levei um susto.
A sua poesia é bela . José escreve desde a fazenda Pedra Só em Alagoas , escreve desde a seca. Mas a sua poesia é torrencial e nos arrasta, é , dentro da seca, cheia de água, cheia de imagens lindíssimas e emoção. José escreve desde um lugar : o começo do mundo, o começo do tempo. José escreve a saga do homem: os sonhos.
Separo alguns fragmentos :
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"É da natureza do poeta
sonhar a essência do vento
e soprar na harpa os outros nomes
da pedra e da água."

pg 97

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"A arte da pedra é ser o silêncio que cresce"

pg 29

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Na Pedra Só,
as formigas tecem as escrituras
no abismo da noite tão enorme
e o espantalho veste a seda do orvalho
para receber de braços abertos,
o sabor das auroras, o sagrado.

pg 25

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Eu chego no silêncio que acende
as quatro ferraduras do tempo
e encontro a inesgotável jazida,
catedral do rubi que me habita.

pg 73

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E a sua poesia, água, seca, pedra, rubi, vento, silêncio, ficou latejando no resto da noite que ainda havia e quando vi, a manhã havia chegado.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

NANA

Recebo como um presente meu novo livro para crianças bem pequenas: NANA
As ilustrações são absolutamente maravilhosas, da Bebel Callage. O livro sai pela Ed. Prumo e é o primeiro de uma grande fornada que vem por aí entre livros novos e reedições. Tenho a impressão de que minha gata Nana, se soubesse ler, adoraria o livro. Bebel conseguiu captar a sua alma!
Enquanto escrevo aqui no blog Nana dorme enrodilhada na cesta de papéis. É uma gata maravilhosa, falante, muito expressiva e eu a entendo como se ela fosse a minha própria poesia.
Escrevo em vários registros e isso é muito bom, é como se eu fosse feita em camadas, nunca me esqueço da criança que eu era , nem da adolescente, nem da jovem mulher. Hoje sou um novelo bem encorpado de todas as vidas que já vivi, muitas. E é assim que escrevo, com tudo o que tenho, com todas as idades.
Não sei porque as pessoas mais velhas às vezes se envergonham das suas idades, pois o tempo é apenas uma convenção. Somos um acúmulo de vida e de tempo e num mesmo dia posso ter 18 anos ou 92, às vezes 7.

Tenho acordado muito cedo, às 4hs da manhã. Não brigo com a falta de sono, Levanto, é noite, faço o café, o mar ocupa toda a casa e é como se me levasse sempre ao encontro de todas as pessoas que amo e que ainda dormem. Talvez, quem sabe, enquanto tomo café, entre em seus sonhos.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

E.M.IPITANGA

Hoje o professor Ivo veio cedinho me buscar para ir a E.M Ipitanga perto de Araruama. Eu não havia anotado na agenda e confesso que não me lembrava. Estava pedalando a bicicleta ergométrica e ele chegou. Sentou junto comigo para me fazer companhia e enquanto eu terminava já íamos falando de leitura. Tomei um banho rápido e me vestia , surpresa total: chegou na varanda a Secretária de Educação, Ana Paula, belíssima e competentíssima. Ela dispensou o carro oficial e fomos no carro do Ivo. Quebrei o protocolo e sentei na frente, pois caí e machuquei o ombro, dói muito.
Não tenho como descrever a maravilha que foi a nossa manhã poética. A escola é linda de morrer, como todas aqui em Saquarema, cada uma com a sua singularidade.Desde a chegada meus poemas se esparramavam por todas as paredes e no local do nosso encontro, bandeiras com meus poemas escorriam desde o teto. Poemas lindos das crianças a partir dos meus faziam um contraponto.
Foi tudo tão emocionante, as apresentações teatralizadas dos poemas, as curiosidades, o brilho nos olhos de cada um, os beijos que me deram, saí como se tivesse mergulhado numa cachoeira de amor.
Saquarema pode se orgulhar. Já há um grande caminho percorrido até aqui. Saquarema já tem escolas leitoras.

PRESENTE



Hoje recebi um poema de presente da Maria Clara, poeta, grande leitora e membro do nosso Clube de Leitura Amarela:


Guardar
                   Antonio Cicero

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por

admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por

ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,

isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro

Do que um pássaro sem vôos.


Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,

por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.

Maravilhoso poema , maravilhoso presente e eu o guardo e desdobro como se guarda um entardecer, um cheiro molhado de algas, uma saudade.









terça-feira, 11 de setembro de 2012

SEGREDOS

Releio meu livro O Traço e a Traça" da ed. Scipionne que foi escolhido pelo Governo Federal para fazer parte do Programa Alfabetização na Idade Certa. As ilustrações são maravilhosas, não conheço a ilustradora: Elma, do Recife. Releio:

" O João guardava um segredo
tão bem guardado debaixo
da cama que ninguém
sabia o que era.
Parece que era coisa importante,
pois todo segredo é tesouro".

Outro dia li um artigo muito bom sobre privacidade. Há toda uma discussão sobre o tema. Nossa privacidade acabou?
Vejamos: endereço e telefone são facilmente encontráveis.
Banco, conta do banco, cada vez que passamos um cartão estes dados ficam disponíveis. O mesmo acontece quando se compra algo com cartão de crédito nos estabelecimentos, na rede. Nossa casa está visível no Google.
Nossas preferências também ficam disponíveis a partir do que compramos. Também se pode saber da vida do outro através do seu lixo.
Mas temos muitos segredos . Disponibilizamos nas redes sociais apenas o que nos interessa. O que sinto a cada instante , isso me pertence. Como lido com as minhas emoções mais profundas, com as minhas contradições, isso é meu e não pode ser contabilizado nem roubado nem clonado. É um vento que flutua sobre a minha poesia.
Meu acervo de memória, minhas manias, meus ancestrais, tudo isso é privacidade. O tamanho do meu amor , isso é meu. O medo da morte é meu. A paixão pela vida: minha.
Não tenho medo de que invadam ou roubem a minha privacidade. Eu traço os limites.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CINCO ESTUDANTES

Sábado recebemos cinco estudantes da Universidade Rural, curso de Comunicação, aqui em casa para um encontro com o Juan Arias . Vieram de Seropedica. Era uma entrevista e uma gravação de vídeo. Foi um belíssimo encontro. As perguntas claras e inteligentes deram ao Juan espaço para falar sobre o jornalismo ao longo do tempo , sobre a liberdade de imprensa, sobre a função do jornalismo: ser a consciência crítica do poder. Pobre dos jornalistas que se acovardam e se vendem.
Era lindo ver aqueles jovens com as mãos e os olhos tão cheios de esperança e futuro.

Quando era criança eu queria ser astrônoma, pois amava as estrelas. Quando jovem quis ser jornalista. Nem uma coisa nem outra: virei poeta. Acho que conciliei as duas vocações, pois escrevo e contemplo as estrelas.

sábado, 8 de setembro de 2012

O EDIFÍCIO YACOBIÁN

Em nosso Clube de Leitura da Casa Amarela tento indicar livros que fiquem para sempre dentro do leitor. É assim que desde nosso último encontro quando indiquei A DAMA DO CACHORRINHO, do Tchekov vasculho meus labirintos e corredores caçando um livro sem saber seu nome.
Havia pensado em Toda a Vida pela Frente de Émile Ajar, pseudônimo do Romain Gary. Li o livro em francês na minha juventude e é um daqueles que eu levaria para uma ilha deserta. Sou completamente apaixonada por ele. Comprei agora num sebo, edição da Rocco e realmente a tradução é tão horrorosa que não tenho coragem de indicá-lo. Continuei caçando então, à espreita. E eis que hoje , como um relâmpago, estava pensando na situação horrível do Oriente Médio e um livro se iluminou dentro de mim e é o meu escolhido: O Edifício Yacobian de Alla Aswany. É um romance que amarra o leitor desde a primeira linha ao mesmo tempo em que nos dá uma visão panorâmica do Egito antes da Primavera Árabe. E é incrível que a decadência do edifício é a decadência da sociedade que acaba ruindo completamente, fato que o autor ainda desconhecia. Foi feito um filme a partir do livro. Espero que a tradução não me decepcione, pois o li em espanhol.
Hoje nossa casa recebe quatro estudantes que virão entrevistar meu marido, Juan Arias, vão filmá-lo.
E o sábado está lindo, fiz um pão que perfuma a casa de alecrim.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ANIVERSÁRIO

Hoje se meu maravilhoso amigo Latuf não tivesse ido embora do planeta Terra, estaríamos comemorando o seu aniversário. Mas é impressionante como os mortos continuam vivos. Nenhum dia se passa sem a sua presença dentro de mim, sem que ele converse comigo, sem que eu divida com ele as minhas mais profundas emoções. Ele dizia que eu era a sua idiche mama, sua mãe judia, embora ele fosse mais velho do que eu. Mas como toda mãe judia , eu adorava lhe dar de comer, fazia iguarias para ele, eu o mimava. Nosso país era a literatura, país magnífico, onde nunca e sempre somos estrangeiros. E ele , Doutor em tantas coisas, me dizia, a tua poesia é bela. Todos os dias agradeço. Ele , libanês e eu, judia, com certeza resolveríamos a questão do Oriente Médio com amor e poesia. Nós nos amávamos. Nós nos amamos.
Eu o vejo com suas túnicas esvoaçantes. Latuf era um poema andarilho.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

POESIA DE MANHÃ

Gosto de abrir meu dia com um poema. Depois de ler o jornal no café da manhã.
Hoje o poema do dia:

DOIS CORPOS

Dois corpos frente a frente
são às vezes duas ondas
e a noite é oceano.
Dois corpos frente a frente
são às vezes duas pedras
e a noite deserto.
Dois corpos frente a frente
sâo às vezes raízes
na noite enlaçadas.
Dois corpos frente a frente
são às vezes navalhas
e a noite relâmpago.
Dois corpos frente a frente
são dois astros que caem
em um céu vazio.

Octavio Paz, Obra Poética I, in A Duas Vozes, Eduardo Jardim, ed. Civilização Brasileira

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

TODAS AS CORES DENTRO DO BRANCO

Em 2004 publiquei um livo "Todas as Cores dentro do Branco" pela ed. Nova Fronteira com belas edições da Edineuza Bezerril. O livro ficou meio encalhado e decidi desfazer o contrato. Os livros restantes foram doados para a Secretaria de Educação de Duque de Caxias que os distribuiu pelas escolas.
Quando Isa Pessoa me convidou para fazer parte da coleção Poemas para Ler na Escola pela Objetiva, decidimos fazer uma antologia e eu dei os poemas do livro, eles estão misturados na bela colcha de retalhos que Hebe Coimbra arrumou.
Hoje leio que as mulheres enxergam as nuances das cores melhor do que os homens. Achei isso muito curioso.
Dividi o livro original por cores, o que não foi mantido na antologia.

Eis um poema "verde":

ESPERANÇA POUSADA NO UMBRAL DA PORTA

A manhã começa verde:
pulo da cama,
estendo os braços,
para apagar os últimos
vestígios de um sonho,
mordo a maçã,
arrumo o mapa
do meu coração
e parto como um barco
de madeira antiga
para as surpresas do dia.

Pousada no umbral da porta,
a Esperança me olha
como folha verde na água,
como esmeralda encantada.

in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

OZIRETES

Ontem tive uma linda surpresa . Fui convidada para um encontro com os alunos da E.M Osiris Palmier da Veiga, aqui em Saquarema.
A escola fica frente da lagoa e tem a vista mais bonita do mundo. Foi toda reformada e ampliada e não parece uma escola, mas sim uma casa acolhedora.
Angela , a professora da Sala de Leitura me levou até este espaço mágico e eu fiquei boquiaberta. A escola antiga não tinha sala de leitura e apenas 150 livros., Agora tem uma sala imensa com 1.500 livros, um tapete mágico com almofadas, estantes lindas, duas mesas redondas com cadeiras e um sofá maravilhoso para as visitas. Pois a idéia é cada vez mais receber a visita dos pais na Sala de Leitura.
Angela me conta: ela criou o CLEO, um Clube de Leitura. São quinze alunos que ficam de meio-dia até às 14hs na escola, com autorização dos pais, para ler na Sala. Ficam duas horas lendo. De fevereiro até agora já leram 280 livros. O objetivo é que leiam TODOS os livros.
Os livros estão catalogados e arrumados de uma maneira genial, pelos membros do clube. Angela me disse: "Roseana, diga um número de 1 a 800." Eu disse "626" . Ela perguntou: "quem quer encontrar o livro? Vários alunos queriam e um deles foi até lá e em segundos trouxe o livro que é arrumado por letras e números. Na seção A ficam os mais difíceis, na B vai facilitando, até chegar aos livros sem texto. Por cada livro lido os alunos da escola inteira recebem uma moeda: a ozirete. É uma anotação num caderno. Cada livro tem um valor. Os mais difíceis valem mais. Os pais que buscam um livro para ler na biblioteca também ganham oziretes. Em novembro a sala de leitura fará um bazar com livros e artigos de papelaria e eles receberão as cédulas oziretes para que possam comprar. Só quem tiver oziretes poderá participar. A professora de matemática está aproveitando a idéia para falar de economia.Eles estão fazendo uma poupança, aprendendo a poupar.
Todos cuidam da Sala de Leitura como se fosse mesmo mágica e ela pode ser usada a QUALQUER HORA.  Eles fazem fichas de cada livro lido com uma pequena resenha.
Fiquei muito emocionada com o encontro. Eles eram educadíssimos e muito interessados em tudo. Já sonham em ser engenheiros, veterinários, advogados, escritores.
Que a E.M Oziris e a Angela sirvam de inspiração.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POESIA ESSENCIAL

Meu livro Poesia Essencial é uma mistura de quatro livros. Quando morei em Madrid me propus escrever um livro que falasse das cidades e da casa, já que viajávamos muito e eu estava numa cidade estrangeira.  Ficou muito bonito. Eu já tinha o Paredes Vazadas, Pássaros do Absurdo, e Caravana, inédito, que ganhou um concurso nacional de poesia, com muito prestígio , mas sem publicação. Mostrei o original As Cidades e a Casa para a Bia-Hetzel  e Silvia Negreiros e elas quiseram ver outros trabalhos (para adultos) e quando leram tudo , decidiram fazer uma antologia dirigida pela Hebe Coimbra.
O livro, para nossa surpresa,  recebeu resenhas lindas , foi muito bem acolhido e foi conquistando leitores desde a sua publicação em 2002. No ano passado ele entrou num projeto, o Portal do Saber e vendeu quase 500.000  exemplares que foram distribuidos para os alunos do Ensino Médio. Ele começou com uma capa verde, mas agora tem uma belíssima e discretíssima capa azul. Seus poemas possuem muita força e continuam impulsionando o livro como um vento bom.

CÁLICE

nem ao menos sei
se soletras meu nome
com a água da chuva
se misturas meu nome
às sombras que habitam
vez por outra
o teu coração
se derramas meu nome
no cálice da noite
como um cavalo que amoroso
com suas patas possuísse
a terra

in Poesia Essencial, ed. Manati  

domingo, 2 de setembro de 2012

LUNA

Luna, minha gata, se mudou para a lavanderia, uma casinha que fica no fundo do quintal. Ela não gostava mais da casa, talvez porque já tenha 12 anos e a Nana, nossa outra gata, ainda criança, quer sempre brincar. Luna deu vários avisos: fazia xixi e cocô fora da caixinha, em vários lugares da casa e já não queria mais comer nem entrar em casa. Tive a idéia de arrumar um apartamentozinho para ela na lavanderia e deu certíssimo. Abri mão de uma esteira onde fazia ginástica que era o seu sonho de consumo e agora ela tem a esteira, um tapetinho em cima da esteira, a sua comida, água, e o banheirinho. A porta da lavanderia fica aberta e ela entra e sai quando quer. Fechamos quando anoitece e ela já está lá na sua cama esperando a porta ser fechada. Passa o dia no jardim , às vezes vem até aqui dentro visitar a casa e volta para a lavanderia. Agora come, está feliz, dá para notar. É uma gata-ermitã.

sábado, 1 de setembro de 2012

O LAGO E A LUA

Ontem a lua estava linda. O mar prateado. A igrejinha no alto do morro iluminada de azul. Um cenário onírico. Fazia frio e eu adoro o frio. Era bom.

O LAGO E A LUA

Na pele da água
do lago
onde a noite flutua
como um barco,
a Lua é tatuagem
de prata.

Se balança a Lua
feito um gato,
equilibrida num fio
de vento.

Vai e vem
vem e vai
cai não cai...

A Lua do firmamento.

in Caixinha de Música, ed. Manati