terça-feira, 30 de abril de 2013

POESIA

Estou finalizando um livro, faltam poucos poemas. Estou começando outro, faltam muitos poemas. O bailarino tem a música e o corpo e o que está dentro do corpo. O pintor tem as cores e o mundo de fora e de dentro, o músico tem as sete notas e o universo, o escultor tem a pedra, o barro, a madeira e as formas que copia ou inventa ou transforma e o poeta tem as palavras e a sua alma. As palavras nas suas mãos como o barro, como a música, o movimento, as cores e as imagens que ele busca num poço profundo.

domingo, 28 de abril de 2013

O FÍSICO

Chegaram cedo ao nosso encontro, Mariana, que viajou toda a noite de São Paulo para Saquarema e Cristiano e Ana que vieram de Teresópolis.Agradeço especialmente a presença generosa destes leitores que vieram de longe. Não veio Ângela do Rio, mas mandou uma linda carta falando do impacto que  a leitura do livro O Físico, do Noah Gordon provocou em sua vida .  E a sala foi se enchendo aos poucos e ficou lotada. A discussão do livro, riquíssimo em todos os sentidos, foi quente e maravilhosa. Angela, professora do Osíris, fez um dos depoimentos mais emocionantes que já presenciei, de como este livro foi um grande estímulo para a transformação do seu olhar, de como agora ela sabe que não pode desistir da sua biblioteca, do seu projeto de leitura na E.M.Osíris aqui em Saquarema. Sou testemunha do seu belíssimo trabalho. Maria Clara, como sempre, nos traz com a sua leitura afiadíssima, novos ângulos do livro. Cristiano nos falou dos personagens como arquétipos. Ressaltamos todos como o autor soube amarrar todos os pontos, dar muito bem os seus nós de marinheiro urdidor do texto, nada fica ao acaso, embora não seja histórico, o livro está muito bem fundamentado. Juan nos falou da presença árabe na Andaluzia, da superioridade da cultura árabe sobre os europeus e todos destacaram as diferenças entre a Europa escura,  tenebrosa, atrasada, e a Pérsia luminosa, limpa, refinada, requintada. Foram destacadas  as belas histórias de amizade que permeiam o livro e muitos leitores se envolveram a tal ponto que acordavam de madrugada para continuar a leitura do livro! Gil nos falou que foi possuída pelo  livro com uma tal força que agora sim, sabe que é uma leitora. Hélio e Fernando sublinharam a beleza da cultura árabe, do convívio do judaísmo com o ilsamismo, o que também foi reforçado por Héctor fazendo um contraponto com a situação hoje no Oriente Médio. Felipe ressaltou a beleza do crescimento do livro quando é discutido em conjunto e Ana quer criar um Clube de Leitura em Teresópolis.
No final lemos os poemas árabes medievais, cada um mais lindo do que o outro, Aline queria se esmerar na pronúncia do seu poeta escolhido e Juan trouxe um poema belíssimo que leu em espanhol.
A surpresa: Mariana, bem escondida dentro da casa (quando os poemas começaram a ser lidos ela sumiu)   irrompeu na sala vestida como odalisca e dançou magnificamente, dançarina formada que é em dança do ventre. Ficaram todos de boca aberta e corações na palma da mão. Foi insuperável!
O almoço foi esplêndido: salada de grão de bico, arroz com lentilha coberto com uma camada de cebolas fritas no azeite e quibe de forno.  Fiz um pão integral, um com queijo e outro de milho e as sobremesas foram um capítulo maravilhoso: Vanda fez um pavê incrível, parecia uma espuma, Gil trouxe um doce de chocolate crocante indescritível e Hélio e Fernando trouxeram cuscus. Vinho tinto para aumentar a alegria e a temperatura amena, o dia tão azul, tudo à nossa volta era cenário.
E o próximo encontro será no dia 27 de julho na minha casinha em Visconde de Mauá. Para minha surpresa todos amaram a idéia e já irão reservar uma Pousada no Vale do Pavão. Para chegar na minha casinha basta seguir as setas do Babel Restaurante, é lá. Vamos ler A Mocinha do Mercado Central, da Stella Maris Rezende, ed. Globo e poemas do Leminski. Além disso cada um levará um conto das Mil e Uma Noites para prorrogar um pouco este clima oriental que nos encantou. 

sábado, 27 de abril de 2013

ENCONTRO

Hoje é o encontro do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. Levantei às 4hs , ainda está escuro, tomei café e amassei os dois pães para o almoço. Mariana, minha leitora que vem de São Paulo para o encontro deve estar chegando agora na Rodoviária. Vamos discutir O Físico do Noah Gordon e o livro nos traz o Oriente, esta palavra é tão vasta, abarca tantos sonhos, músicas, cheiros, basta pronunciá-la para que eu entre nas Mil e Uma Noites. Houve uma época em que os árabes eram tão refinados que a Europa , suja e rude, parecia estar ainda na Idade da Pedra. Traremos hoje , em nosso encontro, esta época.
Ofereço então aos meus leitores um damasco:

DAMASCO

Um único damasco
me traz o cheiro
do oriente,
suas sedas farfalhantes,
seus oásis escondidos
no coração do deserto,
camelos e dunas,
tesouros ocultos
em grutas e cavernas.
Mastigar um damasco
é percorrer ruelas de cidades
inventadas, perdidas.

in ABECEDÁRIO (POÉTICO) DE FRUTAS, ed. Rovelle 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

KLIMT

Há um canal novo na TV paga, o ARTE 1. Ontem vi um documentário alemão maravilhoso sobre Gustav Klimt, uma aula completa, um requinte total. E mostram a sua exposição chegando em Veneza e eu fui a esta exposição, eu estava lá! Fiquei impactadíssima. Vi também um documentário esplêndido sobre Portinari, uma verdadeira maravilha, outro sobre a Angel Viana e outro sobre a Marilyn Monroe. Além de um especial com o Tom Jobim. Tenho vontade de sapatear de alegria! Um canal assim é um sonho e cumpre totalmente a função que a TV deveria ter : educar com arte.
Hoje levantei às 4:30hs e agora o céu explode em todos os tons de rosa. Trabalhar neste estúdio suspenso sobre o mar e da minha janela as montanhas  e os telhados, é muita responsabilidade. Daqui é obrigatório que saiam belos poemas. E ontem a lua exatamente sobre a igrejinha, imensa, como se pudesse ser colhida com as mãos! Tanta beleza às vezes me deixa fulminada.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

SONS

Leio que no Japão milhares de pessoas vão ouvir a musica do vento num bambuzal gigante. A natureza produz os sons mais maravilhosos e relaxantes.
Fecho os olhos aqui na minha mesa onde escrevo e o canto dos pássaros se mistura ao som do mar numa teia espessa. Todos estes sons me envolvem, acariciam, escrevem poesia na minha pele.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Frases Mágicas

O dia começa lindo e muito cedo com nuvens tão coloridas e uma temperatura maravilhosa de vinte graus.
Encomendei ontem um livro de poesia árabe medieval que não chegará a tempo do nosso encontro do Clube de Leitura no dia 27, mas de repente me lembrei de um livro que tenho sobre os árabes na Andaluzia e assim logo no começo do dia encontrei um tesouro, o livro está cheio de poemas belos.
E na minha caixa postal três frases mágicas do grande poeta e crítico Marco Lucchesi sobre meu livro Abecedário (Poético ) de Frutas, ed. Rovelle:

"com as frutas e as flores de sua poesia

tudo muito bonito, roseana.

gde abraço e muito obrigado,  marco
 
Hoje tomamos café da manhã sobre uma linda toalha de mesa azul com flores bordadas . A toalha foi feita pela mãe de um aluno da E.M.Hermann Muller em Joinville. Foi uma troca: a criança leu os meus poemas e a mãe , em agradecimento, bordou flores numa toalha como um poema. A poesia assume diferentes formas.  
 
 

terça-feira, 23 de abril de 2013

BOSQUE DA MAGIA

Buscando poemas medievais árabes para o nosso próximo encontro do Clube de Leitura no dia 27, fiquei arrependida de não ter buscado um livro, mas afinal me enrolei com tantas viagens e outras coisas. Os poucos poemas que conseguí são lindíssimos . Mas tenho o livro do poeta Adonis, poesia árabe contemporânea, que é uma verdadeira maravilha. E a tradução de Michel Sleiman também é uma maravilha.. E agora sim vou comprar um livro de poesia árabe antiga que não chegará a tempo do nosso encontro.

BOSQUE DA MAGIA

Seja:
vieram os pássaros, amalgamaram-se as pedras,

seja:
acordarei as ruas e a noite
e passaremos pela alameda das árvores
os ramos serão malas verdes, e o sonho
travesseiro no entretempo das viagens
onde a manhã persiste estranha
e imprime seu rosto em meus segredos,

seja:
um raio apontou, me chamou uma voz
desde o fim das muralhas...

Adonis, poemas , ed. Cia das Letras

Para o nosso encontro do dia 27 quando será discutido o livro O Físico do Noah Gordon, preparei uma surpresa. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

FINAL DO CONTO

Hoje acordei muito cedo. Fiz o almoço às 6hs da manhã, pois tenho que ir ao Rio. E quando abri a porta para olhar o mar, um arco-íris belíssimo nascia do mar. Um presente para ser colhido com os olhos, com o corpo inteiro.
Hoje termino o conto Numa Aldeia Distante do livro Vento Distante da Ed.Escrita Fina:

   Começaram todos na aldeia a ter muito medo. Uns diziam que ela andava de madrugada entre os túmulos do cemitério cantando suas estranhas canções e rindo.
   Um dia a filha do alfaiate ficou doente. Ela era doce como um bolo de mel, e os aldeões queriam tê-la por algum momento entre os braços , pois seu sorriso iluminava até o rosto de um anjo. Ela até se parecia com um. A menina passara a noite ardendo em febre e de manhã todos já sabiam e buscavam ervas para um chá e unguentos. A mulher chegou de mansinho na casa do alfaiate com suas misteriosas canções. O alfaiate não queria deixá-la entrar: a esta altura todos já sabiam que suas canções matavam e que sua beleza se alimentava do sofrimento e da morte. Mas lá de dentro ouviu a voz da filha: "Deixa, pai, deixa." A mulher entrou com um sorriso e se aproximou da cama da menina. Puxou uma cadeira e sentou-se. Começou a cantar e ia tocar em seus cabelos quando a menina se sentou na cama e disse em voz alta e clara: "Eu sei quem é você e não tenho medo." A mulher empalideceu. A menina levou sua mão até o rosto da mulher e a acariciou, acariciou seus cabelos, seus olhos. A muher deu um grito e saiu correndo. Continuou a correr até chegar à sua casa, abriu a porta, entrou, e no dia seguinte, como a casa se encontrava completamente silenciosa e seu marido viajando, os homens resolveram entrar para ver o que havia acontecido. Ela estava morta em cima da cama, mas não era uma bela mulher. Era uma velha mais velha que o tempo, poderia ter uns 200 anos.Sua pele era como folha seca.
   Ela foi enterrada do lado de fora do cemitério e seu marido não voltou para casa. Nunca se soube como foi avisado. Sua casa ficou fechada por muitos anos, o mato a envolveu num manto misterioso. Ninguém queria entrar.
   A filhinha do alfaiate ficou boa e, quando perguntavam a ela o que havia feito para destruir o feitiço daquela mulher, ela respondia: eu não sei...

   Suspirei ao fim da história. Fechei os olhos. Eu era a menina doente que todos cuidavam. A mãe da Débora apgou a luz. Mal a ouvi sair do quarto. Minha amiga suspirou também. Na casa havia um silêncio espesso. Na neve, um trenó deslizava para dentro dos meus sonhos. Um anjo consuzia o trenó.

                                                       FIM  

domingo, 21 de abril de 2013

NUMA ALDEIA DISTANTE (Contiuação)

Continuo o conto:

   Uma vez, num país muito distante, numa aldeia pobre, vivia um homem que tinha muito dinheiro e uma bela casa. Diziam que ele trabalhava com pedras preciosas. Viajava muito e vivia sozinho. Mas um dia chegou à sua casa uma linda mulher.
   Na verdade, ela chegara durante a noite. Era uma noite de lua cheia e a neve brilhava como se fosse feita de diamante polido.
   Lobos uivavam ao longe. O único que a vira chegar fora o bobinho da aldeia, que sofria de insônia e vagava noites inteiras mesmo com neve. Pela manhã todos sabiam que durante a madrugada a porta do homem rico , comerciante de pedras preciosas se abrira quando um trenó chegou à sua casa, silencioso como a neve. Nunca se soube que tivessem se casado, mas parecia que sim, pois viviam juntos.
   Ela era maravilhosa. Andava pelas ruas de barro cantarolando numa lingua estranha como se andasse nas ruas das mais belas cidades do mundo. Seu cabelo era negro como piche e os olhos de um azul estonteante. Ela era de uma bondade extrema. Onde havia alguém doente lá ia ela cantarolando suas estranhas canções.
   Mas logo os habitantes da aldeia se deram conta denque alguma coisa muito maligna e misteriosa estava em curso, pois, cada vez que ela se aproximava da cama de um doente e pousava a mão em sua cabeça ou em sua testa, a pessoa rapidamente piorava e morria, e ela, a bela mulher, se iluminava com esta morte, ficava cada vez mais bonita e radiante.

                                 CONTINUA AMANHÃ

sábado, 20 de abril de 2013

CONTINUAÇÃO DO CONTO

É com grande tristeza que todos assistimos ao sequestro da mente de dois jovens belos e com muita vida pela frente por forças da violência, da destruição em massa. E recomeça o filme que foi quase interrompido a partir de 11 de setembro, é um horrível recomeço. Cuidemos dos nossos filhos, nenhuma ideologia ou religião pode semear a morte e usar jovens como instrumentos da dor..

E continuo conto Numa Aldeia Distante, do livro Vento Distante:

   Cheguei para o jantar. Débora me esperava tão feliz quanto eu. Depois de jantrar, fomos para o seu quarto. Sua mãe havia arrumado uma caminha para mim no chão    e deixou uma gaveta na cômoda para que eu pudesse guardar minhas coisas. Nos trocamos. Fazia friio e eu adorava meu pijama de flanela azul. Deitei na minha caminha como se fosse um leito de princesa. Saber que minha amiga dormia ao meu lado era um presente maravilhoso. Será que sonharíamos as mesmas coisas?
   A mãe da Débora veio dar boa-noite e apagar a luz. No dia seguinte, sábado, poderíamos acordar tarde, não tínhamos aula e ela prometeu nos levar a um parque de diversões.
   Débora pediu:
   _ Mãe, antes de apagar a luz conta uma história?

   _ Qual história você quer?
   _ A da mulher que chega num trenó.

   Afundei na cama para ouvir. Na minha casa ninguém me contava histórias antes de dormir.

                       CONTINUA AMANHÃ

sexta-feira, 19 de abril de 2013

NUMA ALDEIA DISTANTE

Em 2010 publiquei pela ed. Escrita Fina um pequeno livro de contos para jovens, um pouco assombrados, com um tanto de medo : VENTO DISTANTE
Vou reproduzir aos pedaços um dos contos, o meu preferido. Cada dia escreverei algumas linhas:

NUMA ALDEIA DISTANTE

   A casa da minha amiga Débora ficava no final da vila, era a última casinha, junto de um banco de pedra. Era linda, com cortinas de renda branca nas janelas, tapetes floridos e duas gatas angorás. A casa estava sempre cheirando a bolos de mel e biscoitos de nata. Dentro da cristaleira da sala sua mãe guardava as suas compotas de frutas. Havia um relogio cuco ali que, de hora em hora, cantava para mim.
   Débora sentava ao meu lado na escola e fazíamos tudo juntas, éramos inseparáveis. Nossas mães se conheciam e parecíamos uma grande família.
   Às vezes eu levava algumas bonecas e nós duas gostavamos de brincar de teatro com elas - eram ótimas atrizes. Alguns dias eu ficava para almoçar, fazíamos os deveres juntas e, no final da tarde, quase noite, minha mãe me buscava. As duas mães conversavam um pouco, e eu ia embora triste.
   Um dia, minha mãe me disse que arrumasse algumas roupas numa sacola, pois eu passaria uma semana na casa da Débora. Meus pais teriam que viajar e já estava tudo combinado.Fiquei radiante, nunca dormia na casa da minha amiga. Separei tudo: cadernos, lápis, um livro que amava - eu já sabia ler.

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                          CONTINUA AMANHÃ
   


quinta-feira, 18 de abril de 2013

AINDA O MAR

Juan me pergunta: _ O que você acha pior, terrorismo ou guerra?
Acho as duas possibilidades pavorosas e não há nenhuma escolha possível, há que recusar as duas e como no belo poema do Paul Éluard , "Liberté",  há que escrever liberdade e paz em todos os lugares, pois as duas palavras caminham juntas.
E como a humanidade é insana eu olho o mar que , indiferente, eterno, fabrica as suas ondas imensas e faz música incessantemente.

CORPO-MAR

Todos os rios, fios de água,
pingos, chuvarada, poços,
mananciais, nascentes,
cachoeiras, deságuam
em meu corpo miúdo,
meu corpo-mar.
Eu, tão terrestre e,
no entanto, navegante
das ondas mais altas.
Do cimo das espumas
grito palavras
embrulhadas em água:
palavras úmidas,
abafadas, quase um eco.

in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva

quarta-feira, 17 de abril de 2013

NOTÍCIAS DO MAR

O mar está imenso, de ressaca. Quase apavorante. Olho pela janela do nosso estúdio, aqui sentada, parece que ele vai invadir a casa. Sempre gostei da natureza selvagem, sinto uma espécie de euforia. Não tenho medo. Fico possuída pela beleza.

Na aula de pilates a fisioterapeuta me pergunta: _Você escreve sobre a dor?
Meus poemas, como já escrevi no livro Artes e Ofícios, são pássaros desobedientes e amestrados. Contorno a dor como um barco contorna o penhasco e fico com o que é belo.

Ontem recebemos as minhas editoras da Rovelle, Carolina e Miriam. Adoro cozinhar para os amigos e elas trouxeram pilhas de livros para que eu autografasse. Foi uma tarde lindíssima. Recebemos a visita da Ana Paula, Secretária de Educação de Saquarema. O trabalho da Ana Paula é magnífico, as escolas daqui são maravilhosas e ela me conta: há um novo projeto de leitura: Leitura como matéria obrigatória. Eu já não participo, mas acho que deixei uma semente.

OUVIR ESTRELAS

Mergulhar os ossos
na tinta fresca do universo
apanhar com a boca o voo
dos peixes e pássaros
arrancar da terra as palavras
e guardá-las em algum lugar obscuro
da casa
pegar das estrelas
seu grito de pavor e luz.

in Pássaros do Absurdo, ed. Tchê, esgotado.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

SEGUNDA-FEIRA

Gosto demais da segunda-feira quando parece que entra pela janela um vendaval de coisas para fazer e eu amante das listas já vou enumerando.
Trocar a capa do meu site : às 8hs da manhã já estava aqui o Gabriel , menino maravilhoso, que cuida do meu site para buscar o livro, escolhi uma página do Abecedário (Poético) de Frutas que vai substituir a capa.
Escolhi o livro que me olha desde muito tempo , mas agora estou preparada para a sua leitura: Pós Guerra do historiador Tony Judt . É minha próxima leitura principal, há muitas vias paralelas.
Estes são os itens prazeirosos da minha lista, o resto é muito chato e não vou contar.
Estou escrevendo dois livros novos. Um para criança e outro para adolescente., Digo isso por questões de mercado. Os poemas de ambos os livros podem ser lidos por qualquer leitor. E aguardo meu próximo livro, que sairá pela Callis: "Quem vê cara não vê coração" , já está na gráfica e está lindo, já vi o pdf.
Bia hetzel e Silvia Negreiros, minhas amadas editoras da Manati já devem estar pensando em algum ilustrador (a) para o nosso próximo livro: "Carta na Manga".
E amanhã recebo aqui em casa para o almoço as minhas editoras da Rovelle, Miriam e Carolina Braga que me trazem uma pilha do Abecedário para autografar. Penso na comida e sinto seu cheiro e sabor: farei uma muqueca com farofinha de dendê. Tenho um compartimento na mente só para comidas, é como se fosse uma gaveta sempre entreaberta e vou sentindo sabores e texturas.

domingo, 14 de abril de 2013

POEMAS CHINESES

O mar ruge atrás de mim, o dia está escuro, choveu a noite inteira. Foi muito boa a minha estadia em Brasília, é maravilhoso rever amigos queridos. A Iris, que é sempre uma dádiva. Stella Maris, que foi até a Feira só para me ver e é de uma delicadeza rara, Celso Sisto e Tino Freitas. A minha fala foi para um público pequeno e foi íntima, ninguém queria ir embora! Ontem, ao chegar em casa, parecia que estava entrando numa outra dimensão,  num espaço de sonho, me senti flutuando. Estava exausta, completamente. 
No final do dia vi na TV5, no programa Thalassa, uma reportagem sobre Istambul e suas várias facetas. Os últimos achados arqueológicos são magníficos, barcos e barcos carregados de ânforas onde antigamente havia mar e era um porto. E meu livro de poemas chineses que pensei que havia deixado no avião, foi encontrado. Na verdade estava no carro que me levou do aeroporto até o hotel e o motorista mandou me entregar. Os poemas são mais do que as ânforas e datam quase da mesma época. São também tesouros arqueológicos, uma maneira de viver, de pensar, há todo um mundo antigo (ano 700) que nos é mostrado. Mas os poemas são como pão fresco, parecem escritos ontem, são lindos.. O poeta está vivo e respira ao meu lado. Muito emocionante:

O TEMPLO NA MONTANHA

Passo a noite
   no Templo da Montanha.
Se estender a mão,
   posso tocar as estrelas,
mas falar não ouso:
   tenho medo de incomodar
os que moram no céu.

Li Bai, in Poemas Clássicos Chineses, ed. LPM Pocket, edição bilingue.

 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

BRASÍLIA

A minha passagem por Joinville foi avassaladora. Fortes emoções. Eu e meu filho Guga Murray saímos de Resende na segunda-feira às 14hs e eu já estava bem gripada. Chegamos na casa da Silvane, diretora da E.M.Hermann Müller à meia-noite! Acordei pior, com febre e um mal estar indizível, mas a maravilha que foi o nosso encontro nas duas Escolas Herman Müller me fez aguentar. Parecia que eu estava debaixo de uma cachoeira de amor.
No dia seguinte, na Feira, fiz duas palestras e uma mesa redonda. Guga fez dois Concertos. Ainda conseguimos visitar o balé Bolshoi pelas mãos da Bernadette e tivemos a sorte de assistir a um ensaio de dança contemporânea.
Nas Feiras sempre encontramos amigos, Suzana Vargas, Leo Cunha, Affonso Romano e Marina Colasanti e eu tive a sorte de ter uma mediadora esplêndida, a Thaisa, que me deu um grande suporte afetivo.
Agora estou em Brasília, melhor da gripe mas ainda um pouco cansada. Comprei um livro de poemas chineses, belíssimo e perdi, estou inconsolável.
Hoje só falo à noite e vou dar um pulo na Feira depois do almoço para ver o Celso Sisto.
No café da manhã A Coréia da Norte colocou algumas pedras no meu coração. Vamos torcer para que tudo acabe bem.
Amanhã: casa. Estou mesmo desejando voltar para casa, Juan, as gatas, o mar.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

MAUÁ-RESENDE-JOINVILLE

Estou em Resende. Embarco no ônibus das 14:15hs para o Rio e de lá para Joinville.
O lançamento do livro Abecedário (Poético) de frutas, ed. Rovelle, no Centro Cultural Visconde de Mauá no dia 4 foi muito emocionante. Nelson Ayres, um dos grandes músicos do Brasil tocou com meu filho Guga Murray e sua filha Laura Ayres nos envolveu numa torrente de amor e veludo. Todos os amigos da minha juventude estavam lá e a exposiçao das aquarelas da Cláudia Simoes era belíssima.
Agora é soprar um vento bom para que meu livro voe  junto com o Diário da Montanha.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

FIO DE LUA&RAIO DE SOL

Estou aqui em Resende, no Babel Escola,  e meus filhos André Murray e Dani Keiko já estão na cozinha preparando o coquetel do lançamento amanhã em Visconde de Mauá. É lindo vê-los trabalhando e fico emocionado quando penso todas as mãos amorosas que estão preparando a chegada do meu novo livro Abecedário (Poético) de Frutas.
Ontem eu e minha nora Patricia de Arias assinamos o contrato do livro Fio de Lua&Raio de Sol que escrevemos juntas. Patricia fez os poemas de lua e eu fiz os de sol. O livro sairá pela Ibep Jr em setembro e foi muita coincidência estar aqui para fazer todo o ritual com a Patricia: assinar, ir ao cartório, reconhecer firma, ir ao correio...
Hoje cedinho de manhã li o livro da peça Pequeno Poema Infinito do Lorca pelas mãos e corpo do José Mauro Brant. Fiquei tomada de emoção. Que texto maravilhoso! Nem acredito que fui eu quem traduziu.
Joinville já prepara a minha chegada com o Guga Murray na bagagem. Estou radiante em poder abraçar as crianças da E.M Hermann Müller. Ontem no ônibus me ligaram da Feira de Joinville e me falaram que a procurara era tanta pelo nosso espetáculo que teremos que fazer duas apresentações para 1000 crianças!
E la nave va.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

ESPAÇO FÍSICO

Semana passada li sobre escolas depredadas no Rio de Janeiro. É muito triste. O espaço físico é importantíssimo para a nossa saúde psíquica, nosso bem estar, nossa auto estima. Escolas esburacadas, com paredes rachadas, quando chove as salas ficam alagadas, o que acontece com as crianças que já trazem de casa tantos problemas? A escola precisa ser uma ilha de bem estar cercada por livros de todos os lados. A escola pode ser pobre mas tem que ser limpa e linda, para a criança saber que ela merece um ambiente leve e acolhedor. Escolas semi destruídas criam alunos tristes e agressivos e o que dizer dos professores espancados por alunos? Há que refletir urgentemente sobre o tema. E achar uma saída, que aliás, é muito simples, mas é um processo.