quarta-feira, 31 de julho de 2013

VOLTA PARA CASA E CLUBE DE LEITURA

Depois de vinte dias na minha casinha da montanha voltei ontem à tarde para casa. Lá não tenho internet e foram dias magníficos de mergulho num outro mundo.
Nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela desta vez aconteceu na montanha. Muitos aproveitaram para passar alguns dias de férias com a família em Visconde de Mauá.
A nossa reunião começou na varanda do Babel Restaurante do meu filho André Murray, com sua vista magnífica. Discutimos o livro A Mocinha do Mercado Central de Stella Maris Rezende,ed. Globo.
O que seduziu a todos foi o jogo com os nomes. A cada novo nome acrescentado uma nova personagem nascia e todos ressaltaram o jogo de espelhos, o teatro. A estrutura do romance, nos levava a discutir o texto como um quebra cabeça. Movíamos as peças no tabuleiro .O que era sonho, o que era realidade ou ficção , impossível dizer. Ressaltamos o "aparato" imagina-mágico . A partir destas duas palavras tudo se torna possível.
O pai da mocinha foi posto no banco dos réus e absolvido. O romance , de busca do pai, do amor, de novas identidades para encontrar a sua própria identidade ia sempre se desdobrando, se abrindo em encontros mágicos e desencontros: o desencontro da Valentina com a vida. O romance traz para o leitor temas fortes e violentos , estupro, suicídio, a morte de uma criança. Mas com extrema delicadeza vai desatando nomes e nós. Para todos os leitores do Clube, a autora deixou o final em aberto. Assim cada um podia escrever o seu final, escolher um caminho. Todos sublinharam o encontro da mocinha com a poesia , pura magia.
Depois brincamos com o significado de nossos próprios nomes e eu ganhei meu nome escrito num grão de arroz, presente de Gil e Maria Clara.
Num segundo momento ouvimos histórias das 1001 Noites e poemas do Leminsky.
E então fomos para a minha casinha onde comemos um cozido magnífico preparado pelo meu filho André.Fazia frio, a amizade e o prazer do texto discutido nos aquecia. Tivemos novos leitores em nosso encontro: Fátima, César, Denise e algumas jovens e lindas meninas.   Maria Clara e Gil plantaram bromélias na mata que envolve a casa. E uma alegria imensa jorrava de dentro de mim.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

DE MALA PRONTA

Minha mala já está pronta: roupa de frio, livros. Amanhã às 5hs manhã vou para a minha casinha da montanha. Lá não tenho internet, portanto ficarei ausente até os primeiros dias de agosto. Não se esqueçam de mim. Quando for visitar a minha irmã em seu ateliê, escreverei contando .

terça-feira, 9 de julho de 2013

CONTINUANDO O CONTO

Continuando o conto:

   Bella me transformou. Sua escrita delicada construiu pontes de silêncio dentro de mim. Seu jeito de olhar a vida, os objetos, as pessoas, foi uma revelação quase religiosa. Ah, se ela soubesse que andaria assim pela minha vida, pelas minhas ruas, dentro do meu sangue, tão longe no tempo e no espaço da sua Vitebsk natal! Enquanto eu a leio, as palavras que contam a sua vida vão fazendo em minha alma um mosaico de músicas, imagens, cheiros. Não conheço a Rússia e com certeza a cidadezinha onde viveram Bella e Marc Chagall não existe mais ou se existe ninguém daquela época a reconheceria hoje. Mas eu a reconheço e a umidade que se desprende do rio, assim como o pátio das casas.
   Durante muitos anos, este pequeno livro de capa azul andava sempre em minha bolsa, em minhas mesas. Quando eu estava triste eu o abria ao acaso e deixava que Bella conduzisse minha alma. Dentro de mim, essa mulher que nunca conheci, que morreu tão jovem, essa mulher feita de palavras, arruma os castiçais. Suas velas nunca se apagam. As palavras não morrem.

                                          FIM

segunda-feira, 8 de julho de 2013

UM CONTO

Vou contar um conto . Hoje um pedaço e amanhã termino. Este conto está no meu livro Território de Sonhos da ed. Rocco e nasceu da minha paixão por um livro. Paixão violenta.

PALAVRAS

Bella é seu nome. Viveu no começo do século XX, numa pequena cidade chamada Vitebsk, na Rússia. Tenho um livro nas mãos. Sua capa é azul e se chama "Luzes Acesas". O livro foi escrito por Bella Chagall e é todo ilustrado em bico de pena pelo próprio Chagall. Ao abrir o livro, o texto mais delicado de que se tem notícia me agarra pelos cabelos e me leva para junto de uma criança, Bella. Estamos juntas num trenó, embora ela não me veja. Descemos encostas íngremes cheias de neve, é noite. Sem saber, Bella me conduz tão grudada em sua pele, que já não se distingue quem é a leitora e quem é a escritora. Entramos numa casa de banhos rituais. Quando voltamos, Bella tem sono e eu também. Fecho o livro. Dormimos as duas: ela, viva novamente. Mais tarde, com Bella, atravesso a ponte da cidade rumo à casa de sua amiga Théa, onde ela conhecerá seu único e grande amor, Marc Chagall. Assisto a festas, casamentos, juntas viramos a cidade pelo lado avesso. Enquanto leio, somos uma, nosso coração bate em uníssono. Vejo Chagall pintar o quadro "O Aniversário". Bella havia enchido a pequena casa do pintor de tapetes e flores e com um buquê nos braços sairam os dois voando pela janela.
As palavras de Bella me enfeitiçam, me transformam. Ela faz de mim a ouvinte da sua vida tão breve, a ouvinte de seus segredos. Espectadora dos seus sonhos, eu a vejo encher cadernos e cadernos em sua lingua natal, para que um dia travessassem o tempo e chegassem às minhas mãos.

                         CONTINUA AMANHà

sábado, 6 de julho de 2013

ALIMENTAÇÃO

Continuo a falar do café da manhã. Aqui estou novamente com a minha xícara de café com leite quente e já amanheceu. Faz frio aqui em Saquarema e o céu está lindíssimo. Ouvi o jornal sendo depositado na caixa do correio. E a primeira notícia da capa é justamente sobre alimentação. O subtítulo é: "TCU tira verba de seu programa de controle de gastos para pagar auxílio retroativo de ministros". E a notícia continua dizendo que "a presidência do Tribunal de Contas da União (TCU) retirou R.1.02 milhão do programa de fiscalização da aplicação dos recursos públicos federais , etc, etc, para depositar R.636.5 mil nas contas pessoais dos seus ministros, doze na ativa e seis aposentados. É um auxílio alimentação retroativo."
Nosso dinheiro está pagando o que os ministros já comeram.
Não sei o que dizer sobre isso.É tamanha a vergonha que sinto . Por que a alimentação deles precisa ser paga separadamente ? Além do salário precisam receber auxílio alimentação?  E por que fazem o tempo andar para trás se já comeram? É um teatro macabro. Já que falo sobre o meu café da manhã, deixemos que o leite ferva e entorne. Pelas praças e ruas e ruelas. Sem violência. Basta a nossa indignação.  E um dia eles também sentirão vergonha e medo.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

IMPOSTOS

Ainda é noite, mas acordo muito cedo. Escrevo na mesa do café  da manhã que se aproxima (em silêncio). Bebo café com leite e como uma fatia da broa de milho salgada que fiz ontem à noite. Meu café não leva açúcar . Não sei o custo do que comi, mas sei que grande parte deste custo volta para o governo , paga-se muito imposto em cada alimento . Então o voo dos jatinhos dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado foram pagos , em parte, com o que como. E este recurso deveria ser usado para o bem da população. Embora a lei diga que isso é possível, o bom senso, quando  se sabe tudo o que precisa ser feitoi no Brasil, nos diz que isso é  vergonhoso. Desperdiçar dinheiro público deveria ser crime gravíssimo. O que os dois políticos fizeram é um ato de extremo descaso e arrogância com todo o povo brasileiro no momento em que o povo descobre que desde tantos séculos vem sendo enganado.. 
Ontem vi no noticiário uma escola em Friburgo, na Serra do Rio de Janeiro, ainda depredada desde as últimas enchentes . Os recursos para a reconstrução foram liberados mas a escola continua como estava.
Dinheiro público deveria ser sagrado, intocável, deveria ser usado apenas para o bem da população. Como um governo pode manter tantos Ministérios com o nosso dinheiro? Às vezes o que é óbvio fica invisível.
Mastigo todas estas questões junto com a minha broa de milho.  

quinta-feira, 4 de julho de 2013

PROJETO GRÁFICO

Ontem recebí o projeto gráfico do livro Fio de Lua & Raio de Sol que sairá em setembro pela IBEP Jr. Patricia, minha nora, poeta andaluza, escreveu os poemas da lua e eu fiz os poemas de sol. O projeto está lindíssimo, o livro já vem todo diagramado e onde há uma mancha cinza, Regina Rennó colocará suas belas ilustrações. É o primeiro livro da Patricia que já tem outros dois na fila que serão publicados pela Rovelle.
Conheci Patricia em 1998 em Granada, ela é sobrinha do meu marido. Ela me mostrou seus poemas e eu nunca poderia sonhar que faríamos um livro juntas algum dia, que no futuro ela se casaria com meu filho Guga, que me daria o Luis (que já virou livro, é claro, o Lá Vem o Luis, ed. Leya).
A hisória de amor foi assim: Patricia veio nos visitar em Saquarema e Guga que morava em outra cidade estava aqui nos visitando. Quando ela chegou e eles se olharam, eu vi eles se apaixonando. Guga tinha, por coincidência, um trabalho nas Ilhas Canárias para um mês depois e de lá já foi para Granada. Logo se casaram aqui em Saquarema. E agora eu tenho a alegria de apresentar a linda poesia da Patri. Sou sua tradutora, pois embora ela more no Brasil, sempre escreverá em espanhol, a sua lingua. O meu desafio é fazer com que o leitor nem repare que os poemas não foram escritos em português. E sinceramente, acho que conseguí.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

DIA MÁGICO

Ontem fiz parte de uma das festas mais lindas da minha vida, na Biblioteca Parque Manguinhos, um espaço totalmente mágico, dentro de uma comunidade bastante precária. A Biblioteca tem 23.000 metros quadrados e é completíssima, tem até teatro. Fui pelas mãos da Ed. Rovelle e logo ao chegar nos esperava uma bela mesa de café da manhã. Os professores foram chegando e me abraçando, querendo fotos, construindo para mim um casulo de amor. O evento era a entrega dos prêmios do Concurso dePoesia do Município para alunos e profissionais da Educação e faz parte do projeto Poesia na Escola. Eu era a poeta homenageada.A MultuRio passou um filme com poemas concretos dos alunos, uma maravilha. A Secretária Cláudia Costin estava presente e sua bela fala, pessoal e poética emocionou..Depois vieram os prêmios, depois eu falei. Mas  o melhor estava no palco: a Orquestra da Maré. Que maravilha! Haja coração! Ela é a prova viva de quantos milhões de talentos se perdem por este Brasil afora. É a prova viva de que a arte salva e transforma. Guardarei esta manhã como uma das mais belas experiências que já vivi. Os livros premiados que ganhei de presente , me trazem uma linda poesia.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

FRESTA/FRONTEIRA

Gosto da palavra fresta, que nos permite passar para outros mundos, atravessar espelhos e paredes. Gosto da palavra fronteira que também nos permite passar, embora os homens tenham criado fronteiras artificiais e guardas para impedir a passagem.Cada vez mais as fronteiras se diluem, ficam enevoadas, quase líquidas. Fronteiras entre países com o mundo globalizado, fronteira entre etnias, cores, gêneros literários e sexuais. Até os idiomas se interpenetram, palavras estrangeiras se alojam na nossa lingua e vão ficando. A poesia é o melhor meio de transporte para se atravessar frestas e fronteiras.

POEMA

Um poema líquido
que escorra
pelas frestas do dia,
encontre o tempo exato
onde a noite cai
e traga para dentro da vida
a fragrância de flores:
violetas, margaridas, jasmins.

in Carteira de Identidade, ed. Lê