sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

EM MAUÁ

Este lugar onde estou é mágico. Quando compramos o sítio em 1975 tudo era pasto , poucas árvores aqui e ali: araucárias, uma grande jabuticabeira, umas quaresmeiras. E só. Plantamos muito nestes quase 40 anos. Mas a verdade é que a floresta se refez. Deixamos a terra em paz e hoje estamos cercados de florestas. Foi morando aqui que publiquei meu primeiro livro.  Sinto que a minha poesia se alimenta destas árvores, deste lugar maravilhoso. E o ciclo se completa. Meu filho André fez aqui seu restaurante, o Babel e Guga teve aqui as suas primeiras aulas de música e nos fins de semana vem para cá. Então tenho os filhos e os netos bem juntinho. Numa mesa bem grande nos reunimos todos. Pão e vinho , comida do fogão de lenha e muito amor. Como agradecer tantas dádivas?

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

DIÁRIO

Quando tinha uns onze anos eu tinha um diário, pois adorava escrever. O diário se perdeu, claro, mas adoraria ler alguma daquelas páginas da minha vida de menina. Escrevia também pequenos contos que lia para minhas amigas no colégio Hebreu Brasileiro onde estudava. Elas me ouviam e gostavam. Todos os contos se perderam, claro. O banheiro era um lugar interessante. Ali falávamos dos meninos e nos tornávamos cúmplices. Algumas mais corajosas matavam aula no banheiro. Fui crescendo e escrevendo. Até que me casei com 17 anos e tive um filho com 18. Então saí da adolescência brutalmente e me perdi de mim e parei de escrever por exatos dez anos.  Foi a escrita que me recosturou. E meus livros me levaram por aí, me fizeram voar.

Amanhã vou para a montanha . Talvez desapareça por uns dias.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

VÍDEO DA CASA AMARELA

Lá pelo meio dos anos noventa conheci o Caó na Bahia. Ele me mostrou seus livros, seus desenhos e fizemos uma parceria. Temos vários livros juntos e as crianças realmente amam o seu trabalho. Um dia ele veio aqui em Saquarema me visitar. Estava por aqui perto. Seus desenhos animados ganham muitos prêmios. Tenho vários poemas animados no meu site, feitos pelo Caó. No dia da visita ele ia nos filmando o tempo todo e me disse que ia fazer um filme sobre a gente. Eu não acreditei. Até que ontem ele me enviou o trailer do filme.que está no yutube e no facebook . Fiquei radiante com este presente inesperado, porque o filme é a minha cara! Não é sério, não é certinho, é bem maluquinho, mistura filme com fotos, com desenhos da cena que passou. E ele mostra o esboço da casa amarela até chegar ao seu resultado final. Adoro quando o artista mostra seu processo de criação. Enfim, estou muito feliz. Acho que a minha casa amarela com seus habitantes e visitantes, já virou personagem.
E lembro que nossa casa está aberta para receber escolas. Basta agendar comigo.                     

domingo, 23 de fevereiro de 2014

ALGUÉM PARA CORRER COMIGO




Nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, ontem, dia 22-02-14, foi cheio de alegria e surpresas maravilhosas.  Recebemos gente nova. Jurema e Caroline, professoras, vieram de São Paulo! Viajaram a noite inteira para estar aqui. Fiquei muito emocionada. Vieram também, pela primeira vez, José Prado, editor, Miriam,que também foi minha editora e duas alunas da Estação das Letras. Temos assim, um grupo bem heterogêneo  bem variado: Contadores, advogados, um vereador, professores, uma agente de viagens, uma ex diretora de escola, um arquiteto e escultor. Talvez seja esta diversidade o que torna o grupo tão interessante. As primeiras a falar sobre o livro Alguém para Correr Comigo, do israelense David Grossman, foram Maria Clara e Leila .   Maria Clara disse que de todos os livros lidos no nosso Clube, esse tinha sido o que ela mais gostou. Leila falou que se viu adolescente, com todas as indagações, questões existenciais, oscilações de auto-estima próprias desta época.  E acrescentou que achava que todos sentiram o mesmo. Hector leu algumas frases do livro em hebraico para que todos pudessem ouvir a sonoridade da língua original. Maria Clara ressaltou o tempo da narrativa, super interessante, os personagens estão sempre em tempos desencontrados e seus tempos só se encaixam no final. Várias pessoas leram trechos belíssimos do livro e falaram que é um livro policial, é um livro de amor ,e principalmente de amizade. Amizade da irmã pelo irmão, o que leva a personagem Tamar a viver situações limite, colocando várias vezes sua vida em risco. A cadela Dinka que leva Assaf a conhecer lugares e pessoas estranhas foi para muitos, a personagem principal. Uma trama toda picotada, um verdadeiro quebra cabeça onde pouco a pouco as peças vão se encaixando. Falamos da gruta para onde Tamar leva o irmão como lugar de renascimento. Falamos da capacidade maravilhosa de Tamar para ouvir.Da sua capacidade de ser para cada pessoa o que a pessoa precisava que ela fosse. Todos falaram do ritmo vertiginoso do livro . Todos falaram do começo do livro, confuso e difícil. Felipe falou que o livro é cheio de silêncios. Caroline disse que esperava um final mais mágico, menos real, eu discordei e disse que achava que o final era perfeito. Felipe disse que concordava com ela. E que eu tinha o péssimo hábito de maltratar as pessoas que vinham pela primeira vez. Ele disse que com personagens tão bizarros e situações inusitadas ele também queria um final mágico. Juan disse que a vida sempre supera a ficção e que a história de cada um é sempre extraordinária. Hélio falou que ficou surpreso de que Jerusalém, a mítica cidade , tivesse este submundo apresentado no livro. Juan lembrou que cada cidade tem várias camadas, várias cidades na mesma cidade. César disse que Tamar lhe parecia um espírito muito iluminado. Todos nos apaixonamos pela Freira Theodora.
Enfim, todos amaram o livro. Nossas discussões são feitas com o coração.
  Ângela trouxe para o Samuel, nosso jardineiro e ouvinte assíduo das discussões, de presente de aniversário, já que era seu aniversário, uma camiseta preta com o desenho da casa amarela com o título do clube. A camiseta era tão linda que todos morremos de inveja!
E o almoço foi servido no fogão de lenha, tudo preparado pela Vanda e sua filha Aline: Salada verde, maionese de batata, arroz de forno e abóbora com carne seca. Pães com azeite. Flora trouxe dois pães integrais magníficos Eu fiz um pão branco com a mão esquerda somente. Tudo regado a espumante, vento do mar e alegria. Brindamos ao Samuel, que cuida do nosso jardim desde 2002 e prepara a casa para receber o Clube. Com uma torta maravilhosa cantamos parabéns para ele e nosso próximo encontro será  dia 12 de abril com os livros A Tempestade de Shakespeare e Anedotas do Destino da Karen Blixen.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

RACISMO

Leio hoje que uma agência que fornece enfermeiros para idosos pergunta em seu questionário se o idoso (a) tem alguma restrição de cor.
Uma australiana , num Salão de Beleza, não quis fazer a unha com uma manicure negra.
Um jogador negro foi xingado de macaco.
Não há uma palavra adequada para este tipo de atitude abjeta. Racismo é uma palavra fraca. O que faz um ser humano se sentir superior a qualquer outro ser humano? Não existem raças, existe GENTE, a pior espécie do planeta Terra, capaz de destruir todas as outras espécies. Ao mesmo tempo, a única espécie capaz de produzir engenhos e arte, a única espécie capaz de viajar no tempo, imaginar... Com que direito um ser humano se sente superior a outro? Somos todos iguais e todos diferentes. Somos todos mortais.
O racismo é um crime e uma doença. Se fizermos, dentro de nós, no escurinho dos nossos pensamentos, alguma restrição a qualquer tipo de gente, pela cor da sua pele, religião, etc, etc, há que lutar e vencer este sentimento, como há que arrancar num jardim as pragas e as ervas daninhas.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

MÃO ESQUERDA

Nunca imaginei que conseguiria fazer tantas coisas com a mão esquerda. Antes da cirurgia do túnel do carpo eu treinava e era um fracasso. Agora o cérebro sabe que não há outro jeito... Digito, hoje fiz um pão, faço café... Faço quase tudo com a mão esquerda e a direita imobilizada até o dia 26.

Recebi para este ano várias agendas lindas, mas a da ed.Rovelle tem sabor de fruta. Para cada data a editora escolheu um livro e para o Dia da Poesia escolheu o meu Abecedário (Poético) de Frutas.

Quando eu era criança minha babá Eunice me levava para feira. Era uma festa. Eu ganhava frutas e doces e a minha paixão eram as bananinhas ouro. Até hoje a minha alegria é ver uma fruteira bem cheia e colorida. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SOBRE O POEMA

Diz Neruda em "Confesso que vivi" que o poema é como um pão ou uma cerâmica. Acho isso lindíssimo, o poema que nos alimenta, o poema que perdura dentro da gente. Tanto o pão quanto a cerâmica precisam ser amassados com as mãos. O corpo participa da feitura do poema, do pão e da cerâmica. 

Diz Octavio Paz, no belo livro " A duas vozes", que "o poema promove a intensificação da experiência presente, é uma imersão em camadas mais profundas da temporalidade, nas quais já não há mais a distinção entre o passado, o presente e o futuro." Então, dentro do poema o tempo simplesmente É.Sem divisões. A experiência poética nos leva a um mergulho para dentro de nós mesmos e para dentro do tempo.

Eu tinha uma amiga camponesa em Mauá na minha juventude. Ela tinha a idade da minha mãe. Quando saiu meu livro Fruta no Ponto, levei para ela ver as imagens, ela não sabia ler. Sua cozinha tinha um lindo fogão a lenha mineiro sempre aceso e dois bancos toscos, isso era tudo. Seu marido estava sentado num dos bancos perto da janela enrolando um cigarro com fumo de rolo, a cabeça baixa, na nossa frente, do outro lado da cozinha. D. Maria me pediu para ler o livro em voz alta. Li todos os poemas enquanto o fogo crepitava. Quando terminei, S. Elói se levantou e começou a gesticular e falar e tocava o coração querendo dizer a sua grande emoção e quase não conseguia. Era um homem rude, de mãos calosas e sempre sujas de terra. E ali experimentou algo que nunca havia sentido.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

ARCO-IRIS

Sempre acordo cedo. A manhã estava linda com o céu bem tumultuado e cheio de nuvens. Parecia chover no mar. Mas eu não tinha mais nenhuma esperança de que fosse chover e já me conformava com a umidade sobre as plantas. E de repente a chuva . Sem sudoeste, que é o telegrama do mar. Durou meia hora mais ou menos a linda chuva. E veio o sol enquanto chovia e um arco-íris nasceu no mar.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

AQUI E AGORA

Tenho uma deusa na minha vida. Fiz com ela algum tempo de terapia bio energética e ela me ensinou a meditar. Ela me ajudou a aceitar os limites físicos. Ela me passava dever de casa: exercícios de felicidade.
Estar aqui e agora é difícil para nós, ocidentais. A meditação ajuda. O passado é nosso tesouro de experiências, vivências, conhecimento. Mas podemos nos enredar em sua teia e ficar paralisados.  O futuro não existe ainda e na verdade será sempre presente e passado. Então o que temos é o aqui e agora. Estar inteira em cada tarefa que faço tampouco é simples. Mas vale a pena o exercício diário.Levo muitos anos me exercitando. Quando conseguimos a paciência aumenta. Esperamos com mais doçura, menos irritação.Ter clareza do que necessitamos de verdade é , para mim, também, um dos caminhos para a felicidade. 

Hoje desejo chuva. Ela não chegou a Saquarema. O mar está de ressaca, há uma névoa, mais umidade, mas de chuva nada. Eu a desejo "boa, prazenteira" .Acho que vou chorar quando chover. De felicidade.                                                  

sábado, 15 de fevereiro de 2014

SÁBADO

Vinicius cantou o sábado. O sábado é sagrado para os judeus. Desde a minha adolescência que não cumpro nenhum rito religioso. Para mim o sagrado está no cotidiano sem diferenciar dias e horas. O sagrado se manifesta no meu amor pelo outro, na minha maneira de me relacionar com as pessoas, na minha maneira de criar harmonia e beleza ao me redor, mas quando era criança adorava ver a minha avó preparar o shabat, acender as velas para os seus mortos. Eu adorava a sua figua miúda, sempre rezando, sempre com um xale de renda cobrindo a cabeça de lindos cabelos brancos. Volta e meia ela volta, eu a vejo, fazia parte da minha infância.
Hoje é sábado e vamos comer com amigos , há sempre que celebrar a amizade, fonte inesgotável de água limpa.

Acordei às 3.30h da madrugada sem sono nenhum. Fui para o jardim totalmente iluminado pelo luar. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

TRES MULHERES

Ontem reli alguns relatos do Neruda em Confesso que Vivi.
Sou apaixonada perdidamente pela história das tres mulheres. Neruda foi convidado para uma festa da debulha do milho. E vai sozinho pelas cordilheiras A noite começa a cair e horrorizado ele se dá conta de que está perdido. Felizmente um índio cruza o seu caminho e ele explica a sua situação. O índio lhe indica uma trilha escondida que vai dar na casa de tres francesas madeireiras que vivem ali e são acolhedoras. Neruda consegue chegar e é recebido por uma linda senhora. Ao dizer que é estudante seu rosto se ilumina. As outras duas irmãs aparecem. A casa é feérica. Quando Neruda fala de Beaudelaire, elas explodem de felicidade. Uma criada índia avisa que o jantar está servido. A mesa, profusamente iluminada com velas, está repleta das mais maravilhosas iguarias, dos vinhos franceses mais esplendidos , guardados para ocasiões especiais, suas garrafas empoeiradas, como qualquer tesouro que se preze. Elas contam que para cada visitante que receberam fizeram um cardápio diferente nos 30 anos que já se passaram ali, naquele fim de mundo.
Neruda dorme dentro de um sonho e ao acordar um pouco antes do amanhecer sai sem se despedir. Tinha medo de quebrar o encantamento.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

DÁDIVAS

A vida é feita de tantas dádivas. Hoje fui até a Vila de Saquarema fazer algumas coisas. Fui ao cartório reconhecer a firma do contrato do meu novo livro com a ed. Moderna. Com o braço direito enfaixado até quase o cotovelo e na tipoia. Todos perguntam o que houve e me desejam melhoras. Idem no correio. E no bar onde me sentei para tomar café de frente para a lagoa. Saboreio o azul do dia e da lagoa junto com o café. Bebo com os olhos o verde das árvores e na volta para casa flamboaiãs floridos incendeiam de beleza meus pensamentos. O táxi, ao entrar na rua do mar me oferece o mar. Viver é bom e como disse Freud num texto maravilhoso que li (não me lembro do título) a nossa mortalidade, sermos finitos, deve fazer com que a vida seja muito preciosa, pois um dia ela acaba.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

LINDA IDEIA

Li e vi no facebook uma ideia belíssima. Crianças lendo para gatos. A relação das crianças com os animais é de igual para igual. Crianças que amam os animais possuem uma grande chance de lidar melhor com o outro,com o diferente. Os bichinhos são um exercício de amor. E são grandes mestres.
A ideia de crianças lendo para gatos é absolutamente deliciosa. Com certeza gatos gostam de histórias.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

GUERRA

Juan, meu marido jornalista me conta: 52.000 pessoas são assassinadas por ano no Brasil. A maioria negros, jovens e pobres. Trata-se de uma guerra civil. O primeiro jornalista é morto numa manifestação. Jornalistas não são respeitados no Brasil. A imprensa livre incomoda. A polícia no Brasil mata. Os índices de violência são assustadores. A corrupção é avassaladora. A corrupção mata. Há uma sensação generalizada de insegurança. É tudo muito triste.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

TECNOLOGIA

Antigamente escrevia a mão. Depois passava a limpo na máquina de escrever, uma Ollivetti vermelha que eu amava. Agora não consigo mais escrever a mão, é muito raro que eu o faça. Mas para mim a tela do computador continua sendo o papel em branco.
Não gosto de ler no computador, na verdade , não suporto, fico irritada, perco a paciência. Preciso do livro no papel.
Não tenho agenda no celular. Gosto de escrever a mão os nomes das pessoas. Gosto do meu caderno de telefone de papel reciclado, meio áspero. Dá um trabalho danado, não tem lógica, mas o que posso fazer?
Há uma overdose de fotos. Não tiro fotos, enjoei.
Não tenho internet no telefone, odeio.
Acho que estou virando elefante.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A PALAVRA

A palavra é a nossa matéria prima, nosso osso, cimento, pedra, com que construímos mundos e emoções. Uma palavra de desdobra em outra, em outra, uma palavra nunca se esgota, ela sempre nos remete a alguma outra coisa, num jogo quase infinito, se quero voar.
E amo este poema do Drummond:

A PALAVRA MÁGICA

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo, vu pocurá-la.

Vou procurá-la a vida inteiera
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ANJOS

Adoro a figura dos anjos desde criança. Porque são lindos, são etéreos, voam, são mensageiros de alegria.Amo os poetas que escrevem sobre os anjos, Rafael Alberti, Rilke."Quem se eu gritasse, entre a Legião dos Anjos me ouviria"? pergunta o poeta em Elegias de Duíno. Todas as vezes em que gritei, um anjo me ouviu.Todas as vezes em que gritei um anjo me ouviu, disfarçado de humano.
Cada um de nós é o anjo de alguém.
Juan é meu anjo. Ele me acolhe, me aceita, participa das minhas maluquices, me protege.
Quem é o teu anjo?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

FANTASMAS

Ontem , na aula de Pilates, um senhor nos contou:

Estava numa pequenina cidade em Portugal, num castelo que se transformara em Pousada. A gente sabe que na Europa, basta virar a esquina do tempo e já se passaram 800 anos para trás. O castelo era muito, muito antigo.
No meio da sua última noite ele acordou com uma luz violeta, uma luz mortiça no quarto. Olhou para o lustre e não havia nenhuma luz acesa. Para a lâmpada de cabeceira: apagada. Sua mulher dormia profundamente. Olhou para o fundo do quarto e viu pessoas como sombras que se moviam. Tentou olhar para seus rostos e não era possível. Como se os rostos estivessem apagados. Só via os corpos. Quis chamar sua mulher e a voz não lhe saía da garganta. Depois de um tempo paralisado conseguiu acender a luz e tudo desapareceu.

Débora, nossa professora, não acredita em fantasmas , então disse que certamente havia sido uma sugestão. Eu acredito em tudo o que existe e em tudo o que não existe . E adorei a história.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

MOINHO DO MUNDO

Apesar da gente ter a sensação de que a vida começa na segunda-feira com o moinho do mundo voltando a funcionar depois do final de semana, a morte não tira férias, só no livro do Saramago mesmo, "As Intermitências da Morte". Morreu Eduardo Coutinho e eu tinha visto não faz muito tempo o seu belíssimo "Edifício Master". E morreu Philip Seymour Hoffman, ator do maravilhoso "Capote". O cinema fica órfão de dois monstros. As duas mortes foram tristíssimas, uma dor que dá na gente. Amo o filme "Ninguém é perfeito".

sábado, 1 de fevereiro de 2014

CAFÉ COM PÃO E TEXTO

Hoje o Instituto Paulo Montenegro e a Ong Ação Educativa , no jornal O GLOBO, nos dizem que 38% dos estudantes universitários são analfabetos funcionais, são pessoas que não compreendem um texto.São alunos que já passaram pelo Ensino Fundamental e Segundo Grau. Isso quer dizer falta de leitura, falta de literatura. As Rodas de Leitura teriam que ser obrigatórias em todas as escolas. A escola teria que formar seres pensantes. O pensamento também é um hábito. Questionar, olhar as coisas sob vários pontos de vista, saber ler o que não foi dito explicitamente, buscar nas entrelinhas, isso faz parte da formação de um leitor. E também a paixão pelas palavras, a paixão pela maneira com que um texto fala.

Por isso estou tão feliz com o meu recomeço: dia 13 próximo receberei em minha casa 40 jovens para um "Café com Pão e Texto". Vou ler um conto do meu livro Pequenos Contos de Leves Assombros que está à venda na Amazon, é meu primeiro livro apenas digital. Como as jovens fazem parte do coral Escola que Canta, do Maestro Moisés, são alunas de três escolas de Saquarema, no final, antes do café com pão, o coral vai cantar, ou depois do café, não sei, vai depender da fome.

Aguardo a próxima escola que se aventure para o mês de abril.