sexta-feira, 29 de maio de 2015

ÚLTIMOS DIAS

Numa das noites em que Maya, a filha do Juan, ainda estava aqui, andamos até o ancoradouro perto do hotel e lá do outro lado víamos o Museu Gugenheim . Então ela me contou que antes da Peggy Gugenheim, o palácio havia sido da Marquesa Luisa Casati, um ícone para o mundo da moda. Ela viveu no começo do século passado e foi uma mulher milionária e excêntrica que dava em sua casa as festas mais loucas da Europa e passeava por Veneza com uma cobra enrolada no pescoço e com seu tigre de estimação. Tingia os cabelos de vermelho e pingava beladona nos olhos para que ficassem imensos, arregalados. Foi amante de D"Annunzio, usava vestidos de seda colados no corpo , vestidos de Fortuny, sem nada embaixo. Também era capaz de ficar nua em qualquer lugar para chamar a atenção. Era alta e magérrima. Maya me contava tudo baixinho e me dizia: Imagine o palácio iluminado por tochas, ela passeando pelos jardins com seu tigre de estimação...Maya também me disse que foi a mulher mais pintada e fotografada do mundo e fez da sua vida e do seu corpo uma obra de arte louca, como se tivesse saído da mente de um Dalí. Morreu em 1957 na miséria total pois gastou toda a sua imensa fortuna em suas festas.
Ontem, depois que Maya e as crianças foram embora, andamos até o Campo San Polo, passando pela Igreja San Apollinaire do século XI, que estava infelizmente fechada. Há que ir por Rialto e uma parte da Ponte está em obra, sendo restaurada. No tapume da obra há um trecho das Cidades Invisíveis do Calvinoi, o trecho em que fala do arco e da pedra. Que ideia maravilhosa colocar trechos de livros em tapumes de obra. Qualquer superfície é boa para receber um poema. A restauração da ponte , a aquisição de dois palácios por Prada, desmente o vaticínio de que Veneza está acabada. É um museu vivo que vai se desdobrando diante dos nossos olhos como um leque de sonho e água  . Sempre igual e diferente.
O que é horrível por aqui é a multidão que os cruzeiros despejam por suas ruas. Os cruzeiros, tão nefastos, deveriam estar proibidos e os turistas que chegassem saberiam muito bem que estão em Veneza, a cidade miragem de tantos rostos, que a cada dia desmente seu fim.
Vivemos os últimos dias. Segunda embarcamos de volta. Por que viemos sempre a Veneza?  Porque Juan é europeu e de vez em quando precisa estar na Europa e escolheu Veneza como a sua cidade.
Agora tocam os sinos que amo, uma orquestra de muitas igrejas. Um pássaro canta entusiasmado pois o dia está lindíssimo. Embrulho tudo junto, o canto do pássaro, os sinos, as vozes dos cantores das gôndolas e levo comigo.
Escreverei quando chegar em Saquarema. Até lá.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

DORSODURO

Caminhar por Dorsoduro é uma verdadeira maravilha. Desembocamos no Campo Santa Margueritta, uma praça tão bonita, com uma feira de peixes frescos e luxuosamente arrumados , como jóias. Porque para um italiano tudo quem que ser belo. Há uma livraria na praça, há venezianos!!! há vida verdadeira, gente passeando com seus cachorros, velhinhos arrumadíssimos para o passeio matinal. Observei os venezianos comprando: apenas o que vão fazer para o almoço ou para o jantar, Bem pouco.
As casas são lindas de gritar e eu gostaria de alugar um apartamento aqui ao invés de estar num hotel.
Andando chegamos ao Campo San Pantalon com sua Igreja neo românica, fundada no século XII e reconstruída no XVII. Entrei na Igreja. Com a luz de fora ainda nos olhos levei um tempo para enxergar. O teto era uma verdadeira maravilha,  nenhum adjetivo alcança o que quero dizer e me sinto pobre de palavras. Os maiores artistas pintaram esta Igreja.
Na esquina da Igreja há um baixo relevo tão bonito de São Pantalon com uma palma na mão e acima um baixo relevo de um cálice. Como não sou católica não entendo os símbolos, mas a data me comove: 1698.
As esquinas são espaços de pura beleza, um recorte de janelas, balcões, telhados.
Passamos por uma alfaiataria. Ainda existe!!!
Passamos pela Universidade Ca'Foscare. No canal há um barco de comida barata "Hard Rock" com uma fila gigantesca de estudantes.
Encontramos um africano com uma roupa incrível, cheio de colares e um instrumento de cordas que parecia um alaúde. Perguntei de onde era e disse do Senegal. Falei que conhecia Dakar e ele ficou muito feliz. Se chama Alioune e seu instrumento se chama Kaamale Ongoni. Pedi para cantar e tocar alguma coisa. Ele perguntou meu nome. Então começou a cantar uma canção em que a cada frase repetia meu nome.  Depois me explicou que os versos eram seus . E dizia: "A vida é como um espelho, só vemos o que somos" . Fiquei muito emocionada.
Para almoçar voltamos para a praça, o Campo Santa Margueritta. Comemos numa trattoria na calçada com um menu do dia maravilhoso e baratíssimo. Doze euros e meio por pessoa com direito a dois pratos.
Na volta paramos numa sorveteria e Juan quis um sorvete de chocolate super amargo da Venezuela, quis provar e ele disse que não me dava nem uma provinha e comprou um inteiro para mim. Não gosto de sorvete mas este era uma outra coisa.
Na volta passamos por um barco feirinha de frutas e legumes. Na verdade dois barcos. Dentro de um deles se limpava tudo para arrumar no outro. Era um quadro.
Fizemos planos para o fim da tarde, mas Maya, a filha do Juan, pegou a virose da Kira. Febre e dor de cabeça.
Então ficamos no quarto lendo. Estou atracada com um romance policial de um autor israelense que não conhecia, Igal Shamir. A trama é incrível e embora seja aquele tipo de livro que não merece ser chamado de literatura, não desgruda das nossas mãos. Se chama O Violino de Hitler e mistura músicos da século XVII, nazismo, Veneza, uma salada.
Hoje Maya, Kira e Astor vão embora. Daqui a pouco.  Astor, de três anos, gostaria de levar uma gôndola no avião de volta para Barcelona. Vai saltando de uma ponte para outra gritando "Gôndola Gôndola"...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

GOTIKA

Ontem Kira, a neta do Juan e minha neta do coração, acordou com febre e dor de cabeça. Mesmo assim fomos ao Palazzo Loredan no Campo S.Stefano para ver a exposição Gotika.
O Palácio foi comprado por Loredan em 1536 sofrendo várias reestruturações ao longo dos anos. É tão magnífico, são tantas pinturas maravilhosas que fico muda. Não sei o que dizer. Perco a voz.
A exposição de muitos artistas contemporâneos, toda em vidro de Murano misturado com outros materiais, é absurdamente boa. O choque da arte contemporânea com o Palácio já por si nos deixa em transe. Os artistas idealizam e os artesãos de Murano realizam. São obras inspiradas em animais mitológicos, armaduras medievais, há um desfile de monstros que se tornam belos pela perfeição da obra que exige uma maestria impressionante para a sua execução,
Numa sala há uma sereia de uma artista inglesa Kate Mccgwire que me deixou em estado de choque. Ocupa a metade de uma sala e é uma mistura de sereia com cisne, toda de vidro e penas. Dá uma impressão tão estranha, parece viva.
Numa sala absolutamente escura, um breu da noite mais fechada, pedaços de corpos de vidro branco brilham de uma maneira estonteante.
Ainda bem que fomos ver esta exposição, pois Kira piorava a cada momento e apesar de termos saído com sol, caiu um temporal impressionante com raios e trovões. Tivemos que voltar para o hotel.
Passamos o dia no quarto nos revezando com Maya. Ela saiu um pouco sozinha, depois fomos almoçar sozinhos e ela ficou no quarto e à noite acompanhei Maya a um restaurante para jantar pois ela não havia almoçado. A situação da Kira não era boa e eu estava assustada. Por duas vezes tomou paracetamol mas vomitava tudo. Finalmente conseguiu suportar o remédio e sua febre foi baixando.
Na volta do jantar os Campos por onde temos que passar para voltar ao hotel estavam tão lindos que dava vontade de gritar. Caminhamos por uma ruela até o canal e passamos por um hotelzinho minúsculo que nunca havia visto, se chama Novecento e era uma miragem.
Astor, de três anos, está enlouquecido com as gôndolas e quer levar todas para casa.
Hoje Kira amanheceu melhor e vamos tentar passar o dia fora. Ir para a Veneza de dentro, fugir das multidões.

terça-feira, 26 de maio de 2015

MAYA

Estivemos esperando Maya, a filha do Juan que vinha de Barcelona, a manhã inteira. Chegaria às 10:15 aqui no cais Giglio. Esperamos esperamos esperamos. Ainda bem que a vista do Canal é magnífica. No celular nenhuma mensagem. Quando nos cansamos de estar em pé voltamos para o Hotel nervosos. Ao meio dia ela chegou com Kira e Astor,os dois netos. Seu avião teve um problema técnico e atrasou uma hora. Além disso ela perdeu o vaporetto que para aqui na esquina e teve que esperar algum tempo pelo próximo.
Enfim saímos. Astor tem apenas três anos e andar com ele é complicado. Kira tem nove e já é uma linda mocinha.
Fomos para a Accademia caminhar no Zattere. Sobe escada, desce escada, uma ponte, outra ponte, outra ponte... Felizmente Astor se apaixonou de paixão perdida pelas gôndolas.
Almoçamos ao ar livre, debruçados na água. E falávamos da dificuldade de viver em Veneza e como já quase não há venezianos vivendo aqui. Tudo é complicadíssimo. Para fazer uma compra, levar crianças para a escola, ir a um hospital. Nada é fácil nesta cidade museu. E nem se fala do inverno. Dos ventos. Quase todos os  Palácios estão fechados. Felizmente muitos viraram hotéis e Museus.
Esta cidade deveria fechar o porto para os Cruzeiros e dar incentivos aos moradores para que não fossem embora. Veneza é tão bela que a sua irrealidade salta aos olhos.
No fim da tarde fomos para São Marcos e as crianças enlouqueceram com os pombos.É proibido alimentá-los, mas imigrantes paquistaneses, indianos, colocam milho na mão das crianças em troca de alguma moeda.
Africanos vendem bolsas falsas e a polícia tem algum acordo com eles, pois quando vem chegando perto, eles se afastam. Kira teve medo de que os levassem presos, ficou muito nervosa. A minha teoria é de que as próprias grifes fabricam as bolsas falsas.
Para hoje anunciavam muita chuva o dia inteiro, mas felizmente erraram. O dia está lindo! Vamos agora ver uma exposição num Palácio belíssimo, onde fica o Instituto Italiano de Desenho. E assim começará o dia, a sua arquitetura tendo que moldar-se ao desenho de uma criança de três anos.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

GIUDECCA

A Praça São Marcos havia se transformado num oceano de gente ontem pela manhã . O dia estava lindo finalmente. Para chegar até a barca que nos levaria para a Giudecca era preciso se transformar num felino e se esgueirar por entre as frestas dos corpos.

Logo ao desembarcamos passamos pelo Pavilhão da Síria, na Mostra Paralela da Bienal. O título da exposição, belíssimo: "Origens da Civilização". Eram quadros imensos, de uma bela pintura abstrata, como se para falar do começo não se pudesse utilizar uma arte figurativa. Não guardei o nome dos artistas, apenas de um, pois nas paredes Liu Shuishi, que não tem um nome árabe, escreveu coisas lindas, por exemplo: "A história distante só pode estar presente pelas palavras".
Saímos emocionados ao pensar nestes artistas produzindo obras tão belas e neste país tão dilacerado pela guerra, pela morte , pela destruição.
Era um alívio estar na Giudecca, esta ilha tão linda, com tão pouca gente. Ontem, domingo, acho que o número de pessoas em Veneza dobrou.
Do calçadão, logo ao chegar , descemos na segunda estação, se vê o Palácio Ducal em frente , a Torre da Praça, uma vista estonteante .
Caminhamos ao longo do calçadão até o final, onde ficava uns dos maiores moinhos da Europa, uma construção belíssima, o Molino Stucky, construído nos final do oitocentos pelo empresário Giovanni Stucky. O moinho chegou a empregar 1.500 pessoas, trabalhando em turnos por 24 horas.
Em 1955 o moinho fechou depois de uma lenta decadência. Ficou abandonado por muitos anos até que em 2007 o moinho se transforma num grande e muito luxuoso hotel, o Hotel Molino Stucky Hilton. Entramos para visitá-lo. Lá dentro é outro mundo, nada lembra que aquele espaço outrora foi um moinho. Mas o melhor de tudo é que respeitaram a sua fachada. Ao lado ainda há um pedaço do moinho totalmente abandonado.
Caminhar pelo calçadão com a vista deslumbrante do outro lado, pois se vê todo o Zattere, o calçadão da Accademia, é o verdadeiro luxo.
Escolhemos um restaurante na beira da água. Era lindo, mas o atendimento péssimo. Ostaria ae Botti. Não aconselho, o serviço beira a grosseria.
Na volta, para fugir da multidão da Praça São Marcos  já pelas escadarias podíamos medir a sua espessura, fomos por dentro, pelas ruelas e que sorte! caímos dentro de uma livraria. Juan comprou um livro do escritor croata Predrag Matvejevic , "L'Altra Venezia". Ele vai contando a história dos detalhes, comecei a ler e é lindíssimo. Ele apreende Veneza de uma maneira muito parecida com a nossa. Escreve: Cada vez que se volta a cidade é igual e diferente ao mesmo tempo, de dia ou de noite, com sol ou sob a chuva". (minha tradução). Comprei dois livros e o dono da livraria era um livreiro de verdade, espécie em extinção.
Agora, enquanto escrevo, a filha do Juan, Maya, com seus dois filhos, Kira e Astor, já deve estar no barco a caminho do hotel.
Hoje não chove, mas está meio nublado, faz um pouco de frio.   E não faço a menor ideia de como construiremos o nosso dia .    

domingo, 24 de maio de 2015

MODIGLIANI

Ontem ao ultrapassar a porta do hotel fomos recebidos por muita chuva, muito frio, um dia horroroso, escuro, nada promissor.
Decidimos andar por dentro da Academia, seus pequenos canais maravlhosos.
Entramos na Igreja de San Trovaso, fundada no século VIII e reconstruída nos séculos XI e XVI. Dentro as obras de Tintoretto, Giambono, Maestro di San Trovaso, etc, não estavam iluminadas e a Igreja estava muito escura, a emoção era saber que numa igreja sem nenhum fausto os maiores pintores da época aí deixaram seus tesouros.
Ao lado do Sotoportego Calle Balastro encontramos uma feirinha que era uma joia, na beira do canal. A maneira como arrumam os legumes e as verduras é a mesma com que um pintor arruma as suas tintas. E então tenho que falar das vitrines, verdadeiras obras de arte. Nada é deixado ao acaso, são verdadeiras instalações. E tenho que falar das embalagens, parece que na Itália a beleza é o ar que se respira e o que é feio fica bem escondido.
Passamos por uma casa onde trabalhou Modigliani e podemos ler:

" Da Venezia ho ricevuto gli insegnamenti più preziosi nella vita;
Da Venezia sembra di uscirmene adesso come accresciuto dopo un lavoro" Modigliani, 1905
De Veneza recebi o ensinamento mais precioso da minha vida; De Veneza parece que ao ir embora agora, estou maior depois de um trabalho.

Quando Modigliani diz "adesso" , agora, o tempo é abolido e estou na sua porta, estou em 1905 .

Chovia tanto que o grande desejo era estar dentro de algum lugar seco e quente. Mas passeamos pelo zattere, o calçadão da Academia de onde se pode ver a Giudecca lá do outro lado.
Quando os sinos bateram as doze horas entramos no primeiro café que encontramos, numa ruazinha de dentro para a minha taça de vinho.
Paolo, nosso amigo garçom, nos recomendou muito um restaurante napolitano que fica no Campo S.Angelo e se chama Acqua Pazza . Adorei o nome, água louca e calculamnos o tempo para chegar lá às 13.30h.
Realmente é um restaurante impressionante. E dedico este almoço ao meu filho André, Chef do Babel em Visconde de Mauá. Pedimos de entrada flores de abobrinha .Mas antes como cortesia da casa trouxeram uma entrada belíssima, uma bruschetta, um bolinho de macarrão com queijo e alguma verdura empanada. As flores de abobrinha com queijo derretido dentro são o bilhete de entrada para o paraíso. Eu pedi um gnocchi que não era de batata, mas sim de trigo sarraceno e Juan um risoto de espuma de limão. Cada gnocchi parecia uma moeda grande com molho de tomate (o molho de tomate na Itália explica o nascimento do mundo) com manjericão.
E de sobremesa pedimos um tiramisù , parecia uma espuma de chocolate amargo e café.
No final da tarde fomos para a Praça São Marcos. Já não chovia. Neste percurso do hotel até lá, há a maior concentração de grifes famosas do mundo, certamente. Suas vitrines são belíssimas e os preços estonteantes . Será que alguém paga mais de mil euros por um vestido? Todas as lojas são maravilhosas.
Cada vez que se entra na Praça se perde o fôlego de tanta beleza. Nos sentamos no Café Lavena, aberto desde 1750. Os Cafés da Praça são absolutamente decadentes, mas para mim há muita beleza nesta decadência.
Eu me sentei de frente para a Igreja e o leão alado e dourado enchia meus olhos.   Os anjos falavam comigo. A Igreja fulgurava, ardia em todos os tons de dourado. Acho que não existe nenhuma praça mais bonita no mundo.
A pequena formação de músicos tocava umas três ou quatro músicas e parava para que os músicos do café ao lado pudessem tocar. A praça estava quase vazia, pois os milhares de turistas que são despejados diariamente em Veneza pelos Cruzeiros a essa hora já estavam longe, em seus navios.
Há em Veneza a máfia dos cruzeiros. Um acordo de cavalheiros corruptos entre os políticos , os donos dos navios, o comércio local.
Veneza possui apenas cinquenta mil habitantes. São os turistas que alimentam a ilha . Mas não sei o que compram ou deixam aqui estes grupos imensos. Pouca coisa, eu diria. Mas eles são o deleite dos gondoleiros.
Hoje vamos tomar um barco e caminhar na Giudecca para ver a vista de Veneza lá do outro lado. É como ver o Rio de Janeiro de Niterói.
Da minha janela, enquanto escrevo, ouço os sinos que agora batem as horas para que caiam no precipício do tempo em todos os tons de grave e agudo. Ouço as gaivotas e as vozes das pessoas que cruzam a ponte do pequeno canal onde está debruçado o pequeno balcão do nosso quarto.

sábado, 23 de maio de 2015

GUARDA - CHUVAS

Ontem pela manhã a Praça São Marcos era um imenso arco-íris de guarda-chuvas coloridos. As gôndolas passeavam cheias de guarda-chuvas. Chovia e fazia frio. Decidimos caminhar por dentro até o Rialto para olhar a vista lá de cima.
Chegamos ao Campo Sanzolo onde há a Parochia de S.Stefano. Um Palácio se impõe com seus detalhes rosados, talvez de mármore carrara.
Passamos por uma livraria antiquário, Libreria Linea D'Acqua e na sua vitrine uma coleção de 36 volumes com a data de 1781: Compendio della storia generale dei viaggi. Imagino um colecionador de livros antigos e raros entrando na livraria com o coração aos saltos. E naquela época sim, viajar era a maior aventura do mundo!
Ao chegar no Sotoportego Di Amai uma coisa inominável fere as linhas do Campo e do nosso campo visual: A Casa di Risparmo de Venezia, um quadrado horroroso, fruto de alguma permissão fraudulenta de algum Prefeito corrupto que deixou um Palácio ser demolido para que se construísse tal horror em seu lugar. Mas fico sabendo que o Primeiro Ministro Renzi enviou um Projeto de Lei para o Parlamento tornando o crime de corrupção eterno: não pode prescrever. Não sei se já está valendo mas a ideia é maravilhosa e deveria ser copiada no Brasil.
No Campo S.Luca , num Palácio, há um baixo relevo com uma virgem maravilhosa, de pedra, sua túnica é toda pregueada e no lugar do coração ela carrega a imagem do menino Jesus.
Chegamos na Calle del Teatro o de la Commedia.
Aos pés da Ponte do Rialto, antes de subir para ver a vista, nos sentamos num bar, no sotopertego, abrigados da chuva para um cálice de vinho. Juan pede um chocolate quente. Explodem os sinos do meio dia.
A vista de cima da ponte é um dos cartões postais mais belos e conhecidos de Veneza.
Como diz Juan, Veneza não é uma cidade, é uma sensação. Veneza é um lugar irreal e surreal. Uma dimensão.
Encontramos um restaurante muito antigo: Ristorante Al Colombo, aberto desde 1780!
Na volta vemos uma exposição surreal de Joseph Klibansky , no Campo Stefano. São quadros fotografias de uma Veneza coloridíssima e verdadeiramente alucinante.  Passamos pelo estúdio do artista Gianni Aicó. Em Veneza a cada esquina encontramos uma galeria de arte ou o estúdio de algum pintor ou escultor.
E vimos a exposição do Azerbaigian, um país para nós brasileiros muito remoto. A instalação de Huseyn Hagverdi é absolutamente impactante, um soco no coração. São seres humanos muito estilizados, lembrando esculturas africanas, enredados em estacas, cercas, enfim fronteiras fechadas. Tudo em madeira escura e sentimos todo o sofrimento daquelas "pessoas". Algo tão atual quando sabemos das milhares de pessoas de carne e osso que tentam escapar de seus países pela guerra, fome, falta de horizonte. Esta bela exposição faz parte das mostras paralelas da Bienal que invadiu toda a cidade.
Depois almoçamos na Tavernetta S.Maurizio, nosso amigo Paolo nos recebe com tanta alegria!
Comemos um risoto de frutos do mar e é impressionante a delicadeza dos mariscos, um prato perfeito. Comemos por 45 euros com meio litro de vinho, cesta de pão,queijos variados de sobremesa.
Comer uma vez por dia é mais do que suficiente e o café da manhã aqui no hotel é tão bom que vale a pena acordar com fome. Todos os dias como a mesma coisa: muzzarella de búfala , tomate, café e pão.
Agora chove, faz frio. O dia está feio, cinza, mas nada é capaz de tirar nosso fôlego e a beleza da cidade. Lá vamos nós para a rua.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

FONDAMENTA NUOVE

Ontem, antes de sairmos do hotel, atenderam ao nosso pedido e trocamos de quarto, ou melhor de vista: agora nosso balcão dá para um pequeno canal por onde passam as gôndolas e do quarto ouvimos seus cantores. É maravilhoso.
Do  nosso Campo del Giglio, depois de farejar o ar, decidimos ir para a Fondamenta Nuove, o bairro amado por Joseph Brodsky, o poeta russo. É um lindo passeio. No caminho para São Marcos entramos na Galeria Contini , há uma exposição de Igor Mitoraj, escultor polonês que faz uma releitura das esculturas da antiguidade. Trabalha com mármore branco. Não gostei. Apenas uma me tocou, parecia um caracol gigante,
Para ir a a Fondamenta Nuove há que seguir em direção a Rialto e isso quer dizer multidão. Mas de repente, como num milagre, depois de subir e descer escadas e passar por muitas pontezinhas, antes de chegar a Rialto, viramos à direita e já a rua é vazia, suas lojas são simples e é como se saíssemos de um filme e entrássemos em outro.
Desembocamos no Campielo Bruno Crovato. Há um bar no Campo e todos os que estão sentados são venezianos.
Depois chegamos ao Campo S.Maria Nova.  Não é um Campo mas sim uma praça maravilhosa, senhoras e senhores sentados nos bancos , de um lado da rua há um antiquário e do outro uma loja esplêndida de carnaval. Logo ali ao lado há um Campo bem pequeno com seu poço e vejo a data: é de 1.800.
Numa ruazinha que sai da praça vimos uma exposição de fotografias num estúdio de arquitetura. A Mostra faz parte dos eventos paralelos da Bienal que privilegiam a arquitetura, pensam as cidades.
A exposição tem o belo nome de Città Africane in Movimento e são muitos fotógrafos. É belíssima a exposição.
Estamos na Veneza de dentro. Amamos este bairro tão simples, nenhuma suntuosidade, mas o silêncio dos canais.
No Campiello del Pestrin há um restaurante tipicamente veneziano onde vão comer os trabalhadores locais, os gondoleiros : Trattoria Cea.
Quando chegamos estava abarrotado e o movimento era magnifico , uma dança de pratos e jarras de vinho, cestas com pães para lá e para cá. As mesas são coletivas e nos sentamos finalmente, depois de alguma espera, ao lado de três trabalhadores.
O Menu do Dia, composto por três pratos por 16 euros, era magnífico. Comi uma pasta a la rabiatta, um prato de cogumelos frescos, uma lula em sua tinta com polenta branca, a polenta veneziana. O pão bem camponês, bem tosco, como adoro. Meio litro de vinho da casa.
A senhora que servia era super paciente ,nos explicou cada prato e conhecia todos e beijava todo mundo.  Perguntei e ela me respondeu: todos os dias há um menu diferente. Mas a Fondamenta Nuove fica longe, impossível comer lá todos os dias, infelizmente.
Ao sairmos havia uma loja fechada, parecia uma exposição permanente, e a sua vitrine era de enlouquecer. Ali havia sido , isso eu entendi, uma antiga tipografia, que neste ano completava 500 anos. Era a tipografia de Aldous Manutius e a data: 1515.
Como sei que a Fondamenta Nuove foi destruída e refeita, não sei se nestes quinhentos anos sempre esteve no mesmo lugar..
Na vitrine podemos ler e a autoria é de Di Francesco di Ser Bernardone:
" Chi lavora con le mani è un operaio. (Quem trabalha com as mãos é um operário)

" Chi lavora con le mani e il cervello è un artigiano" (Quem trabalha com as mãos e o cérebro é um artesão)

" Chi lavora con le mani, il cervello e il cuore è un artista" (Quem trabalha com as mãos, o cérebro e o coração é um artista)

A arte da tipografia , com todas aquelas peças e engrenagens maravilhosas está em franca decadência.
Somos espectadores de um novo mundo.

E hoje no café da manhã , nos jornais que vejo no balcão em frente , me dizem que a cidade de Palmira, na Siria, caiu nas mãos do grupo islâmico Isis que já deve ter destruído tudo na região que foi o começo do mundo e da civilização .
No N.Y Times, na primeira página está estampada a violência do Rio de Janeiro.
Mas estou em Veneza e por aqui se caminha pelas ruas sem medo nenhum. Não se ouve falar em roubos ou facadas.
Aqui mergulho o corpo e a alma na beleza mais absoluta.

    

quinta-feira, 21 de maio de 2015

CAMINHADA

Ontem decidimos ir até os Jardins do Arsenal onde está a Bienal. Esperarei a minha enteada Maya para ver a grande exposição, ela chegará dia 25.
Na frente da Igreja São Marcos uma cena que nunca vi no Brasil e para mim comovente: uma turma enorme de adolescentes sentados no chão com seus cadernos abertos no colo e a Professora na frente dando uma aula sobre a Igreja. Eles anotavam e prestavam toda a atenção, em silêncio.
Chegamos ao Campo San Zaccaria com azulejos de mármore carrara, belíssimos. Começaram a tocar os sinos que pontuam as horas. Há quem não goste dos sinos, eu amo, é como se a sua música fosse um tapete mágico e me levasse flutuando pelo rio do tempo. Neste campo há uma bica de água potável com uma cara de leão. Os leões estão espalhados por toda a cidade.
No Pórtico de San Zaccaria no Idade Média havia uma porta fechando o bairro. Há uma placa de pedra que fornece os horários da abertura, as letras bem apagadas, a data quase ilegível, 15...
Ao sair do Pórtico se vê uma torre inclinada.
Na esquina da Ponte Del Diavolo com a Fondamentina de Liosmarin há um baixo relevo bem intrigante: um homem de túnica, parece um romano, com um instrumento na mão, difícil saber se é um instrumento de trabalho ou musical. Dois operários trabalhavam numa reforma de uma casa em frente. Pedi a um deles para me ajudar a entender. Ele olhou, olhou e disse que era impossível saber. Então tomei a liberdade poética de decidir : uma harpa, era um tocador de harpa.
Logo ali há um Palácio maravilhoso que virou hotel: Palazzo Friuli. No mesmo lugar há a loja de fantasias mais linda que já vi, tão onírica que causa um arrebatamento.
Na Ponte Dei Greci outro Palácio estonteante: Hotel Liassidi.
Chegamos ao Campiello de La Fraterna, desembocamos no Sotoportego Dei Preti, chegamos ao Campiello de La Grana e entremos numa viela sem nenhuma pessoa, os turistas vão desaparecendo .
No Campo de Le Gorne há uma placa de pedra de 1787 lindíssima in memoriam do Conte Piero Foscani, com um leão alado. Por aqui já é a Veneza dos Venezianos. Aqui se ouve o silêncio entre os passos e entre as poucas vozes.
Na Fondamenta del Pintor cruzamos com um Senhor que devia ter mais de cem anos, todo vestido de negro, na mão direita uma bengala, na esquerda uma sacola de livros. A sua cor era de cera e tenho certeza de que era um fantasma, saiu para passear.
Chegamos ao Arsenal com seus quatro leões, dois imensos, um menor e um filhote. São monumentos navais.
Veneza terá outras Bienais, não apenas a de arte, mas de música, de dança e de carnaval. A de Música tem o título mais lindo do mundo: O Som da Memória.
Os títulos das exposições são maravilhosos e os cartazes estão espalhados por toda a cidade. Eu os saboreio , para mim são música.
Deixo então os jardins da Bienal para quando Maya chegar e nos sentamos no Campo Bandera e peço uma taça de vinho para receber os sinos do meio dia. Há que tomar muito cuidado, pois no mesmo Campo, na esquina, encontramos a Calle de La Morte.
Almoçamos na Tavernetta San Maurizio, perto do Campo San Maurizio (San Marco 2619) e nosso amigo Paolo nos recebeu com muita surpresa e alegria. Essa é a taverna que escolhemos para comer sempre, pois além de linda, animadíssima, tem um vinho da casa maravilhoso, a comida é excelente e ficamos amigos do garçom. Comemos uma vez por dia e ontem de entrada pedimos um Piatto Vegetariano, com legumes grelhados, eu comi uma pasta com molho de tomate e ricota e Juan uma pasta com vongole, de sobremesa queijos variados. O pão da casa é muito bom, o azeite nem se fala e o preço é justo: 64 euros. Comentei ontem que não se deve pensar em converter os euros para real, mas sim pensar num salário de 2.500 euros que é um bom salário por aqui. Onde se pode comer assim no Brasil com meio litro de um bom vinho, entrada, prato principal e sobremesa por 32,00 por pessoa?  Eu como num restaurante a quilo em Saquarema, sem nenhuma bebida, nem entrada, nem sobremesa por 20,00.
Claro que  aqui ainda se pode comer por um preço muito menor, há muitos restaurantes com menus turísticos por 15 euros .
Pela tarde fomos até a Academia, do alto da sua ponte se desdobra a vista mais linda do mundo, emocionante. Depois andamos até o calçadão , havia chovido, a luz estava linda e era dia ainda às 20hs.
As nove horas comemos um pedaço de pizza numa portinha na frente da nossa taverna, a melhor pizza que já comi na vida, há um movimento tão intenso, nem dá tempo da pizza esfriar, vão saindo do forno constantemente e se come em pé ou sentado na escadinha do poço do Campo a dez passos.
Hoje, que bom, faz um friozinho, entre 18 e 19 graus, choverá às 11 horas uma chuva fraca e novamente às cinco. Às 20 horas choverá forte.
Ainda não sei por onde andaremos.
 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

CHEGADA

Saímos de casa às oito horas da manhã do dia 18. Nosso voo para Veneza sairia às 14:35. Mas nunca se sabe como será o caminho de Saquarema até o aeroporto. Chegamos em duas horas e nos sentamos num bar novo no Terminal 1. Todos que viajam sabem que o Terminal 1 do Galeão parece uma tumba: feio, escuro, deprimente.
Mas o tempo passou e a espera faz parte da viagem. O avião saiu pontualmente. Depois do jantar, lá pelas tantas, eu estava vendo um filme, perguntaram se havia algum médico a bordo. Chamaram muitas vezes. Pouco tempo depois o Comandante anunciou que teríamos que fazer um desvio e pousar em Recife pois havia uma pessoa passando mal.
Voamos mais de uma hora para pousar em Recife. A história foi assim: um senhor foi encontrado desmaiado no banheiro. Quando a equipe médica entrou no avião ele já estava acordado. Ficamos duas horas em solo com ele tomando soro. Parecia bem. E resolveu continuar a viagem. O Comandante exigiu um atestado da equipe de que ele poderia permanecer a bordo. Bom, levamos duas horas em Recife dentro do avião. Fiquei sabendo que a jovem senhora sentada perto de mim estava indo para a Sicília a trabalho. Um senhor ia para Beirute.
Perdemos a nossa conexão, é claro, mas como nos deram falsas esperanças de que a conexão esperaria um pouco, corremos feito loucos para conseguir , quem sabe, tomar o avião. A aeromoça ainda nos disse: o aeroporto de Roma é pequenininho! É imenso e depois de passar pela polícia, há que sair do aeroporto e entrar no nacional, passar outra vez pela polícia até chegar ao terminal. Ainda nos disseram: Corram que ainda estão embarcando! Se o médico que operou a minha coluna em fevereiro soubesse a maratona que corri... Claro que o voo já havia partido. Volta tudo para trás e na porta B3 há a Oficina de Trânsito. Então, aí sim, trocam nosso cartão de embarque para o próximo voo. Juan tinha a certeza absoluta de que perderiam as nossas malas.
Eu estava tão exausta que não vi nem senti o voo para Veneza. Mas nossas malas chegaram perfeitamente e depois de um banho no hotel e de um pouco de descanso saímos para caminhar.
Estamos no mesmo hotel que no ano passado, com a mesma vista para o Campo del Giglio.
A sensação é a de que não saímos daqui, que o tempo não passou. A sensação é de continuidade.
Veneza não é uma cidade , é uma miragem. Há lojas antiquíssimas e esplêndidas, verdadeiras jóias. Lojas de encadernação, papelarias, máscaras, lojas de queijos e especiarias, galerias de arte, quando as ruas já são uma imensa galeria de arte. Há que olhar para cima, pois vimos lá no alto, um relevo de o final de 1.500! Era uma cena religiosa e abaixo um sapato. Não entendi mesmo.
Entramos numa galeria com um nome em inglês: Holly Snapp Gallery, na Calle delle Botteghe, com a linda exposição de mulheres do pintor inglês Geoffrey Humphries. Amei! Agora vamos buscar as mil exposições que estão acontecendo em Veneza por conta da Bienal.
Às 19.30, famintos, entramos na Osteria Doge Morosini. O restaurante onde trabalha nosso amigo Paolo estava fechado, devem fechar às terças.Recomendo: Fica numa ruazinha lateral ao Campo Santo Stefano que é maravilhoso. Comemos esplendidamente, entrada, prato principal , sobremesa por 66 euros. Quanto estamos fora não pensamos em converter o dinheiro, pois os salários das pessoas "normais" são mais ou menos iguais aos salários do Brasil. Não se come assim no Brasil por 33 reais cada pessoa. Impossível. A sobremesa vale o comentário: Juan pediu um pedaço de gorgonzola. Veio numa travessa lindamente arrumada, numa cama de rúcula os pedaços de gorgonzola com mel. Uma verdadeira iguaria.
Agora vamos para a rua como sempre sem nenhum plano definido. É assim que amo viajar. Fugindo das multidões, flanando, olhando.
Ontem terminamos nosso passeio na Praça São Marcos que para nossa felicidade estava quase vazia num belo entardecer. Chegamos no hotel às 21 horas e começava  a escurecer. Dormimos dez horas seguidas.

domingo, 17 de maio de 2015

AS CIDADES INVISIVEIS

Ontem foi nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela .O dia estava nublado e um pouquinho frio. Às 10 horas. as pessoas começaram a chegar.
Nosso grande amigo e nosso médico Messias e Kátia, sua mulher, Cristiano, Ana e Edith vieram do Rio.
A Zete chegou de Cabo Frio para onde havia ido visitar uns amigos.
E chegaram Hélio, Fernando, Chico, César, Fátima, Maria Clara. Hector e Flora chegaram atrasados trazendo mais um casal: Norma Estrela e não me lembro o nome do seu marido. Por último Gil, gripadíssima.
Começo quase pelo final. A Zete trouxe para a nossa roda o seu sotaque baiano e uma fala belíssima: Começou dizendo que sua cidade, Ribeira do Amparo, era invisível e Saquarema para ela também era invisível. E agora as duas eram visíveis, pois ao falar da sua cidade ela passava a existir. E Saquarema agora existia para ela.
Para falar sobre as Cidades Invisíveis do Italo Calvino, puxamos muitos fios coloridos. Falamos da sua matriz, a cidade natal de Marco Polo, Veneza, da beleza , da poesia, da delicadeza da escrita, das alucinações, as cidades são todas alucinadas.
Falamos dos avessos, da cidade dos mortos, das sombras, das ruínas, da decadência das cidades. Do jogo dos espelhos, da beleza do encontro entre Kublai Khan e Marco Polo, do viajante e do grande Imperador que não se move. Do narrador e do que escuta . E tudo o que é imaginado , fulgura e existe. Falamos da influência de Borges, de Scherazade e por fim falamos sobre o olhar e sobre o tempo. Nas Cidades Invisíveis passado e futuro coexistem, Oriente e Ocidente. Tempo e Espaço.
Falamos sobre as megalópolis hoje, a inviabilidades das cidades imensas. A inviabilidade do planeta!
E terminamos com o último parágrafo do livro:

" E Polo:
_ O inferno dos vivos não é algo que será: se existe, é aquele que está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que no no meio do inferno, não é inferno e preservá-lo e abrir espaço."

Como diz meu neto todas as noites: _ Mamãe, me conta as coisas bonitas.
As coisas bonitas são o que acontece de bom na sua vida.
Que nosso olhar busque sempre as clareiras que existem dentro do inferno.

Juan escreveu um texto belíssimo que leu em espanhol, fazendo um elo entre as cidades invisíveis de Calvino e a Veneza de Marco Polo.

Edith leu alto uma crônica do Rubem Braga: Recado ao Senhor 903.
Zete leu o poema Perda da Elizabeth Bishop.
Maria Clara trouxe uma reportagem de Marcelo Moutinho sobre a origem das crônicas do Rio de Janeiro. Trouxe também a letra de duas músicas . " O nome da Cidade" de Caetano Veloso, maravilhoso poema que Maria Clara cantou maravilhosamente e  "Lamento Sertanejo" de Dominguinhos e Gilberto Gil que cantamos todos juntos.
Ana também cantou uma música linda sobre Porto Alegre, a sua cidade. Ana é bibliotecária e cantora. Tem uma voz muito bonita.

Depois fomos para a varanda e o almoço estava esplêndido: escondidinho de aipim com carne seca, escondidinho de aipim com abobrinha e gorgonzola, arroz, feijão, couve, salada. Fiz dois pães lindos que foram devidamente devorados com azeite. César trouxe espumante para todos e oferecemos um ótimo vinho argentino, em homenagem ao Hector.
Uma torta com o nome do César marcou seu aniversário. E estávamos todos em estado de graça: literatura, amigos, pão, azeite e vinho, comida maravilhosa, a música do mar...
Esta é uma lindíssima clareira, com o chão varrido em círculos, onde dançam as fadas.

Próxima data: dia 18 de julho aqui em Saquarema
Os livros: A lebre de Vatanen de Arto Pasiilina, Campo Geral de Guimarães Rosa e um poema de amor do Vinicius de Morais.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

N.SENHORA DE NAZARÉ

Ontem fui com minha hóspede, a Professora Zete visitar a Igrejinha Nossa Senhora de Nazaré em cima do outeiro. É a vista mais esplêndida do mundo e sempre me emociono.
A Igrejinha, tão simples e singela, estava aberta. Nenhuma fausto, nenhuma riqueza. Ela data de 1630 e não sei o que guarda de original.  Quis ver a Nossa Senhora de Nazaré sentada, pois Celmar, minha professora de italiano me disse: é a única Nossa Senhora sentada! Está mesmo sentada.
Apesar de não ser católica, gosto do silêncio das Igrejinhas simples e das capelas.
Depois à tarde eu a levei para ver a parte mais rural de Saquarema, o bairro Jardim, onde moram nossos caseiros. Sou apaixonada pelo bairro. A lagoa ali é tão linda, entardecia e a água falava baixinho.
Tomamos um café com broa de milho na casa dos caseiros.
E faço os últimos preparativos para o encontro do nosso Clube de Leitura amanhã.  

quarta-feira, 13 de maio de 2015

CIRANDA CIRANDINHA

Quando criança amava brincar de roda. Amava de paixão mesmo. Enquanto rodava acho que construía uma mandala dentro de mim e o mundo era bom e seguro.
No meu livro Brinquedos e Brincadeiras faço poemas com as brincadeiras da minha infância. Acho que os poemas ficaram belos.
Faz tanto tempo não ouço vozes de crianças cantando as cantigas de rua. Brincávamos na pracinha.

 CIRANDA

Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar,
enquanto ainda dá tempo,
a primeira estrela anuncia:
A noite já vai chegar.
Vamos dar a meia volta
de mãos bem apertadas
e corações entrelaçados,
volta e meia vamos dar.

O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou,
o tempo parece de vidro,
há que carregar com cuidado,
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou,
mas amor nunca se acaba,
meia-volta, volta e meia,
outro amor há de chegar.

in Brinquedos e Brincadeiras

terça-feira, 12 de maio de 2015

DESABAFO

Hoje caminhei até a Ponte do Girau aqui em Saquarema. A lagoa é belíssima, mas suas margens estão cheias de lixo. Educação ambiental deveria ser , junto com a leitura, prioridade nas escolas. É muito trite ver o que seres humanos fazem com o seu entorno, com o lugar onde vivem. A Ponte do Girau tem sua balaustrada toda quebrada, com vãos interrompidos, podendo causar um sério acidente. Vejo a cidade se degradar e é uma pena.
A cultura é um feixe de conhecimentos. Tratar bem a sua rua, o seu bairro, é cultura. Sinto o lixo e a degradação como uma ferida em meu corpo.

Vi uma foto no jornal. A Presidente linda, magra, com um belo vestido azul, reinando num país fictício, na festa mais cara do mundo! Todos estavam lá, todos os podres poderes, inclusive os que enchem a boca de pedra para falar contra as elites. Era uma festa de elite, claro. Não vi nenhum pobre na foto.

Vi uma reportagem terrível sobre a situação das Universidades Públicas no Rio de Janeiro. Lixo, ratos, baratas, entulho, o descalabro é tanto que muitos cursos foram suspensos na UFRJ e na UERJ. A violência entra dentro do Campus.

Vi uma foto no jornal de um homem com uma faca na mão, nos arredores do MAM, um dos lugares mais lindos do mundo, onde vive, mora, dorme, acorda, um bando. Assaltam as pessoas  , esfaqueiam as pessoas. O Secretário Beltrame disse que é melhor pensar bem antes de chamar a polícia, pois não adianta nada.

Este é o país verdadeiro, onde reina a mulher do vestido azul.

Faz muito tempo não acredito mais em direita ou esquerda. Acredito em bom senso, bondade e honestidade. Bem estar para todos. Oportunidades iguais para todos.

Desculpem o desabafo, mas a Pátria Educadora está à deriva.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

SEMANA

Hoje começa uma semana maravilhosa, recheada de coisas incríveis.
Amanhã , pela segunda vez, recebo alguém que só conheço virtualmente, que virá para o encontro do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela no sábado e se hospedará aqui. A Professora Zete do Sertão da Bahia.
A primeira vez recebi Mariana, uma jovem bailarina, minha leitora desde criança. Ficamos amigas para sempre. Nos amamos e uma vez por ano nos encontramos numa amizade sólida como o sol. Ou em Saquarema ou na montanha.
Sábado é o encontro do Clube, uma das grandes felicidades que a vida me dá. Já somos uma família.
Vamos discutir As Cidades Invisíveis do Italo Calvino, um dos livros mais belos que já li em toda a minha longa existência de leitora. Releio e tem que ser muito aos poucos para não ficar sufocada com tanta beleza. Vamos ler em voz alta uma crônica do Rubem Braga, elas são todas maravilhosas, tão humanas, tocantes. Vou sortear alguém para ler em voz alta. E cada um trará um poema da Elizabeth Bishop.
Sempre temos um aniversariante no Clube e a sobremesa é uma torta com velas e parabéns. Desta vez é o nosso amigo César.
E segunda-feira, dia 18, embarcamos para Veneza. Estou indo pela quinta vez. Juan já foi umas cem vezes. É a sua cidade do coração.
Não saímos de Veneza para nada. Percorremos incansavelmente seus labirintos, extasiados.
Para mim, a matriz das Cidades Invisíveis é Veneza.

domingo, 10 de maio de 2015

DISTÂNCIA

Minha mãe está tão longe, em alguma estrela fazendo seus vestidos com luz, pois era modista . Meus filhos moram longe e um almoço em família seria impensável...Mas recebo mensagens pelo celular, recebo fotos da minha mãe, não nas estrelas, mas em Teresópolis, com minha irmã e minha sobrinha.
O Dia das Mães possuiu uma carga emotiva imensa e quer ou não quem não tem mais a sua mãe vivendo neste planeta, quem tem os filhos longe, quem não tem filhos, sente uma pontinha de tristeza.
Mas sei que minha mãe viveu 89 anos e embora o Drummond já tenha dito que mãe não deve morrer nunca, ela até que viveu bastante e segurou seu bisneto Luis no colo na sua última festa de aniversário. Eu lhe perguntei: _Mãe, você está feliz? e ela respondeu com o Luis no colo: _É o ápice!
Meus filhos tocam panelas e instrumentos, cada um fazendo o que ama e não há felicidade maior.
Então, apesar da distância entre nós, já que a mente tudo alcança, estou com eles agora .Com meus filhos. Com a minha mãe.

sábado, 9 de maio de 2015

ARTE POÉTICA

Talvez esteja cometendo uma heresia literária, mas como não ligo para nenhum dogma, afirmo que sou completamente apaixonada pela poesia do Borges, mas não amo os seus contos. Que poeta magnífico e como a sua poesia fala com as minhas emoções. Ganhei uma vez uma linda antologia em espanhol mas agora ganhei da Catalina Pagès o poema abaixo em português, um dos meus preferidos. Não sei de quem é a tradução .

ARTE POÉTICA

Olhar o rio de tempo e água
e lembrar que o tempo é um outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
e que os rostos passam como a água.

Sentir que a vigília é outro sonho
que sonha e que a morte
que teme a nossa carne é esta morte
de cada noite, que se chama sonho.

Ver em um dia ou um ano um símbolo
dos dias do homem e de seus anos,
e converter o ultraje dos anos
em uma música, um rumor e um
símbolo,
ver na morte o sonho, no pôr-do-sol
um triste ouro, tal é a poesia
que é imortal e pobre. A poesia
volta como a aurora e o pôr-do-sol.

Às vezes numa tarde uma cara
observa-nos do fundo de um espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela nossa própria cara.

Contam que Ulisses, farto de
prodígios
chorou de amor ao divisar sua Ítaca
de verde eternidade, e não prodígios.

Também é como o rio interminável
que passa e fica e é cristal de um
mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.

Jorge Luis Borges

sexta-feira, 8 de maio de 2015

CICATRIZ

Hoje em todo o mundo ocidental é comemorado o fim da II Guerra Mundial. Não sou muito boa em números mas acho que foram 60 milhões de mortos. A minha geração, nasci em 1950 ainda ouviu os ecos da guerra. Em tempos históricos ela está logo ali, na esquina. E deixou uma cicatriz indelével na alma do mundo.
O homem, único animal que mata seu semelhante por prazer, pura crueldade, preconceito, exploração, conseguiu chegar, nos anos terríveis da guerra, a profundidades impressionantes no abismo do horror.
O mundo ainda está longe da paz. Muitos bilhões de seres humanos vivem acossados pela miséria, doenças ou pela guerra . Mas um conflito como o da II Guerra , hoje, seria inimaginável. Então algum caminho andamos.
Acredito muito firmemente na melhora do homem pela educação, pela arte.
Trabalhemos como abelhas para isso, de flor em flor.
Só a paz constrói. Só a paz produz bem estar, felicidade e beleza.
A guerra, apesar dos senhores das armas votarem sempre pela guerra, só deixa em seu rastro sangue e escombros.
Ontem, meu amigo Berbere Hammu Toppia, me disse que na língua berbere as pessoas quando chegam e se despedem dizem "azul". Os judeus dizem shalom, paz.
Então, paz e azul para todos neste dia .

quinta-feira, 7 de maio de 2015

AZUL

Alguns poemas ficam morando dentro da gente desde a primeira leitura. Foi o que aconteceu com o poema do Carlos Pena Filho. Agora ganhei uma antologia bem simples mas com poemas maravilhosos usada pela Catalina Pagès em seus Círculos de Leitura e para minha grande alegria reencontro o azul:

SONETO DO DESMANTELO AZUL

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

     Carlos Pena Filho

quarta-feira, 6 de maio de 2015

CAMINHADA II


Ontem fui ao Rio de Janeiro para a revisão de três meses da cirurgia na coluna. A viagem foi cheia de obstáculos. Chovia torrencialmente quando saímos mas depois a chuva abrandou. Mas na Alameda, numa favela chamada Caixa d' água, passamos no meio de um tiroteio. Fiquei com muito medo. Na Ponte Rio Niterói havia um acidente de um ônibus da 1001 com uma moto. Mais tarde soubemos que o motoqueiro morreu e ficamos arrasados. Para quem vive numa aldeia no interior, o oceano de ônibus e carros assusta.
Mas almoçamos com três amigas amadas: Bia, Silvia e Mônica e a nossa alegria era feito espuma de onda.
Depois o médico me deu uma quase alta: só não posso ainda ficar na rede (adoro ler na rede) e pegar peso. Não tenho nenhum limite para caminhadas. Posso subir e descer na montanha quanto quiser e conseguir. Vou poder visitar meu grande amigo Salvador Almeida, que mora em Visconde de Mauá numa terra muito acima da nossa e para chegar até a sua casa há que subir muita montanha.
E hoje fui a pé até a vila com o Juan.
Logo ao abrir o portão fomos recebidos por uma revoada de gaivotas. Nunca vi tantas juntas voando pertinho da gente! Centenas. O mar devia estar com muito peixe.
Paramos no Posto de Saúde: Feio, decadente , uma pena, pois é onde vacinam os bebês, as crianças. Deveria ser lindo. Tomamos a vacina contra a gripe e fomos tomar outro café da manhã , no Marisco, de frente para a lagoa.
Mar, montanha e lagoa fazem de Saquarema um lugar único no mundo. E com um pingado e um pão francês na chapa com queijo de Minas, vira um paraíso imbatível.
A felicidade é quase grátis. Poder andar e olhar!!! Os garis varriam, varriam muito, pois dia 8 de maio é o aniversário da cidade. A verdade é que a cidade anda bem abandonada ultimamente mas hoje havia uma caravana de garis, todos num varre-que-varre delicioso.
Fui ao correio. Meu amigo gordinho estava lá atendendo. Voltou das férias e como aqui tudo se sabe , ele já sabia que fui operada e etc.
E assim vamos tecendo a vida. E caminhando. Fui andarilha no passado e espero retomar este maravilhoso ofício.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

CAMINHADA

Tenho andado uma hora todos os dias. É uma conquista imensa. Antes de operar a coluna já não podia andar nem dez minutos.
Gosto de andar pelas ruas de trás do nosso bairro. São ruas lindíssimas, calmas, com casas ajardinadas, fazem lindos jardins até nas calçadas. Não há trânsito nenhum cedinho de manhã, uma ou outra bicicleta ou moto.
Eu me vejo caminhando pelas ruas magníficas da minha infância no bairro do Grajaú, no Rio de Janeiro e uma emoção imensa me invade.
Ouço um galo, passam patos selvagens em sua estrada no ar, da lagoa para o oceano, não sei.
A luz e a calma da bela manhã de outono me invadem . Para que escrever um poema? Tudo isso é poesia!

sábado, 2 de maio de 2015

REVOLUÇÃO

Penso que a única revolução, a que realmente pode mudar um país, é a educação.
E esta revolução começa com o respeito pelos professores.
Por que os políticos possuem tantos, imensos privilégios e um professor ganha tão pouco que ao receber o seu salário sua dignidade fica ferida?
O que aconteceu no Paraná jamais teria acontecido, se lá , no princípio de tudo, o professor fosse respeitado.
Não há nada que justifique a violência contra os professores.
Não há nada que justifique o professor ser tratado com desprezo.
O professor é a chave do cofre do tesouro. A chave para abrir as mentes.
Nenhuma tecnologia pode substituir o olhar, o sorriso, o incentivo que o professor dá aos seus alunos. Ou, ao contrário, um professor despreparado pode destruir a auto estima de um aluno.
Devo muito a uma professora de português, Rosa Herman, ela lia minhas redações em voz alta, me incentivava a ler e escrever.
Todos nós, devemos muito a muitos professores amados.
O país que não coloca os professores no mais alto patamar está fadado ao fracasso.
Que cortem os privilégios dos palácios e dos políticos. Carros com motorista, mansões, jatinhos, e tratem a educação com o respeito que merece. O seu pilar é o professor.
Aqui não é questão de ideologia, deste partido ou daquele. É uma questão de vida ou morte para um país.
Milhões de pessoas podem sair da pobreza com uma escola de qualidade.
Podem expandir suas mentes, encontrar seu caminho.
E os professores são a peça principal desta bela engrenagem.

 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

ECOS VERDES

Ainda estarrecida com o artigo que li ontem no El País sobre a contaminação dos alimentos que comemos em níveis absolutamente alarmantes, faço um contraponto com uma linda notícia:

Acaba de sair o livro ECOS VERDES da ed. Rovelle, Eu traduzi o livro chileno e é um dos melhores que já li sobre ecologia para crianças. O texto é simples, maravilhoso e ensina a criança, ponto por ponto, a ter um Pensamento Verde. Ensina a reutilizar, reaproveitar, não consumir mais do que necessita, a dividir, a respeitar toda e qualquer vida, pois ela faz parte de uma cadeia absolutamente necessária para a nossa sobrevivência. Educa o pensamento, os gestos, o olhar. Aplaudo o livro de pé e aplausos para as autoras Mônica Martin e María de los Ángeles Pavez.
Todos sabemos que as crianças são a nossa última esperança. Que elas reeduquem os adultos.

" A TERRA É NOSSO LAR

A Terra é um lugar extraordinário, cheio de vida, e nos fornece tudo o que precisamos para existir. Todos os dias desfrutamos do que o planeta nos dá, desde um simples copo de água até as maravilhas da natureza.
Compartilhamos este lar com milhões de animais, insetos e plantas. Juntos, habitamos um ecossistema, isso quer dizer que vivemos num equilíbrio em que cada espécie desempenha seu papel e tanto contribui para o meio ambiente como obtém dele o que necessita."

in Eco Verdes, Mônica Martin e María de los Ángeles Pavez, ed. Rovelle