segunda-feira, 25 de maio de 2015

GIUDECCA

A Praça São Marcos havia se transformado num oceano de gente ontem pela manhã . O dia estava lindo finalmente. Para chegar até a barca que nos levaria para a Giudecca era preciso se transformar num felino e se esgueirar por entre as frestas dos corpos.

Logo ao desembarcamos passamos pelo Pavilhão da Síria, na Mostra Paralela da Bienal. O título da exposição, belíssimo: "Origens da Civilização". Eram quadros imensos, de uma bela pintura abstrata, como se para falar do começo não se pudesse utilizar uma arte figurativa. Não guardei o nome dos artistas, apenas de um, pois nas paredes Liu Shuishi, que não tem um nome árabe, escreveu coisas lindas, por exemplo: "A história distante só pode estar presente pelas palavras".
Saímos emocionados ao pensar nestes artistas produzindo obras tão belas e neste país tão dilacerado pela guerra, pela morte , pela destruição.
Era um alívio estar na Giudecca, esta ilha tão linda, com tão pouca gente. Ontem, domingo, acho que o número de pessoas em Veneza dobrou.
Do calçadão, logo ao chegar , descemos na segunda estação, se vê o Palácio Ducal em frente , a Torre da Praça, uma vista estonteante .
Caminhamos ao longo do calçadão até o final, onde ficava uns dos maiores moinhos da Europa, uma construção belíssima, o Molino Stucky, construído nos final do oitocentos pelo empresário Giovanni Stucky. O moinho chegou a empregar 1.500 pessoas, trabalhando em turnos por 24 horas.
Em 1955 o moinho fechou depois de uma lenta decadência. Ficou abandonado por muitos anos até que em 2007 o moinho se transforma num grande e muito luxuoso hotel, o Hotel Molino Stucky Hilton. Entramos para visitá-lo. Lá dentro é outro mundo, nada lembra que aquele espaço outrora foi um moinho. Mas o melhor de tudo é que respeitaram a sua fachada. Ao lado ainda há um pedaço do moinho totalmente abandonado.
Caminhar pelo calçadão com a vista deslumbrante do outro lado, pois se vê todo o Zattere, o calçadão da Accademia, é o verdadeiro luxo.
Escolhemos um restaurante na beira da água. Era lindo, mas o atendimento péssimo. Ostaria ae Botti. Não aconselho, o serviço beira a grosseria.
Na volta, para fugir da multidão da Praça São Marcos  já pelas escadarias podíamos medir a sua espessura, fomos por dentro, pelas ruelas e que sorte! caímos dentro de uma livraria. Juan comprou um livro do escritor croata Predrag Matvejevic , "L'Altra Venezia". Ele vai contando a história dos detalhes, comecei a ler e é lindíssimo. Ele apreende Veneza de uma maneira muito parecida com a nossa. Escreve: Cada vez que se volta a cidade é igual e diferente ao mesmo tempo, de dia ou de noite, com sol ou sob a chuva". (minha tradução). Comprei dois livros e o dono da livraria era um livreiro de verdade, espécie em extinção.
Agora, enquanto escrevo, a filha do Juan, Maya, com seus dois filhos, Kira e Astor, já deve estar no barco a caminho do hotel.
Hoje não chove, mas está meio nublado, faz um pouco de frio.   E não faço a menor ideia de como construiremos o nosso dia .    

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