quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

AGRADECIMENTO

No ano de 2015 vivi momentos maravilhosos e outros nem tanto.
O mundo viveu momentos terríveis .
Alguns amigos antigos que me conhecem do lado direito e esquerdo continuam caminhando comigo.
Amigos novos entraram na minha vida para sempre.
Amigos virtuais dividem tanta coisa comigo.
A tribo do Clube de Leitura da Casa Amarela só me dá alegrias.
Minha família é minha âncora, não importa a qualidade do mar.
Dois livros novos alegraram meus dias.
Outros, já escritos, ainda esperam .
Outros ainda serão escritos.
Fiz uma cirurgia bem sucedida na coluna que mudou a minha vida.
Agora posso andar e posso dançar. Antes era quase tudo dor.
Durmo e acordo cheia de poesia.
Todas as pessoas que me cercam e que amo estão vivas.
Os meus mortos me habitam de uma maneira leve, como se nadassem dentro de mim.
Agradeço por todas as dádivas.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

MALA DE LEITURA

Recebo para minha felicidade a visita de dois amigos que amo e que fazem um trabalho extraordinário: Maurício Leite e José Mauro Brant.
Nos conhecemos de longa data, viajamos juntos no passado muitas vezes na caravana de artistas do Proler sob a batuta da Eliana Yunes.
Maurício Leite criou as Malas de Leitura. Foi seu inventor. Levou sua mala mágica para os lugares mais afastados do Brasil e da África.
José Mauro Brant faz um trabalho de teatro extraordinário. Fizemos algumas coisas juntos, a peça do Lorca "Pequeno Poema Infinito" que traduzi.
Juntar os dois aqui em casa é pura magia, coisa muito difícil de acontecer.
Agora eu os espero para o café da manhã. Ainda dormem.
Sonho em fazer alguma coisa com o Zé Mauro outra vez. Quem sabe?
A vida é essa caixinha de música, a gente abre e não sabe que acordes irão escapar.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ANIVERSÁRIO

Num livro que amo, Lumières Allumées, da Bella Chagall, a primeira mulher do grande pintor, num dos textos ela conta que perguntou ao Chagall, quando estavam namorando, se ele sabia quando era o seu aniversário. Os judeus naquele tempo e lugar não comemoravam o aniversário, ele sabia que era perto de uma determinada festa, talvez fosse no dia tal.
Neste dia Bella saiu de sua casa bem cedinho, com os xales mais coloridos que tinha, colheu flores, e assim, toda carregada, atravessou a cidade correndo, Vitebsk, atravessou a ponte, chegou na casa do pintor.
Pendurou os xales nas paredes e já ia colocando as flores num vaso quando Chagall gritou:
_Pare!!!
E começou a pintá-la e ela saia voando pela janela, no quadro que se chama O Aniversário.
Ontem foi assim que me senti. Voando por cima dos telhados, por cima do mar.
Recebi mais de trezentas mensagens maravilhosas pelo facebook, poemas, flores, bordados, depoimentos incríveis, emocionantes.
Ontem tive a dimensão da força da minha poesia.
Amigos reais e virtuais, numa grande ciranda, leitores conhecidos e desconhecidos, num grande abraço, o maior que já recebi na vida.
Obrigada.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

VERÃO

Alguns minutos ao amanhecer, às cinco e meia da manhã: o mais belo poema que o céu pudesse escrever. Não se pode perder esses poucos minutos. E logo depois, as gaivotas, muitas, parecem de prata no espelho da luz:

As gaivotas de prata
rabiscam o céu
voo e caligrafia

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ROTA DE VOO

Cada um escolhe a sua rota de voo, a sua maneira de voar, de caminhar no ar.
Que mesmo sem asas, tão rastejantes humanos que somos, egoístas, acumuladores, pesados, que mesmo assim, saibamos fabricar estradas aladas, e buscar o melhor dentro de nós, para oferecer ao outro, como braçadas de flores:

Para viver há que buscar
miragens:
um céu inteiro
nas asas translúcidas
de uma libélula.
E por um instante
andar no ar
é tão fácil

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

INCÊNDIOS

O que dizer diante do incêndio do Museu da Língua Portuguesa, um dos mais originais museus do mundo? Como deixaram que isso acontecesse?
O que dizer diante da tragédia de Mariana, uma das maiores do mundo? Como deixaram isso acontecer?
O que dizer diante do desinvestimento na Educação, num país que escolhe o slogan de Pátria Educadora?
O que dizer diante de hospitais que fecham, de hospitais depredados?
O que dizer diante de Universidades caindo aos pedaços, onde alunos são assaltados dentro do campus?
O que dizer diante de professores sem receber seus salários?
O que dizer diante dos roubos gigantescos de dinheiro público? Ninguém sabe de nada. Os políticos roubam, trapaceiam, mentem, fazem esquemas gigantescos para enganar e ninguém sabe, ninguém viu.
O que dizer diante dos marqueteiros? Da inflação, do desemprego?

A impotência é uma dor imensa.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

OURO NO FUNDO DO POTE


O sonho dos alquimistas, transformar qualquer metal em ouro, é absolutamente possível. Para isso basta a poesia, os sonhos, a memória:


No final do arco-íris
brilha o ouro no fundo do pote.
Para alcançá-lo basta
caminhar sem rumo
em tardes de chuva e sol.

Basta olhar o céu
e deixar o pensamento
virar nuvem, água, estrela,
cavalo comento relva
úmida e fresca
nos imensos campos da memória,
onde cada instante
vira ouro no fundo do pote.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

HORIZONTE

Moro quase dentro do mar.
Hoje pela manhã havia um cheiro forte de algas, mesmo antes de olhar o mar, pelo cheiro, eu já sabia que ele havia virado. Ondas altas explodindo. Adoro este perfume adocicado. Deixo que ele me envolva, fico lá dentro, quieta, tomando café.

HORIZONTE

Se eu apagasse a fina linha
do horizonte
será que o céu cairia
no mar?
E as estrelas e a lua
começariam a navegar?

Ou será que o mar viraria
céu
e os peixes aprenderiam a voar?

in Fardo de Carinho, Lê Editora.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

RITOS DE PASSAGEM

Todos sabemos que o tempo é uma sinfonia imóvel. Somos nós que passamos.
No entanto, dividimos o tempo para suportar a sua imobilidade.
E parece que precisamos dos ritos de passagem para sobreviver.
Fazemos balanços, promessas, estabelecemos metas e desejos para o próximo ano. Mas o ano novo é todo dia. É toda hora, todo minuto, todo segundo.
Para suportar a vida é preciso viver com muita paixão. Amar tudo o que se faz. Amar a terra e o céu.
Então o que vivo será a medida do meu tempo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A LUZ DO MAR

Comecei o dia andando pelas belíssimas ruas de dentro do nosso bairro que me trazem uma lufada da infância quando andava com minha mãe pelas ruas do Grajaú e namorava as casas. As ruas são tão arborizadas, tão floridas, tão vazias, é uma viagem no tempo.
Depois resolvi fazer a minha meditação no mar. O mar de Saquarema é muito selvagem e para mim completamente hostil, já que meu corpo tem um certo parentesco com uma loja de ferragens, sou cheia de próteses e não posso (não devo) cair. Vou pouco ao mar, embora a casa seja quase dentro do mar e eu me sinta a bordo de um barco em tempo integral.
Faço meditação e é o que me salva da minha ansiedade. Freia um pouco o cavalo em disparada que existe dentro de mim.
Hoje o mar estava calmo. Dezenas de gaivotas. E lá pelos lados da Igreja havia uma luz prateada tão intensa sobre a água que eu mal podia acreditar que fosse possível tanta beleza. Entre a prata do mar e a prata das gaivotas eu existia.
De repente fiz um poema em italiano. Pela primeira vez. Eu queria falar da casa, falar da luz e o poema veio. Estudo italiano , leio em italiano, vejo a RAI, enfim, me dedico. E então recebi este prêmio. Consegui pensar meu primeiro poema em italiano. Juan corrigiu alguns erros, nada grave, algumas partículas. E o que aconteceu foi muito além do poema. Foi como se a língua tivesse me aceito.

La mia casa gialla
è aperta a la luce
e la música del mare.
La luce qui riposa
su l'acqua
sembra dei pesci
liquidi,
sembra la luna
devenuta barca,
fatigata de la notte.
La mia casa gialla
è aperta
a tutti i venti
che vengono del paese
de la memoria,
è aperta a tutti li ucceli
e amici.

PS: Celmar, minha linda professora de italiano,  se ainda tiver alguma coisa errada, por favor, me avise.
 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

POEMA DE NATAL

Dezembro de flores vermelhas: quando nasce o sol e incendeia o céu,quando o sol se põe e incendeia o mar, dá uma vontade de chamar os amigos para bem perto da gente, de abraçar, dividir, trocar palavras cheias de amor, fazer poesia, cozinhar, dançar.

Para o Natal
convém rearrumar
o coração,
buscar a noite
mais escura,
mais longínqua
e estrelada,
onde na infância
tudo era assombro.

Para o Natal só o que couber
no coração:
as coisas mais etéreas,
insubstanciais,
o dom do amor,
da amizade.
Que as linhas da mão
se transformem
em barco
e nos ajudem
a atravessar a fronteira
que nos separa do outro.
Para o Natal
convém buscar a luz
antes do seu nascimento
e abraçar a vida.

domingo, 13 de dezembro de 2015

CONTOS DE NATAL

Uma vez ao ano o encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela acontece no sítio de dois leitores, na zona rural de Saquarema, na frente da lagoa, um lugar de indescritível beleza.
O primeiro encontro seria na nossa casa de onde saímos em caravana.
O caminho até lá já é absolutamente deslumbrante.
Ao chegar fui saudada ruidosamente por um peru, em homenagem ao conto do Mário de Andrade.
Os donos da casa avisaram: não parem os carros debaixo das mangueiras carregadas!
Fui de carona com a Adelaide Vidal, pois não temos carro e nunca soube dirigir.
Reencontrei Rafael Santana, que foi amigo do meu amigo Latuf, que ao partir para a Via Láctea com seus livros, me deixou órfã. Rafael Santana é professor titular da UFRJ de literatura e agora entrou para o Clube. Trouxe um pedaço do Latuf, que era seu orientador.
Máximo Tarantini, cineasta italiano que vive alguns meses em Saquarema, também é um novo membro do Clube, assim como Paulo Luiz Oliveira, que publicou o livro Tamoios, a presença dos índios na nossa região.
Começamos o encontro com o Conto de Natal do Dickens, numa discussão acalorada.
Cristiano Mota Mendes lembrou que no século XIX o ocultismo estava na moda, o que de certa moda explicaria a aparição do fantasma do sócio Marley.
Falou também da critica social que Dickens faz.
Norma Estrela falou de Cronos. Ronaldo falou que astrológicamente Scrooge era um saturniano.
Afinal todos concordamos que apesar de não sermos leitores do século XIX e às vezes o conto soar estranho aos nossos ouvidos, o que fica é a transformação de um ser humano, para que assim ajude a transformar uma sociedade tão cruel.
Passamos para o maravilhoso Peru de Natal do Mário.
Falamos da sua irreverência, de como o patriarcado ali se quebra e começa o reino feminino.
Rafael trouxe a lembrança das festas pagãs.
Fomos tão felizes nesse conto. Estávamos todos nessa mesa de pura alegria.
No Presente dos Magos de O.Henry, nos emocionamos com um amor tão singelo e verdadeiro.
Afinal os dois, despojados do que tinham de mais precioso materialmente falando,ficaram mais ricos, pois a consciência de terem um ao outro se fortaleceu.
No Natal na Barca falamos da barca de Caronte mas também da barca que leva ao novo, falamos da travessia, da fé, de milagres. É um conto forte e belíssimo esse da Lygia.
Natal na Terra das Neves nos levou a um lugar tão estranho para nós, tão inóspito. Nesse conto de Jack London, o Natal é a justiça. E a partida na escuridão rumo à luz.
Belo conto.
Na Missa do Galo as galinhas d'angola gritavam como loucas no jardim! saudando o conto.
Novamente a questão da mulher na sombra e como por alguns instantes aquela mulher se ilumina, transborda, seduz.
O conto é de um erotismo sutil e magnífico.
Muito se falou então de Machado e Mário de Andrade.
Para o conto Presepe, a surpresa:
Ronaldo tocou no violão uma canção feita para o conto e cantou junto com Ana. Ronaldo Mota nos prometeu vir sempre aos encontros daqui pra frente. Cantaram ainda junto com Cristiano duas músicas do espetáculo teatral Barquinho, pois tinham algo do espírito do Natal.
Felipe Lacerda leu um poema do Drummond. Eu li meu poema de Natal e Fernando leu um poema de Natal do Chico Peres.
Então fomos para a mesa que ninguém é de ferro.
Hélio e Fernando, nossos anfitriões, prepararam a mesa mais linda.
Fizemos nosso amigo oculto de livros e poemas.
Angela Maria Quintieri cantou com Ronaldo ao violão.
Todos do grupo trocamos juras de amor, pois já somos uma família ligada pela literatura.Antonio Antônio Cesar Alves, Fátima Fatima Alves, incansáveis em sua delicadeza, trazem muita alegria ao grupo.
E os ausentes Gilcilene Cardoso, Maria Clara, Leila Bialowas, Jose Augusto Messias, Izabella Coutinho estiveram o tempo todo presentes.
Teve bolo de aniversário para Felipe, Cristiano e para mim que faço anos dia 27.
E fomos felizes para sempre. Ganhamos livros maravilhosos. Lindas escolhas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

SUGESTÃO

Para o encontro do nosso Clube de Leitura do dia 12, fiz uma seleção de contos de Natal. São todos maravilhosos e abordam variadas questões referentes ao Natal.
Sou judia e não tive Natal na minha infância. Meu pai tinha uma loja que expunha os brinquedos na calçada. Eu olhava todas aquelas maravilhas com um olho bem derramado, mas não adiantava nada. Não me lembro de ter ganho nenhum presente de Natal na infância. Mas eu vivi a Era do Rádio, um tempo antes da nossa violenta sociedade de consumo. Então era assim, o Natal não era uma festa nossa. Tínhamos as nossas festas. A festa da Páscoa judaica, por exemplo, me encantava porque era apaixonada pelo livro de perguntas com desenhos maravilhosos. Aquele livro e a história da libertação do jugo egípcio era uma saga incrível, eu adorava atravessar o deserto.
Só fui conhecer a história de Jesus muito mais tarde.
De qualquer maneira, o espírito consumista do Natal não me pertence e acho contraditório com a bela história de Jesus, que era pobre. Se é para dar presentes, em homenagem aos Três Reis Magos, que provavelmente nem existiram, que seja algo bem significativo e verdadeiro. Um livro,uma canção, um poema, uma fotografia, algo que emocione o outro. Hoje fiz um belo poema poema de Natal para enviar aos amigos. Publicarei semana que vem.
Mas dei a volta ao mundo para falar que tenho uma sugestão para o Natal.
Quando todos estiverem reunidos, que tal ler um dos contos dos que escolhemos para o Clube de Leitura, na mesa, antes da ceia? Como na Páscoa judaica, o  menino faz as perguntas : "Em que se diferencia esta noite de todas as outras noites?" para que a história seja contada. Certamente um dos contos encherá de beleza o coração dos ouvintes.
Lá vai a lista:
O PERU DE NATAL - Mário de Andrade
NATAL NA BARCA - Lygia Fagundes Telles
MISSA DO GALO - Machado de Assis
PRESEPE - Guimarães Rosa
CONTO DE NATAL - Charles Dickens
O PRESENTE DOS MAGOS - O.Henry
NATAL NA TERRA DAS NEVES - Jack London

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

PAZ

A paz é o cotidiano miúdo que corre em nossas mãos. A panela no fogo, o peixeiro que abre as portas cedinho de manhã, a padaria com seu perfume de pão que se espraia pelas calçadas, no hospital a enfermeira que se prepara para um dia normal de trabalho, o garçom que serve o senhor solitário.
A paz é o cotidiano , é a vida, dia por dia, o casal que se beija na esquina, a mãe que amamenta. As dádivas da paz.
Ontem vi um documentário muito impressionante sobre o que aconteceu em Paris no dia 13. Mas a originalidade do documentário é imensa. Ele não nos mostra as cenas do massacre, mas sim o dia seguinte, e depois, o dia seguinte, até completar uma semana, com as pessoas comuns do bairro. Mostra o bairro inteiro, como as entranhas de um armarinho. E mostra os sentimentos que percorrem as ruas  O que aconteceu com as pessoas do bairro que sobreviveram, como reagiram. E como aos poucos a vida vai se rearrumando, porque a vida quer viver. O documentário se chama La France qui se relève.
Poucos dias antes havia visto um documentário terrível na Globonews sobre o Estado Islâmico, filmado por eles. São os filmes que produzem como material de propaganda , que circulam pelos desvãos da Rede e que foram recolhidos e montados numa sequência.
É apavorante, impressionante, terrível, nenhum adjetivo pode dar conta do que vi.
Não há cotidiano. Tudo é guerra, horror, desordem, avesso. Como disse Guimarães Rosa, é o diabo no meio da rua. Crianças são treinadas para matar. São filmadas matando. O outro não pode existir. Só eu posso existir, com as minhas verdades cheias de sangue, num jogo macabro de espelhos. É Narciso levado às suas últimas consequências.
No bairro onde houve o massacre em Paris, convivem várias religiões, gente de muitos lugares. Convivem em paz. Ou seja, muitas verdades circulam por ali. Muitas maneiras de lidar com a vida, com a sexualidade, com a espiritualidade. Tenho pavor das verdades absolutas. Aceitar o outro e suas crenças, sua maneira de existir, me faz mais rica de mim mesma.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

AMIGOS VIRTUAIS/AMIGOS REAIS

Recebi faz algum tempo, um vídeo que falava dos amigos verdadeiros e do tempo que perdemos com os amigos "virtuais", já que não podemos olhar nos seus olhos, ouvir a sua voz, etc, seria um tempo perdido quando poderíamos estar com os amigos reais.  Que às vezes temos dois mil amigos virtuais mas não temos amigos reais. Li também um artigo da Martha Medeiros sobre as redes em que falava que nas redes somos todos maravilhosos, fantásticos, cheios de compaixão e boa intenção, etc. Nas redes.
E fiquei pensando.
As redes sociais são algo novíssimo.
Quando eu era jovem nem havia internet. Não havia celular. Não havia nada virtual, havia literatura.
Amigos reais também podem ser virtuais. Tenho muitos amigos da minha vida real que estão na minha rede e nos comunicamos.
Amigos virtuais podem tornar-se amigos reais. Conheci várias pessoas da minha rede que foram ao meu encontro.
Amigos reais não excluem os amigos virtuais. Às vezes se interpenetram.
Amigos verdadeiros são raros. São preciosíssimos. São tesouros. Amigos verdadeiros são os que olham dentro da gente. Os que nos aceitam com nossas esquisitices e não querem nos mudar. Os que nos amam sempre. Mesmo que a gente pense diferente. Amigos verdadeiros seguram a nossa mão na beira do abismo. E não se assustam com a gente.
Amigos virtuais são nossos leitores. De muitas maneiras participam da nossa vida, dos nossos êxitos, dos nossos fracassos, também nos ajudam.
Mas é claro que mostramos sempre o nosso lado mais cheio de sol, nossas melhores virtudes nas redes sociais. E isso é bom. É um exercício, como a generosidade é um exercício, a compaixão.
Quem sabe mostrando muito mais as nossas qualidades, não as reforçamos?
Recebo presentes maravilhosos dos amigos virtuais. Fotografias, filmes, palavras de amor e incentivo. Tenho leitores apaixonados. Não saberia da sua existência se não participasse de uma rede social.
Aproveitemos os dois mundos. Para fazer circular nossas ideias e quem sabe ajudar a mudar o mundo.
 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O MELHOR LUGAR DO MUNDO É DENTRO DE UM ABRAÇO

Chovia. A varanda estava molhada e úmida, então o nosso encontro com os alunos do Educandário do Bem aconteceu dentro de casa, na sala e ficou bem aconchegante.
Eles já conheciam muitos dos meus livros e chegaram com perguntas inquietas que não queriam parar dentro da boca, então começamos pelas perguntas surpreendentes que me fizeram.
Renan queria saber como é a mente de um poeta.
Rayane queria saber como é a vida de uma escritora.
Kamilla me perguntou qual o livro que mais gostei de escrever e porque decidi morar em Saquarema.
Victor me perguntou como eu me sentia ao ler uma coisa que eu escrevi.
Aiene queria saber que livro eu gostaria de escrever.
Queriam saber da Babel, a nossa gata que se mudou para as estrelas. Falamos então sobre vida e morte. Falamos sobre os gatos. Disse para eles que a mente de um poeta talvez seja bastante parecida com a mente de um gato.
Eles queriam saber o que é uma editora e como faço para conseguir publicar um livro.
Eles tinham um poço inteiro de curiosidade e falei do meu livro Poço dos Desejos e li alguns poemas do livro. Li o poema do Abraço :

DESEJO DE ABRAÇO
Desejo de abraço
nunca passa.
Abraço é o nó mais delicado
que há.
Um braço aqui e outro lá
e o coração se derrete,
o corpo afunda na mais
gigantesca felicidade.

Fátima disse que tinha no
celular a música "O MELHOR LUGAR DO MUNDO É DENTRO DE UM ABRAÇO"  do J.Quest e pedi para ouvirmos no final.
Li também o poema "Desejo de ouvir o pensamento dos gatos" para falar um pouco da mente dos poetas.
Eles falaram dos seus desejos.
Falamos de leitura, da leitura do mundo.
Eles queriam conhecer as nossas gatas.
Juan buscou a Nana e a energia da sala era tão amorosa que Nana assistiu a tudo no colo do Juan prestando muita atenção. Ela adorou o poema dos gatos.
A Luna, nossa gata persa bem velhinha, é bem tímida, um pouco autista e não gosta de multidão. Vinte pessoas para ela já é multidão.
Fizemos a brincadeira da Orquestra Noturna, do livro Caixinha de Música e finalizamos com a música do J.Quest.
Então, antes do lanche, todos nos abraçamos muito e de verdade.
Havia parado de chover e eles escolhiam o que queriam comer na mesa, bolo, pão recheado feito por mim, panetone, suco, café com leite e iam lanchar no jardim.
Ninguém queria ir embora.
Havia, como no meu poema do livro Poço dos Desejos, um desejo de parar o tempo.  

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

RIOS SUBTERRÂNEOS





Em momentos difíceis, quando o mundo parece mergulhado numa insanidade macabra, há que contemplar, escrever, dançar, cantar, tocar as cordas do coração do outro. Para que nossas vidas tenham o sentido que desejamos que tenha.

Os rios subterrâneos
da felicidade
deságuam nos olhos,
nas mãos e nos gestos
de todo dia.
Há que alimentá-los
com as flores silvestres
que nascem inesperadamente
na curva do arco-íris,
com a tarde lavada
depois da chuva,
com a música
de uma água limpa,
com os primeiros versos
de um poema
que ainda vai nascer
e se equilibra
entre os vãos do tempo.