terça-feira, 31 de maio de 2016

ESCOLAS DE SAQUAREMA

O encontro de hoje no Café, Pão e Texto com os professores de Saquarema foi maravilhoso. Foi como um debate sobre o que podemos mudar na escola para que a leitura seja o fio condutor de todo o aprendizado.
Como já fiz antes, em outro encontro, listamos tudo o que existe na escola que nos remete a um cárcere, tudo o que provoca a sensação de aprisionamento. E então falamos do que se pode mudar, da literatura e da arte como a saída, o oxigênio, o voo rumo ao que existe de melhor em nós.
Muitos relatos preencheram a nossa manhã.  
Parece que sou uma formiguinha carregando diminutas pétalas de flores.
Esses encontros, onde consigo transtornar algumas mentes e corações, justificam a minha vida.

terça-feira, 24 de maio de 2016

NO ALTO MARINGÁ

Todos os meses, quando venho ficar com a minha família em Visconde de Mauá, durmo um dia na casa da minha irmã ceramista para muito abraços e uma sessão de cinema.
Dividimos a cama, eu, minha irmã, meu cunhado e a Lola, a gata, dois potes gigantes de pipoca. Até a Lola adora pipoca.
Ontem vimos Brooklyn, uma love story bem bonita e Trumann, com o amado Ricardo Darín, um filme absolutamente terrível e maravilhoso. Fiquei tão impactada com o filme que quase não pude dormir, praticamente virei a noite.
Depois do almoço volto para a minha casinha na mata, onde todos os laços com a civilização são precários: o sinal da internet é frágil e o do telefone também. Na minha casa não recebo sinal de nada, se quero ver alguma mensagem tenho que caminhar até o Babel, restaurante do meu filho. O caminho dentro da mata é maravilhoso e me assombro a cada vez. Não tenho sinal de internet mas recebo visitas maravilhosas de guaxos, teiús, tucanos e ontem um temporal com arco íris.
Fico aqui até o dia 30 quando volto para o mar, atravessando não só estradas, mas várias dimensões.


E assim começa o dia:
nas mãos a chuva
se avoluma
enquanto um arco íris
incendeia o coração,
vira o corpo do avesso,
enche de cor as entranhas,
entorna por dentro um novo
caminho.
O vento sussurra
suas frágeis palavras
e é preciso guardá-las
entre os ossos
para que algum dia
virem pássaros.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

ENCONTRO E VIAGEM

Ontem recebi a UMEI Jacy Pacheco, uma creche com 270 crianças lá de Niterói: Uma ideia linda: as crianças se misturam nas atividades. Crianças de idades diferentes.
Conversamos muito sobre leitura. Sobre a infância. Li trechos do livro Casa das Estrelas de Javier Naranjo. Li um conto do meu livro Exercícios de Amor.
Foi muito bom. Estou plena. Virei uma casa de estrelas.
E hoje viajo para a montanha. Meu exercício de mensal irar árvore no meio da mata.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

VASTAS EMOÇÕES

A semana passada foi de vastas emoções. A inauguração de uma Sala de Leitura com meu nome em Sampaio Correia , na E.M.Clotilde me levou para os anéis de Saturno.
Além da beleza fulgurante da Sala sob a batuta da Professora Rosilea, o conceito é absurdamente belo.
Leitura integrada com as disciplinas, um dia de leitura com as mães, carteira de leitor personalizada para levar os livros para casa, um dia de contação de história, um dia de história da arte com a participação de toda a escola. Na Sala há um cantinho da poesia, um cantinho de histórias e um cantinho adolescente! Tudo com tapetes e almofadas pra gente se esparramar lendo e... transbordar.
Com certeza a Sala de Leitura fará uma diferença muito grande no cotidiano dessa belíssima escola.
E as diretoras me contaram que a partir dessa semana ou da outra, irão substituir a campainha horrorosa de fábrica, para marcar os intervalos, por música! O que mais posso pedir?
Na Sala há uma árvore-estante com meu poema Transformação do livro Fábrica de Poesia. Gosto de partir da ideia da semente, pois tudo começa assim, com um sonho. A Sala foi feita com um grande esforço coletivo pois não havia verba. Mas todos ajudaram, inclusive colocando a mão na massa, pintando e bordando.
Todo o meu agradecimento e toda a minha alegria. E vida longa para a Sala de Leitura que leva o meu nome.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

COM AS PROFESSORAS DE ITABORAÍ

Hoje, com um sudoeste querendo entrar, recebi 26 professoras de Itaboraí na minha varanda.
Durante duas horas, depois do café da manhã, falamos de leitura e literatura.
Comecei fazendo com elas uma lista do que na escola se assemelha a um cárcere. Fomos enumerando: grades, portões, filas, uniformes, campainhas estridentes para separar o tempo, carteiras em fila e tudo compartimentado.
E então a literatura é a janela por onde se pode escapar.
Falamos das mudanças possíveis, o que podemos fazer.
Foi muito rico esse encontro. Professoras apaixonadas por leitura e relatos maravilhosos.
Sou a convidada especial da Feira de Livros e já estou sendo lida nas mais de 80 escolas do município.
Depois que elas partiram o Sudoeste entrou e uma poeira de chuva.
Um tempo propício para agarrar um livro

terça-feira, 10 de maio de 2016

CAFÉ, PÃO E TEXTO COM KALU COELHO

Cada encontro do Café, Pão e Texto me diz o caminho. Não tenho nenhum roteiro.
Hoje recebi a Escola Municipalizada Onze de Junho pelas mãos das Professoras Prica Mota, Fabiana, Janaína, Lucine, Aldilea e o Motorista Sérgio.
Um pouco antes do ônibus da escola encostar, a minha convidada especial chegou, Kalu Coelho, trazendo a Diretora de uma escola de Cabo Frio, Eunice e Lilian, professora.  Kalu é musicista e professora de música em Búzios.
O café da manhã já estava na mesa e eles comeram antes da gente começar a conversar, pois estavam com fome, vieram de Itaboraí.
Eu havia acordado às cinco da manhã para preparar tudo.
Logo ganhei um presente da escola: uma caderneta linda, mas a maravilha é que o presente vinha com um texto emocionante escrito por uma aluna, Aldaleia. Ela me diz:
“ Seu poder Sonhador. Com tuas mãos fazes do mundo um melhor lugar.Grande poetisa que descreve tudo com letras.
Você descobriu um mundo encantado. Onde nada faz sentido, porém tudo é belo. Onde cada palavra guarda um profundo significado.
Onde sonhar se torna possível com papel e lápis.
Você Roseana descobriu algo desejado como a alquimia.
Você, minha cara, descobriu como se manter sonhando em um mundo virado ao avesso.”
Kalu fez mísica para um poema do livro Poemas de Céu: Estrela Cadente.
 A sua música , lindíssima, emocionante teve um efeito indescritível em todos nós. As crianças aprenderam e cantaram o refrão.
Fizemos a Orquestra Noturna, do livro Caixinha de Música, mas Kalu, depois do poema, perguntou se eles queriam fazer um temporal e ensinou várias maneiras de bater palmas. De olhos fechados eles fizeram um temporal. Perfeito.
Brincamos com muitos poemas e Kalu explicou para eles o que era música instrumental. Explicou o seu processo de criação, como antes de compor há uma história ou alguém, há um sentimento, há o momento... E todos de olhos fechados, eles ouviram a maravilhosa música Amálgama. No final ela perguntou o que eles pensaram enquanto ouviam a música e Aldalea disse que pensou que essa música talvez tivesse sido feita para alguém, Aldalea havia pensado no pai, pois ontem fora o seu aniversário... Kalu disse que havia incrivelmente feito a música para um amigo que era como um pai, pro grande músico Guinga.
Então falamos sobre a palavra amálgama, essa liga que estava unindo o grupo naquele momento.
Hoje falamos de sentimentos e desejos.
Kalu foi uma grande parceira e estou muito emocionada.  


segunda-feira, 9 de maio de 2016

OGUM E MARIA MOURA

O encontro de sábado do Clube de Leitura da Casa Amarela  foi cheio de ausências e uma presença inesperada.
Dez pessoas faltaram por motivos alegres, trágicos e tristes.
Mas uma pessoa chegou de muito longe e de surpresa.
O Clube é um barco que ondula com gente maravilhosa.
Dr.Messias, meu médico e amigo e irmão há mais de quarenta anos, é um leitor voraz e magnífico e veio do Rio.
Cristiano Mota Mendes, Ronaldo Mota e Ana Amorim, vieram do Rio também. Cristiano é um dos maiores conhecedores de Guimarães Rosa, um leitor absolutamente apaixonado. Seu ofício é ler, embora seja ator e músico. Ronaldo é músico, Ana, bibliotecária e cantora, dona de uma voz lindíssima.
Cris e André vieram de Niterói.. São leitores , Cris é advogada e agora vai dirigir um Clube de Leitura. São novos do grupo.
Delma, professora e orientadora pedagógica veio de São Gonçalo.
Gilcilene, contadora, se descobriu leitora no Clube, e hoje não vive sem ler, trabalha em Saquarema.
César,contador, que tem o coração do tamanho do sol, Bruna, professora em Saquarema, Chico, meu amigo querido, poeta sensível e advogado e vereador , Denise, psicóloga, Adelaide, professora amada pelos adolescentes. Todos vivem aqui.
Começamos com a pergunta instigante de Cristiano para o livro da Rachel de Queiroz:
___ Quem é Maria Moura?
Falamos sobre toda a complexidade desta mulher que se vestia de homem, que atuava como um homem, naquele nordeste tão machista e dos coronéis. Ela era um coronel com seus jagunços.
Mas o que a movia? O que movia seus atos, roubos, assassinatos,? Que mulher era essa?
Esmiuçamos isso, escavamos o seu passado e encontramos tantas contradições em Maria Moura. Ela gostava de dominar. Mas também gostava de ser dominada.
Messias, como médico, disse que era uma perversa.
Adelaide e Gil lembraram que ela agia como homem, mas quando se apaixona, vira uma mulherzinha e desmonta.
Cristiano lembra que o único lugar onde Maria Moura era ela mesma, era no seu cubículo. Ali era o seu lugar de prazer e dor. Ali contava o seu ouro, ali gritava a sua dor.
Eu disse que sinto pouca profundidade nos emaranhados sentimentos de Maria Moura. Há uma barreira que não deixa o leitor mergulhar. Fizemos um paralelo entre Maria Moura e Diadorim e a diferença é gritante. Guimarães Rosa nos deixa penetrar na alma de Diadorim. Cristiano sublinha: é a linguagem de Guimarães que permite isso.
Concordamos que o personagem mais bem resolvido e muito bonito e comovente é o padre.E o casal de saltimbancos também é belíssimo.
O livro, achamos, tem pontos altos e algumas possibilidades que deixaram de ser exploradas.
Mas concordamos também que o romance é muito bem estruturado e que tem um final magnífico, em aberto.
Passamos para o Compadre de Ogum de Jorge Amado. Frisamos que o contraste desses Brasis, a secura do Ceará e a umidade sensual da Bahia, é gritante.
E achamos por unanimidade que é o melhor livro dele! Alegre, brincante, irreverente, engraçadíssimo, delicioso, aborda o sincretismo de uma maneira fantástica. Deveria ser lido por gente de todas as religiões. Sua escrita é bela, poética, deliciosa.
Então alguém disse: _ Tem um moço ali no portão.
Fui ver e achei que estava delirando. Meu amigo, poeta, escritor e psicanalista William Amorim, chegou de surpresa de São Luis do  Maranhão. Perdeu o ônibus no Rio e chegou atrasado.
Então tínhamos quatro maranhenses num grupo de quinze pessoas: ele, Cristiano, Ronaldo e Gilcilene!
Ronaldo e Ana cantaram. Cris e André trouxeram livros para sortear. Chico leu seu novo poema.
O almoço era de comidinha mineira  .
A alegria era um cavalo solto no vento, era Pégaso  galopando no azul.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

__ ESTÁ SERVIDA?

Que eu saiba tenho Salas de Leitura em Duque de Caxias, Realengo, Tomé- Açú, São Bernardo do Campo e agora em Saquarema, na minha cidade.
Peço a essas Salas que me lembrem de enviar livros de vez em quando.
Essa semana enviei o Coração à Deriva para Tomé-Açú, Professora Mira Mendes.
E doei muitos para a escola rural E.M.Clotilde.
O caminho até o correio é belíssimo e há uma parada obrigatória para um pingado com vista para a Lagoa.
Na volta para casa, hoje, dois senhores que trabalham na obra do calçadão aqui da orla, estavam sentados no meio fio comendo com a marmita no colo. Era a hora do almoço.
Eu passei e disse:
- Bom Apetite!
E eles responderam com uma frase que veio lá da minha infância:

-Obrigada! Está servida?

terça-feira, 3 de maio de 2016

SONHOS DE CRIANÇA

Lembro dos meus sonhos quando criança.
Meu pai tinha um armarinho mas eu sonhava com uma papelaria.
Também queria que meu pai tivesse uma carrocinha da Kibon, eram amarelas e lindas.
Não sonhava com viagens. Papelaria com livros além de todas as outras maravilhas e picolé.
Eu tinha uma professora que na hora de muito calor, enquanto escrevíamos, chupava um picolé. Eu tinha tanta inveja, mas tanta, que jurei que  quando crescesse iria ser professora. Só para poder tomar sorvete.
E hoje nem gosto de sorvete! Mas continuo amando papelarias e os livros são a minha verdadeira casa e as minhas mais maravilhosas viagens.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A MESA DE TRABALHO

Quando chego da montanha, encontro a minha mesa de trabalho transbordando. Porque na minha casinha não tenho internet e fica tudo para a volta.
Sou minha própria empresa e minha própria secretária sem nenhuma competência para isso.
Só gosto de ler, escrever e cozinhar.
Ofícios e notas fiscais e papéis e papéis , eu me perco nesse oceano, quase surto.
Mas consigo atravessar e chegar ao outro lado mais ou menos salva.
Claro que sempre deixo algo para amanhã.
Mas hoje tive uma ideia para um livro novo. E isso me dá fome.
Desculpem, mas preciso tomar um café.