quinta-feira, 28 de julho de 2016

NEBLINA

Hoje aqui na montanha o tempo virou. Amanheceu com neblina, uma poeira de irrealidade sobre todas as coisas.
Os dias escorrem e logo, feito a neblina que se dissipa, estarei em Saquarema, na minha outra vida, recebendo escolas, planejando encontros.
Esse tempo que passo aqui com a família é um grande tesouro. O que carrego para onde vou. O meu escaravelho dourado.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

E O SOL?

Frio. Quem sabe estou na Polônia, na aldeia do meu pai, quando ele era criança e rezava por um raio de sol.
O sol desapareceu.
Cozinho na lenha. Acendo a lareira. Leio. Escrevo.
O tempo vai se enrolando-desenrolando, aqui na montanha: teia de alumbramentos.

terça-feira, 19 de julho de 2016

GABRIELA

Tenho duas vidas e duas casas. Uma no mar e outra na montanha.
Na montanha é onde me encontro com os filhos e netos. Este mês de julho estou aqui, com a minha família.
Ontem trouxemos minha neta Gabriela para passear em Maringá (Visconde de Mauá é cheia de vales). Seu sonho de consumo é a loja de chocolate.
Enquanto a família se instalava num café, fomos nós duas caminhar. Gabi é falante e adoro seguir o curso do seu rio de pensamentos. A sua última moda é dizer "nem pensar" quando não quer alguma coisa. E meu neto Luis ensinou e ela repete como um mantra: "eu sou doida, eu sou doida, eu sou muito barulhenta". " Ela vai fazer três anos em novembro e não tem medo de nada. Adora atravessar a ponte e vai falando com todos os cachorros e deixa que eles cheirem a sua mão. Adora olhar o rio lá embaixo. Eu vou tentando olhar o mundo com os seus olhos.
A relação da Gabi com gatos, cachorros, cavalos, é emocionante. Todos os dias ela dá maçã ao Merlin, o cavalo do sítio (ele tem quase quarenta anos). Sabe colocá-la na terra a uma distância segura para que ele venha pegá-la. O Merlin é apaixonado por ela e deixa que ela monte a pelo.
Não existe dádiva maior do que uma criança poder viver a sua infância dentro da natureza.

domingo, 17 de julho de 2016

CLUBE DE LEITURA NA MONTANHA

No dia 16, sábado, minha pequena casa no alto de uma montanha, em Visconde de Mauá,  quase explodiu de poesia.
Uma vez por ano, no inverno nos reunimos aqui. Para sentir frio, para celebrar a vida e a literatura, com comida e vinho.
Verdade que ontem o inverno não apareceu. Fazia até um pouco de calor.
Começamos com os dois poemas dos dons do Borges e seus acordes maravilhosos fizeram com que a emoção envolvesse a sala e cada um de nós.
Lemos em voz alta o conto O Outro do Borges e Suzana Vargas falou sobre a diferença entre literatura fantástica e do absurdo e todos falamos dos nossos "outros", os que nos habitam desde a mais longínqua infância.
Falamos de Clarice e seu magnífico conto Felicidade Clandestina. Do conto como um rito de passagem. Da crueldade infantil, da crueldade do ser humano, da bondade. Da relação erótica que o leitor apaixonado tem com os livros que lê. Cada um falou de que maneira toca o  livro.  Ana , como bibliotecária do Sesc Teresópolis, falou do ciúme que tem dos livros que empresta.
Passamos para Teibele e seu Demônio do Bashevis Singer , conto delicioso, saboroso, triste e alegre, o "demônio" que sabe tocar Teibele, com suas carícias e histórias, que a desperta para o amor.
E A Balada de Adam Henry , de Ian McEwan, com o Clube cheio de advogados, Chico, Hélio, André, Christiane e um médico,Dr. José Augusto Messias, foi uma discussão maravilhosa .
Durante o almoço os advogados continuaram discutindo a questão de não se poder fazer transfusão de sangue em Testemunhas de Jeová. E Messias relatou vivências terríveis nos hospitais envolvendo esta questão.
O meu filho Chef André Murray preparou uma feijoada e nos cedeu uma funcionária, a Lurdinha, para ajudar .
Como num teatro, transformamos todos juntos a sala num restaurante para vinte e duas pessoas, pois chamei amigos daqui e a família para comer com a gente.
Dani, minha nora Chef confeiteira preparou uma torta sacher de sobremesa. Cantamos parabéns para a Bruna, aniversariante de julho.
E fomos felizes para sempre.
Nosso próximo encontro será dia 8 de outubro e vamos ler Como a Água que Corre, da Marguerite Yourcenar e cada um deve trazer um poema do Murilo Mendes. 

quinta-feira, 14 de julho de 2016

NA MONTANHA

Aqui na montanha os dias escorrem como areia dourada.
Começo a preparar o encontro do Clube de Leitura no dia 16.
Hoje chegam meus primeiros convidados.
Os dias estão esplêndidos e as noites frias e enluaradas.
Eu me alimento com a música das árvores.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

NA MONTANHA

Quando criança amava um livro que se chamava A Fada Menina. Uma menina entrava no buraco de uma árvore e saía no País das Fadas.
Parece que entrei nesse buraco e ... estou aqui na montanha, dentro do bosque.
O frio chegou à noite, de repente. Amo o frio. Amo tudo aqui. Como descrever o cheiro de mato com o cheiro do fogão de lenha aceso e o cheiro do sol, tudo junto?
Dia por dia estarei aqui para receber os amigos, o Clube de Leitura da Casa Amarela, que acontecerá aqui no dia 16.
A felicidade existe.

terça-feira, 5 de julho de 2016

PALAVRAS

Alguém já namorou uma palavra, assim de se apaixonar, de colocar na boca e sentir seu gosto misterioso, colocar no corpo feito perfuma raro?
Poetas são pessoas que se apaixonam por palavras, querem se casar com elas e as convidam para dançar no poema.E para isso o poeta tem que projetar o Salão de Dança, isto é, o poema, mesmo sem ser arquiteto, ou sendo apenas, arquiteto de nuvens e espaços siderais.
As palavras são a música do poeta, cada palavra tem, além do som, mil esconderijos. E é com elas que os poetas fabricam imagens.
Poetas são caçadores de palavras.
A prova disso? O belo poema do Drummond:

O LICOREIRO

O gosto do licor começa na idéia
licoreiro.
Digo baixinho: licoreiro.
Que sabor no som, no conhecimento do cristal
independente de licor-de-leite,
fabricação mui fina da cidade,
segredo da família de Oscarlina.

O licoreiro, vejo-o
delicioso em si, mesmo vazio
à espera de licor, de tal maneira
na forma trabalhada
habita o gosto perfumado
e em cada prisma-luz, se distribui
ao paladar da vista já gozando.

_ Que tem esse menino, a contemplar
o tempo  todo o licoreiro
se dentro dele não há nada?
Meu Deus, esse menino é viciado,
está na pua, só de olhar o licoreiro!

Carlos Drummond  de Andrade. Boitempo.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

PROFESSORAS DE ITABORAÍ NA VARANDA

Hoje a varanda foi transformada numa sala com tapetes e poltronas para receber as Professoras de Literatura das salas de Leitura de Itaboraí de 2016, pelas mãos da Ana Paula Botelho e Rosane Paiva.
Foi um dos encontros mais lindos e impactantes que tivemos aqui.
Li o poema Guardador de Rebanhos do Fernando Pessoa para contar que esse poema fez uma amiga ter a sua filha, uma decisão que foi tomada ao ouvir o poema.
Chorei muito ao ler o poema, quase não podia ler, pois o poema me trouxe para perto a amiga que amo e a sua filha, hoje uma bela mulher e é um dos poemas mais comoventes do mundo.. Contei essa história para mostrar a força de um poema, a força da literatura, que pode mudar o rumo de uma vida.
Mas elas tinham lido meu novo texto Livros e Leitores que está no meu site em formato de e book. E hoje todo o encontro foi pautado por essa evidência: "A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida " Cesare Pavese. A literatura salva.
Lemos poemas, um conto, muitas professoras contaram suas mais belas experiências e todas me disseram: "somos amadas nas escolas e ganhamos muitos presentes".
Falamos dos laços que a literatura faz entre as pessoas. Do agradecimento dos alunos por sentir que são acolhidos.
E no final elas me entregaram um texto escrito a partir da experiência da leitura dos Livros e Leitores e chorei outra vez, porque era muita coisa ter um retorno desses.
Eu tive que aguentar tanta dor por tantos anos, que quase não consigo chorar. Um amigo diz que choro por dentro. Que meus poemas são minhas lágrimas. Mas hoje chorei.
Reproduzo um trecho do texto:
" Obrigada por nos oferecer essa linha tênue entre escritor e leitor, a qual, às vezes, julgamos intransponível. A proposta de conhecê-la era isso:permitir esse contato mais íntimo com o escritor.E você nos abre seus textos, sua poesia, a porta da sua casa literal e conotativa, a sua fala, com Café, Pão e Texto e nos alimenta de fantasia e de reflexões sobre a escola, a Literatura, nós.
Nos presenteia com o lindo texto Livros e Leitores, cujo processo de construção da leitora/ escritora vai se revelando  e nos fazendo pensar..
Frases como: A escola sem literatura é cárcere; O trabalho com a literatura não é evento, é formação do leitor; A literatura é a janela; nos permitem ter consciência do nosso lugar de docentes de literatura e de professores que formam.leitores literários, de que podemos abrir a janela e atravessá -la."

Hoje acordei muito cedo para fazer os pães. A mesa tão linda, cheia de iguarias e amor,  só faz sentido quando os meus convidados se aproximam, fazem uma roda a sua volta . Hoje essas professoras maravilhosas.  Como um livro só faz sentido quando é tocado pelos olhos de alguém.
O meu Café, Pão e Texto, nessa manhã me devolveu algo tão grande, como se o mar tivesse trazido todas as suas baleias e cavalos marinhos até a minha porta para que eu pudesse chorar.

sábado, 2 de julho de 2016

NA SERRA CASTELHANA

Existe um lugar aqui em Saquarema, na área rural, o Palmital, que adoro. Toda a área é bela. Há um lago com patinhos e gosto tanto de me sentar na sua beira . Os lagos para mim possuem um grande fascínio.
É um Hotel Fazenda . Não é original, foi construído com material de demolição. A casa é linda e a comida mineira, que fica num fogão de lenha aceso, faz qualquer um perder o juízo. E não termina aí. Os doces de fazenda, o café com biscoito feito em casa... Pena que eles retiraram as redes do segundo andar.
É tudo bem cuidado, é um passeio necessário para quem vem a Saquarema, pois, se pode ir apenas para almoçar ou passar o dia.
Andreia e Elaine nos recebem tão gentilmente que  afundamos em seus sorrisos como numa poltrona macia.
Hoje iremos até la levando dois amigos que adoramos: Gisele, que conheci quando ela era taxista no Rio de Janeiro e nos tornamos muito amigas e Arnaldo, seu marido taxista, que parece um urso. Agora eles moram em Inoã, Gisele faz transporte escolar em Maricá e as crianças a adoram. Acompanho a sua vida e ela a minha. Foi minha escudeira fiel quando em 2010 tinha que ir todos os dias fazer radioterapia. Ela foi um grande apoio. E Arnaldo me leva e me traz e torna qualquer viagem divertida. Como eu adoro histórias e os dois possuem mil e uma histórias para contar, quando estamos juntos todo o tempo é pouco.
Bom sábado para todos.