sexta-feira, 30 de setembro de 2016

DE VOLTA PRA CASA

Cheguei em casa. Desfaço a mala e arrumo as próximas viagens. Terei dois encontros no nordeste com meus leitores.
Amo o nordeste de paixão e minha felicidade é imensa, pois estarei com amigos que amo.
Preparo o encontro do Clube dia 8. Muita coisa maravilhosa acontecendo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

UM PINGADO NA PADARIA

Estou hospedada em Búzios dentro de um restaurante que aluga dois quartos. É um casarão imenso e antigo, maravilhoso.
O Café da Manhã só para nós, pelas mãos da Adriana ,já que ocupamos os dois únicos quartos, é servido com o mar quase aos nossos pés. Ouvimos o sussurro do mar, a voz dos pescadores, o motor dos barcos.
Não entro no mar, não gosto de tomar sol na praia. Gosto de contemplar e caminhar.
Como o café só é servido às nove horas, eu e Juan saímos bem cedinho para tomar um pingado em alguma padaria.
É a hora em que os turistas dormem e os empregados dos hotéis chegam. É a população que mais tarde fica invisível.
Gosto de sentir essa vida subterrânea. Essas pessoas vivem na Rasa. Aqui onde estou o turismo é pesado. Mas só aparece mais tarde.
Gostamos de almoçar num restaurante bem pequeno, no caminho da praia dos Ossos, ao lado de uma peixaria, que se chama O Barco. A comida é boa, o peixe fresco e o preço justo. Búzios é muito cara. Há que tomar cuidado.
De madrugada o vento faz o casarão gemer, chorar, ele quase se dobra, range, fala a língua das madeiras antigas. Lá longe um apito de barco corta o meu sono. Levanto, abro a janela, faço um poema, volto a dormir.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

CORAL ENCANTA BÚZIOS

Estou em Búzios.Aqui vive e trabalha meu amigo Maestro Moisés Santos com seu Coral Encanta Búzios, de meninas adolescentes, que vivem em zonas menos turísticas.
Todos sabem o que a música pode fazer pela auto estima das pessoas.
Mas o Maestro Moisés vai  muito além. A sua comunicação com cada uma das jovens é fantástica e isso é um dom.
Espero que Búzios tenha consciência do nível altíssimo do seu trabalho musical e humano e não o deixe escapar.
O Maestro Moisés é um orgulho para qualquer cidade.
Hoje, de madrugada, na vigília, ainda tinha nos olhos a vista maravilhosa do meu quarto.
Então fiz um poema:

GAIVOTAS

Pela janela
meu olhar escapa
e em seu voo
enlaça
o barco pousado
na pele do mar
e da sua vida
oculta,
na pele da música.
Meu olhar varre o convés
escorregadio,
embaralha
rotas e ventos,
pronto
para desfazer
nós e âncoras,
levantas as cordas,
partir.
Um grito
de gaivota assina
o ar.

domingo, 25 de setembro de 2016

BÚZIOS

Búzios é linda. Eu a conheci em 1972. Não havia NADA!!! Só a beleza solta no vento. Acampamos com meu filho André com 3 anos na Praia da Ferradurinha, numa noite de lua cheia.
Recebo um convite de Búzios: dia 8 de dezembro uma Escola Quilombola me fará uma homenagem. Erika Anjos me escreve e eu respondo que sim, vou. Mas que gostaria da presença do Coral Encanta Búzios com meu amigo Maestro Moisés, que já me disse que sim.
E amanhã vou para Búzios com minha família espanhola: Maya, minha enteada e meus netos de estimação, Kira Velvet de 11 anos e Astor Kai com 4 e Juan. Vieram de Barelona e estamos muito felizes com eles em casa, a casa de pernas pro ar.
Fazia um ano e três meses que não nos víamos. Kira, minha neta, que já virou um livro lindo pela Lê Editora,  cresceu tanto que parece impossível e já combinamos: ano que vem ela virá sozinha para ficar aqui os dois meses das suas férias. Nós nos amamos. Queremos viajar juntas, só nós duas.
Estou esperando a confirmação da E.M.Clotilde , onde tenho minha Sala de Leitura, para fazer uma Roda de Leitura levando a Kira, dia 4. Desmarcaram a data combinada por problemas técnicos e estou aqui torcendo. Kira fala fluentemente três línguas e já entende bastante bem o português.Mas antes de tudo fala fluentemente a língua do amor.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

UTOPIA

Sobre a palavra UTOPIA me diz o Houaiss: Descrição imaginativa de uma sociedade ideal; plano irrealizável, fantasia.
Então a utopia não pode acontecer, porque se for realizada, não era uma utopia. Mas muitas coisas que eram utópicas aconteceram , em parte.Pensar em férias remuneradas no século XIX para os trabalhadores seria uma utopia na época. Então não podemos deixar que as utopias morram dentro da gente. A gente morre junto.
O mundo anda difícil de ser digerido, com todas as suas crueldades, com todos os excluídos. Já no café da manhã o jornal vai me contando: que um barco de imigrantes... que não sei quantas mortes... que a Guerra da Síria...
Mas não se pode desistir .Por isso fica cada dia mais claro para mim que temos que sensibilizar muito as crianças para a compaixão e o amor, para a paz. Quero o bem do outro. Isso não é utopia, Isso pode acontecer hoje, a cada minuto.  

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

MAIS UM

Mais um Clube de Leitura nasceu, inspirado em nosso Clube de Leitura da Casa Amarela.
Silvane Silva , a ex Diretora da E.M.Hermann Muller, na zona rural de Joinville, me dá notícias:
O Clube se chama "Clube de Leitura do Ipê Amarelo" e o primeiro livro será A Alegria de Ensinar de Rubem Alves. O espaço é maravilhoso, a Agrícola da Ilha, do Seu Dario, um parque de tirar o fôlego e que abriga a minha hemerocallis, abriu as suas portas numa linda parceria.
Silvane convida todos os professores de Joinville . E no primeiro encontro haverá uma Oficina  de Danças Circulares.
Devo prevenir: Silvane faz malabarismos de transformação. Nada do que toca fica indiferente aos seus dedos verdes. Pude presenciar a sua maravilhosa pedagogia no que seria para mim uma das melhores experiências de Educação do Brasil.
Com certeza , esse Clube, dirigido pela Silvane, fará muita diferença na vida de cada participante.
Corram e garantam os seus lugares.
Contatos pelo MSN do facebook.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

SILÊNCIO

Preciso de silêncio para funcionar. Quase não consigo ouvir música aqui na beira do mar, pois o mar já é música, sua orquestra, totalmente encaixada no silêncio, ocupa a casa inteira . E a casa acompanha: as madeiras estalam e rangem, a casa quase oscila com o movimento das ondas.
E muitas vezes me deixo flutuar nesse silêncio maravilhoso. Aí os meus poemas acontecem.
Leio artigos interessantes sobre o silêncio. Como é necessário e urgente em nosso mundo tão barulhento e com excesso de estímulos.
Mergulhar no silêncio é uma grande experiência.
Às vezes estou na montanha e é outro tipo de silêncio, mais denso, mais palpável, mais grosso, menos esgarçado. Como se houvesse uma partitura do silêncio. Uma para cada lugar.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

DE OUTRA CIVILIZAÇÃO

Um anigo me diz: _ Você não existe, você é de outro planeta.
Confesso que sou sim de outra civilização.
Sou tão antiga que ainda uso caderno de telefone de papel .
Tão antiga que não gosto de ler na tela. Preciso do livro de verdade, seu cheiro, sua capa, sua textura.
Não sou apaixonada por  tecnologia.  Sei o mínimo para sobreviver neste mundo novo.
Claro que adoro o zap, assim tenho família e amigos perto de mim o tempo todo. Mas sou incapaz de jogar um joguinho, mesmo o mais simples possível com o meu neto. Expliquei isso a ele e então me disse:
_Fica tranquila, vovó, vou te dar um jogo bem simples.
E colocou na tela um ursinho para colorir.
Claro que adoro os avanços da medicina, que permitiu que minha coluna fosse reconstruída e eu pudesse viver sem dor.
Mas me sinto sempre meio à margem. Meio deslocada. Meio imigrante. Meio desajeitada. Meio de outra civilização.
Como um viajante com uma mala de madeira num aeroporto, quando deveria estar numa estação de  trem dos anos 50.
Mas dentro da mala carrego tesouros.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

TRANSBORDAMENTO

Amanhã recebo um grupo de 25 professores de Itaboraí, onde sou lida por mais de 80 escolas.

Ontem Pica Motta, que esteve presente em nosso encontro com as crianças, me disse que com as minhas ideias sobre educação, não caberia numa escola, transbordaria.
Mas ontem as crianças tiveram uma grande aula sobre vários temas, sentadas no chão, em cima de tapetes, brincando e cantando. E onde é que está escrito que a criança não pode ter uma aula assim?
Com certeza jamais se esquecerão do que aprenderam ontem.
E Marguerite Yourcenar, em seu livro De Olhos Abertos, tem ideias muito parecidas com as minhas. A criança tem que antes de tudo ter o sentimento do mundo.
Por isso adoro reeber professores no meu Café, Pão e Texto. Para que juntos a gente transborde.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CAFÉ, PÃO E TEXTO

Amanhã recebo mais uma escola na minha varanda para um Café, Pão e Texto.
Terei um convidado muito especial para as crianças, mas é surpresa, só conto depois que o encontro acontecer.
Esse Projeto é a maior fonte de alegria da minha vida e vai subindo morro, descendo morro, atravessando montanhas e mares, pois muita gente de longe gostaria de vir.
Hoje recebi uma mensagem de uma turma de professores de Goiânia, mas infelizmente não tenho a data que eles e elas desejavam. Porque também recebo turma de professores.
Nosso Clube de Leitura , que é um desdobramento do Café, Pão e Texto, vai receber em outubro, um convidado que vem direto de Salvador para cá.
E assim, me transformo em Ícaro sem deixar que minhas asas se derretam ao sol, me transformo em chuva benfazeja, em gota de orvalho, me transformo em árvore e semente. De pura felicidade. Não há nada melhor do que doar felicidade.
E talvez aconteça algum Café, Pão e Texto por aí.  O Café, Pão e Texto Itinerante . Quem sabe...
 

domingo, 11 de setembro de 2016

O QUE SOMOS

Não há nada que me comova mais do que o destino das crianças refugiadas.
Em outro país, geralmente hostil, outra língua, geralmente afastados da constelação que era a sua família, muitas vezes longe da mãe. como uma criança pode aguentar tanta dor?
Vi a foto de uma criança que tampava os olhos da sua boneca para que ela não visse a guerra.
Essa foto, junto com a do menino morto na praia, nos diz o que somos: a triste espécie humana.
E ao mesmo tempo, capazes de acolher, ajudar, consolar, amar.
Como resolver este enigma?  

terça-feira, 6 de setembro de 2016

POESIA É FICÇÃO?

Ontem conversando com Roger Mello , ele me diz, "...você que escreve ficção..." e eu disse, mas Roger, eu não escrevo ficção, um conto ou outro, mas escrevo mesmo é poesia."  E ele me responde:
"Mas poesia não é ficção? Tudo o que se inventa é ficção!"
Achei genial, porque ficamos presos a determinadas fórmulas e quando penso ficção não penso em poesia, mas em contos, romances, novelas. E aí vem o Roger e derruba tudo com um sopro.
Escrevo poesia, que também inventa mundos e sensações. Pronto, concordo, poesia também é ficção.
E então um poema do Borges, que realmente escrevia ficção e que oferece o ouro da sua poesia:

A UN GATO

No son más silenciosos los espejos
ni más furtiva el alba aventurera;
Eres, bajo la luna, esa pantera
que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
divino, te buscamos vanamente;
Más remoto que el Ganges y el poniente,
tuya es la soledad, tuyo el secreto.
Tu lomo condesciende a la morosa
carícia de mi mano. Has admitido
desde esa eternidad que ya es olvido,
el amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás. Eres el dueño
de un ámbito cerrado como un sueño.

Jorge Luis Borges - Obra Poética

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A ÁGUA DA ALEGRIA

Nas segundas feiras há que lavar o rosto com a água da alegria,para que a semana comece a funcionar.
Fiz então um poema:

A ÁGUA DA ALEGRIA

Abro os olhos
e deixo que a manhã,
luz por luz,
entre no quarto,
retire a noite
e suas teias
do meu corpo.
Mais um dia
nessa longa lista
de partidas
e chegadas.
Lavo o rosto,
nas mãos em concha
a água da alegria,
coo se fosse um rio.

Poema inédito.

domingo, 4 de setembro de 2016

GUAXUPÉ

Preparo a viagem para Guaxupé, Minas, onde sou a poeta da Feira Literária.
Parto amanhã e adoro aeroportos, repito com o Bandeira: "O aeroporto em frente me dá lições de partir."
É muito bom levar na mala uma cidade desconhecida e acontecimentos que ficarão na memória.
Já sei que a cidade está me recebendo com muito amor:
"Qualquer espécie de amor já e um pouco de saúde, um descanso na loucura." Nos diz Guimarães em Grande Sertão.
Setembro já navega em águas luminosas, cheia de encontros e viagens.