quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A MALA CHEIA DE LIVROS

Estou novamente arrumando a mala para a montanha, Visconde de Mauá. Viajo amanhã bem cedo e gostaria imensamente que já tivessem inventado algum meio de transporte mais , digamos, interessante.
São dois ônibus e um carro. Muito melhor seria ir de vassoura voadora ou quem sabe, teletransporte. A gente pensava aqui e já estava lá.
Levo a mala cheia de livros. Os Delírios para o lançamento dia 29 e os que estou lendo.
Ontem terminei de ler o Um Mapa Todo Seu, da Ana Maria Machado, sobre Eufrásia Teixeira Leite e Joaquim Nabuco. Uma mulher bem impressionante para a sua época. Então, este não preciso levar. Já está dentro de mim. Ontem passei o dia inteiro no século XIX. Era muito difícil ser mulher e Ana faz uma reconstrução preciosa desse tempo.
Mas comecei a reler Memórias de Adriano da Marguerite Yourcenar e estou AMANDO reler este livro maravilhoso.
Levo o livro do Rafael Cardoso, Os Remanescentes, que me fará mergulhar pela milésima vez em minhas raízes, pois é a história do seu bisavô, a história do Holocausto, dos refugiados. O livro O Inferno Dos Outros , do David Grossman,  escritor israelense, fantástico, de quem lemos no Clube de Leitura Alguém Para Correr  Comigo e finalmente os dois livros do Eça de Queiróz que vou reler para o nosso encontro do Clube no dia 17 de dezembro: A Relíquia e As Cidades e As Serras. Amo os dois.
A mala vai pesada. E estou tão feliz com o meu lançamento que será uma grande festa junto com a família e os amigos.

 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

AMIGOS

A Professora Jaline da Silva inventou um bingo para seus alunos com pedaços dos meus poemas . Mas há uma regra: todos os poemas falam de amigo.
Para mim a amizade é sagrada. É o vínculo mais forte que há. Uma paixão se apaga. Uma paixão faz sofrer. Mas o amor da amizade é feito de outra matéria. É uma chama que ilumina o dia e a noite, é uma âncora em porto seguro, é a árvore que quanto mais antiga,  mais maravilhosa. E algumas amizades , mesmo que novas, são antigas. Logo as recobre uma pátina de compreensão mútua.
Talvez por isso tenha feito tantos poemas sobre essa espécie de amor que é a amizade, onde a aceitação do outro sem que se queira modificá-lo é a única lei.
Tenho amigos de todas as espécies, de todos os jeitos. Sei que são meus amigos porque se preciso estão presentes, porque me adivinham, porque me amarraram com cordas fortíssimas nas linhas de suas mãos.
Grande parte dos meus amigos está longe. Mas o que é a distância se temos a telepatia, o coração e toda a tecnologia ?


AMIGO

que um amigo se reconheça
sempre
na face de outro amigo
e nesse espelho descanse
seus olhos
e derrame sua alma
como a crina de um cavalo
levemente pousada no vento

In Poesia Essencial, Ed. Manati

terça-feira, 22 de novembro de 2016

UM JARDIM DE PALAVRAS

Recebi os presentes mais lindos dos adolescentes da EMAFA de Cachoeiras de Macacu, alunos e alunas da Professora Jaline Silva, hoje, em nosso Café, Pão e Texto.
Eles criaram um jardim especialmente para mim.
Sãos os "Dez motivos para ofertar flores à Roseana Murray (se pudéssemos lhe ofertar flores para cada motivo que temos para amar você e a sua poesia, lhe daríamos...)

1 - Rosas... pela maneira sensível de você ver o mundo...
2 - Dálias... pela sua criatividade poética que nos envolve...
3 - Margaridas...pela sua generosidade em compartilhar conosco suas inspirações e sentimentos...
4 - Girassóis... por você ser uma pessoa que irradia energias positivas...
5 - Tulipas... por ser a poesia a sua verdadeira casa...
6 - Camélias... pela delicadeza com que escolhe as palavras que irão nos tocar
7 - Cravos... pela pureza de cada verso com o qual nos presenteia
8 - Lírios... por encontrar tanta riqueza na simplicidade cotidiana...
9 - Petúnias... por encher nossas vidas de um colorido especial...
10 - Orquídeas... por nos receber de braços abertos em sua casa e nos acolher com tanto carinho e infinita poesia.

Cantaram meus poemas, dançaram meus poemas, me encheram de amor.
A minha emoção é maior que o mar.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

UM ALMOÇO ESPECIAL

Para amanhã começo a preparar um almoço muito especial. Vou receber os alunos da Professora Jaline Silva, da oitava série, de Cachoeiras de Macacu. A E.M.Almerinda Ferreira de Almeida.
Essa escola encerra o Café, Pão e Texto de 2016.
Por ter recebido uma carta de uma aluna, onde todos os outros alunos assinam, com uma carga de emoção imensa, resolvi, ao invés do café da manhã, fazer um almoço de despedida, onde a varanda se transformará num restaurante, pois aluguei mesas e cadeiras.
É uma grande tarefa, receberemos mais de 30 pessoas. Mas virá uma merendeira para nos ajudar. E também alguns professores.
Um dos meus desejos para 2017 é que tenha escolas para que meu projeto possa continuar.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AMOR

Hoje um amigo me disse : o amor é a única vacina para esse tempo de tanto ódio.
E no entanto, todos queremos amor, todos queremos ser amados.
Quando fomos a Lanzarote, nas Canárias, eu e Juan, fazer uma longa entrevista com José Saramago, Pilar nos disse: "José escreve para ser amado".
É mais fácil amar que odiar. O ódio dá trabalho. Gera muita confusão nas oficinas do ser. Confusão e barulho.
O amor gera mergulho e silêncio e poesia.
Prefiro o amor.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

VIAGENS

Começam a se esboçar as primeiras viagens para o ano que vem.
Ainda são esboços, mas já trazem em seus traços o gosto da aventura, como ao olharmos uma pera na fruteira, já antecipamos seu gosto de nascente.
Então olho o mar e logo ali, atrás do horizonte, um Barco a Vela me espera, um Pégaso, um Tapete Voador.

BAGAGEM

Como desembaraçar
os fios,
os rios,
oceanos, montanhas,
as linhas do passado
e as teias do futuro?
Como entender
as setas
e os instrumentos
que afinam o tempo?
De que matéria,
de que vento
o mapa escrito
na pele,
na fronte,
onde a fonte
que acende as palavras?
Tudo,
as sombras,
as sobras,
são a bagagem do viajante?

Poema inédito.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

ESPANHOL

Somos uma ilha de português num mar de espanhol por todos os lados.
Cada vez que faço um Café, Pão e Texto, Juan, meu marido que é espanhol, diz: Buenos Dias e eles repetem.  E querem mais. ADORAM!!!
Todos sabemos que uma criança aprende uma língua brincado, de um minuto para outro.
Então fica a pergunta tão simples: Por que nenhuma criança sai falando espanhol das escolas quando termina a quinta série? Por que não sai falando nenhuma língua estrangeira?
Somos América Latina. Por que se optou por ensinar inglês e não espanhol, mas ninguém sai falando inglês tampouco?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

MACONDO

Chove em Saquarema como em Macondo.
Chove em Visconde de Mauá, onde mora a metade de mim, sem parar, desde muitos dias. Minha família fica enviando notícias. Caiu uma barreira na estrada Resende -Mauá.
A chuva tem um efeito hipnótico, como o fogo.
Mas enquanto o fogo nos acorda, a chuva constante nos adormece. Nos conduz para um estado de semi vigília, para o reino da nostalgia, as cores se apagam, há uma bruma que vai também apagando as fronteiras entre o que é hoje e o que é sempre. E parece que nunca , nunca mais, vai parar de chover. Faço um poema cedo de manhã e logo em seguida me mudo para Macondo, onde estou vivendo agora algumas horas do meu dia, enquanto releio maravilhada, Cem Anos de Solidão.Como disse meu grande amigo Cristiano Mota Mendes, As Mil e Uma Noites Caribenhas.

A chuva me diz memórias
que flutuam
por sobre os telhados
encharcados, escorregadios.
Me diz melancolia
e folhas pisadas
e as horas que escorrem
feito água
ninguém sabe para onde,
para que desvãos.
A chuva toca seus sinos
na manhã que ainda
é fino esboço quase aquarela.
E as mãos buscam sol.

domingo, 13 de novembro de 2016

POETAS

Alguns poetas nos acompanham para sempre, onde quer que estejamos, fritando um ovo na cozinha, andando no bosque, lendo sobre o massacre no Congo. E nos ajudam a viver.
Alguns poetas, entre os inúmeros poetas que amo, me chegaram da maneira mais linda.
 No que seria hoje o quinto ano, naquela época o último ano do ginásio, ganhei um livro de poemas do Vinicius da minha professora Rosa Hermann. Foi um grande encontro. Abriu meu coração para a poesia.

Muito jovem, quase menina, apareceu em minhas mãos, não sei como,  o Romancero Gitano do Lorca,  Era um livro bem pequeno com uma rosa vermelha na capa. Uma rosa que era um incêndio. E fiquei tão abalada com a musicalidade extrema da sua poesia, com as suas imagens maravilhosas-maravilhosas e inesperadas sempre.
Neruda me chegou pelas mãos da Bárbara Vicuña, uma chilena que abriguei em minha casa na época do Golpe . Ela me deu os 20 Poemas de Amor e Uma Cancão Desesperada. Sempre estive apaixonada por Neruda.
Assim que saiu o Poema Sujo do Ferreira Gullar, ganhei um exemplar da minha amiga Ana Cristina Chiara e este livro foi um dos maiores terremotos poéticos que já vivi.
E os meus outros poetas que vivem comigo, eu mesma fui ao seu encontro, como quem vai caminhando na rua e de repente acha um arco íris, a árvore mais intensa.

PRELUDIO

Las alamedas se van
pero dejan su reflejo.

Las alamedas se van,
pero nos dejan el viento.

El viento está amortajado
a lo largo bajo el cielo.

Pero ha dejado flotando
sobre los rios sus ecos.

El mundo de las luciérnagas
ha invadido mis recuerdos.

Y un corazón diminuto
me va brotando en los dedos.

Federico García Lorca


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

DELÍRIOS

Lá em Recife, quando da primeira apresentação do meu livro tão pequeno, Delírios, com William Amorim, que fez uma leitura psicanalítica dos poemas, para a inauguração da Casa Azul, de Joana Cavalcânti, eu disse que tudo começa com um Delírio. Algo que se sonha antes que aconteça ou não.
Fui escrevendo esses poemas ao longo dos dias e meses, sem pensar que estaria fazendo um livro. Mas depois os juntei, como se fossem um ramalhete de flores ou um feixe de trigo e sonhando na vigília, delirei: E porque não fazer um e book e porque não fazer um livro artesanal, construído devagarinho, com uma capa de pano? Então Domingo Gonzalez, que eu não conhecia apareceu para fazer o livro. E minha irmã Evelyn Kligerman fez placas incríveis de cerâmica para fazer os desenhos do ebook. E sabendo que não encontraria uma editora para os poemas, levei a tarefa adiante.
O livro está pronto. Hoje Domingo me entregou os últimos exemplares dos 50 que encomendei.Tenho que escrever o título e meu nome à mão , em cima da capa verde de algodão. O livro cabe no bolso, na bolsa, mas seus poemas são fortes, latejam.
E continuei delirando. E por que não fazer o lançamento no Babel Restaurante, com meu filho André Murray preparando o coquetel? O restaurante estará fechado e podemos usar o seu espaço para isso.
E pedi ao Centro Cultural de Visconde de Mauá que levasse o Coral, porque para o meu delírio ficar completo preciso ouvir a música Celador de Sueños . E Márcia Patrocínio me disse que sim. Só fica faltando meu filho Guga Murray e seu magnífico violão, pois como o lançamento cai numa terça-feira, dia 29 de novembro, Guga não pode ir, pois estará dando aula.
Em nossa família de artistas gostamos de trabalhar juntos. É um prazer imenso saber que a música, a poesia, a comida e a cerâmica, nessa família, estão bem entrelaçadas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

E.M.JOÃO BAPTISTA CAFFARO

Vou começar a história pelo fim. O encontro das crianças com o mar.
Muitas crianças da E.M.João Baptista Caffaro, nunca haviam visto o mar.
Hoje, especialmente, o mar havia feito uma piscina imensa e as crianças não aguentaram de felicidade.
Foi para elas uma experiência extraordinária.
Sabiam tudo da minha vida, lemos muitos poemas brincando, comemos e rimos.
A manhã passou voando e agora vive na mala das lembranças inesquecíveis, dentro de cada um.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

TRUMP

Como acalmar o coração sabendo que Trump, eleito Presidente dos Estados Unidos, afina a sua voz com os grandes ditadores do planeta de todos os tempos, o seu talento histriônico e seu gestual nos lembram Mussolini e o conto Mário e O Mágico do Thomas Mann?
Para onde nos levará, se sua música são os muros, as armas, a expulsão do diferente e seu discurso traz os ecos dos piores nacionalismos?
O mundo já caminhava a passos largos para a destruição. Mas agora, com o ódio como bandeira, há um abismo desconhecido sem passagem de volta.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

MISTURINHA

Misturar crianças da Educação Infantil com primeiro, segundo e terceiro ano dá certo?
Deu certíssimo hoje no Café, pão e Texto da E.M.Outeiro das Pedras, de Itaboraí. Bem que a Paula Botelho, Diretora de todas as boas idéias de leitura de Itaboraí tinha me avisado.
As crianças me fizeram tantas declarações de amor , que saí do planeta , alcancei a lua e agora navego nos anéis de Saturno.
Eu realmente poderia abrir uma loja de suspiros de felicidade, pois hoje suspirei umas 3000 vezes.
Brincamos, rimos, cantamos. As professoras Sabrina, a Diretora Maria do Socorro, Jussara, Suely, Suzana, Gisele, Maria de Fátima, a Supervisora de alunos Adriana Silva e o Professor Lucas , (acho que não esqueci ninguém) acompanhavam as crianças. Minha amiga, também professora, Prica Mota, veio. E vieram 3 convidadas e um marido, alunas de pedagogia da Faculdade Veiga de Almeida de Cabo Frio.Luana, Elisângela e Ana Paula. O marido era o Rubens.
Hoje as crianças brincaram horas no jardim antes de partir. E se encantaram com as árvores de cravo e canela.
Samuel e Vanda, incansáveis na produção do Café junto comigo.
E ninguém queria r embora. Todo mundo queria morar aqui. Para Sempre.

sábado, 5 de novembro de 2016

CHUVA

Chove sem parar aqui na montanha. A época das águas. Frio e neblina.
Amo esse tempo de hortências, fogo para aquecer a casa, livros e novos poemas. Mas hoje é meu último dia aqui. O tempo escorre como a chuva que cai e desaparece entre a terra. O tempo que nos encharca de afetos, amores, perdas e ganhos.
Construo devagarinho uma nova coletânea de poemas. A poesia é a minha verdadeira casa.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

NA MONTANHA

Estar na montanha desmancha o tempo. Quando chego parece que sempre estive aqui, desde sempre.
No livro que estou lendo, do Manguel, A Cidade das Palavras, ele fala do conceito de tempo entre os esquimós e é assim que sinto o tempo: Imóvel . Nós é que nos movemos, para frente, para trás, em círculos. E quado uma história é contada, mesmo que seja tão antiga, que tenha mais de mil anos, o ouvinte está lá, naquele tempo.
Então, nós, leitores, temos a capacidade de sim, viajar no tempo e no espaço, pois vivemos em mundos paralelos. E o tempo não pode ser dividido, claro que não.
Aqui, na montanha, eu flutuo na pele do tempo.