segunda-feira, 20 de março de 2017

OUTONO

Amo o outono. Que poeta não ama?
Passei um outono no Canadá em 1972.
Passei dois meses em Toronto.
Meu ex marido fazia um curso.
Eu quase enlouqueci de tanta beleza com os parques no outono. Com os esquilos comendo na mão da gente.
Amei o Canadá de paixão perdida. Teria ficado lá se pudesse. Vi uma Universidade dentro de um parque . Eu tinha 20 anos e sonhei um sonho assim: e se estudasse aqui? Fizesse literatura dentro deste parque?
Tentamos. Chegamos a pedir os papéis, mas a vida deu um nó cego e não pudemos ir.
Quem sabe o que teria acontecido se tivéssemos conseguido? Escreveria meus poemas em inglês? Seria uma poeta lida? Teria me separado e casado com um canadense ao invés de me casar com meu marido espanhol?  Meu segundo filho seria canadense...
O outono é a estação do se... das reticências...dos devaneios..


Chega o outono
com vento e chuva
e pincéis que tudo
apagam
quando as cores
se desmancham
em cinza e neblina.
O outono escreve cartas
ao coração,
estação de onde partem
os trens abarrotados
de poemas e suspiros,
amores abandonados,
folhas de cadernos
com sua caligrafia miúda,
que vieram
de outros tempos.
O outono diz aos poucos
os seus segredos.

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