quinta-feira, 8 de março de 2018

Dona Maria

No Dia Internacional da Mulher quero evocar a minha amiga camponesa D.Maria, que me ensinou a fazer pão.
Ela não deixou nenhuma obra de arte, não descobriu nada, mas talvez seja o símbolo das mulheres silenciosas do seu tempo. Se estivesse viva teria uns cem anos.
Passei horas e horas sentada na beira do seu fogão de lenha em Visconde de Mauá, no Vale do Pavão, ouvindo as suas histórias, ouvindo a sua vida que não era nada fácil.
Criou muitos filhos, 14 ou 16, não sei. Naquela época os partos eram em casa.
Seu marido podia ser violento quando bebia.
Perdeu dois filhos já adultos. Um por suicídio.
Mas carregava suas dores mansamente, sem uma queixa, com a doçura de um bezerro.
Tinha uma pequena horta. As galinhas entravam na cozinha.
Sempre me acolheu com café, pão quente que fazia pra vender e sustentar a casa e que nunca me deixou pagar.
Sempre saía da sua casa mais rica e aquecida.
Ela era o pilar e o esteio daquela família imensa.
No fim da vida me disse que os filhos queriam levá-la para a cidade, mas ela queria morrer na sua casa.
A vida e a morte para ela estavam tão entrelaçadas que eram a sua grande sabedoria.
Hoje, quando passo por seu casarão fechado sinto uma grande saudade.
Ela era puro amor e aceitação.
Minha homenagem a essa mulher que representa um tempo bem próximo de nós onde dizer sim e aceitar era a regra. Ainda bem que não é mais assim. Mas ainda é em muitas casas, em muitos lugares do mundo. E porque não é mais assim os homens matam.
D.Maria não sabia ler nem escrever.
Mas leu meu coração naquelas horas diante do fogo enquanto nós duas dividiamos as nossas vidas.

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